Morreu neste domingo, aos 93 anos, o empreiteiro Murillo Mendes, filho do fundador da construtora Mendes Junior, José Mendes Junior, criada em 1953 e que foi pioneira na internacionalização das empresas brasileiras do setor durante o chamado período do milagre econômico, nos anos 70, período da ditadura militar. Murillo Mendes estava à frente da companhia até um ano atrás, quando, por decisão da família, se afastou do comando diário, mas sem perder a influência e a presença na definição dos rumos da empresa.
Segundo amigos próximos, ele foi vítima de enfarto e a família se despediu dele numa cerimônia íntima, da qual teriam participado apenas as duas filhas e os netos, seguida do enterro em Belo Horizonte. Ele havia perdido a mulher, Lúcia Mendes, há dois meses.
A morte de Murillo Mendes, para o advogado José Murilo Procópio de Carvalho, responsável pelo plano de recuperação judicial da Mendes Junior, representa o fim “de uma reserva da intelectualidade de Minas, do empreendedorismo e da moralidade no estado”.
Aprovado em abril deste ano, o processo de recuperação judicial da empreiteira acusada de envolvimento nos esquemas de corrupção investigados pela Operação Lava-Jato foi suspenso no começo de junho por decisão liminar do Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG). Agravo de instrumento apresentado pelo Bradesco S/A e o Bradesco Cartões S/A, e acatado pelo desembargador Kildare Carvalho, questionou alguns pontos da proposta da empresa já homologada.
Em assembleia, os representantes dos 3.300 credores da Mendes Junior Trading e Engenharia aprovaram o plano de recuperação judicial em abril, incluindo a negociação de uma dívida total estimada ao redor de R$ 400 milhões. As indenizações trabalhistas a 1.895 ex-empregados somam cerca de R$ 36,6 milhões. Os outros R$ 735 milhões são créditos contratados junto a grandes credores, instituições financeiras e fornecedores, a exemplo da Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig).
Murillo Mendes protagonizou uma verdadeira batalha jurídica contra a União, ao cobrar indenização bilionária, no fim dos anos 90, pelo suposto atraso de pagamentos referentes a obras contratadas pela Companhia Hidrelétrica do São Francisco (Chesf). Antes disso, a companhia já havia também recorrido aos tribunais contra o Banco do Brasil (BB) em razão de prejuízos que a empresa sofreu na execução de obras no Iraque, cujos pagamentos foram afetados depois da Guerra do Golfo. Mendes cobrava quase US$ 1 bilhão sob o argumento de que obrigações contratuais não foram cumpridas e que o BB havia "arruínado o crédito da companhia". Cerca de US$ 420 milhões se referiam a dívidas do governo iraquiano com a construtora assumidas pelo BB.