Pelo sexto pregão consecutivo, o dólar comercial fechou nessa quarta-feira (22) em alta no valor de R$ 4,0559 na venda, maior nível desde 16 de fevereiro de 2016. Na terça-feira, a moeda norte-americana encerrou o dia ultrapassando os R$ 4, pela primeira vez em 30 meses.
Porém, no caso de Minas, há algumas peculiaridades que fazem com que alta seja vista com bons olhos por alguns setores como a mineração e o do café podem ter no mercado internacional o preço mais competitivo.
Segundo o economista Paulo Vieira, a alta do dólar tem influência direta na economia porque mesmo se os produtos não são importados, eles se tornam mais caros, a moeda influência o preço do petróleo e com isso acaba afetando todo mundo. “A alta tem influência direta na vida do brasileiro. Quando o dólar aumenta você pode esperar imediatamente uma alta do petróleo e o país sendo dependente do transporte terrestre o preço vai ser repassado”, afirma.
Ainda de acordo com o economista, o efeito desse tipo de elevação muito drástica é diluída na vida das pessoas e das empresas porque os produtos, mesmo não sendo diretamente importados, possuem componentes que são e isso impacta no valor final praticado. “Você pode esperar uma alta no pão e trigo, por exemplo, as roupas tem partes que são importadas e até mesmo o preço das frutas pode ser impactado”, diz. Todo esse quadro, de acordo com Vieira, tem reflexo imediato nos índices inflacionários e traz reflexos para a economia como um todo. “Agora cabe a autoridade monetária, o Banco Central atuar para revolver e minimizar os impactos”, analisa.
Nas companhias
No caso especifico da economia mineira, o economista acredita que alguns setores podem ser beneficiar com o dólar nos patamares atuais. “Minas é um estado exportador, a gente exporta minério. Assim, os compradores mundo afora vão ter que desembolsar menos para comprar os produtos. Caso do minério e do café, por exemplo”, afirmou. Apesar disso, esse tipo de variação muito brusca causa problema na projeção das empresas. “Um empresário que avaliava ter uma dívida em dólar passa, de um dia para o outro, a dever bem mais”, declarou.
Contudo, ele aposta que nos próximos dias o mercado deve se acalmar e os valores devem ficar mais estáveis, podendo até recuar. “É comum no mercado toda vez que ocorre essa largada da corrida presidencial, com a publicação das primeiras pesquisas de intenção de voto, haver essa reação forte, mas ele acaba se estabilizando em alguma medida. Isso porque o mercado não gosta dessas variações”, pondera.
Por outro lado, o presidente da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), Flávio Roscoe, afirma que quando a alta ocorre de forma controlada é até benéfica para a economia no médio e longo prazo. “O real é uma das moedas mais valorizadas do mundo. Então, quando ocorre essa valorização do dólar ela beneficia a economia”, afirmou. Sobre as recentes altas da moeda norte-americana, ele destaca que quando ela ocorre de forma especulativa ela “machuca” tanto o setor produtivo como o de importação e, nestes casos, cabe ao Banco Central atuar. “Para isso nós temos a autoridade monetária. Estruturalmente na economia nada mudou que justificasse essa alta. Por isso, nos últimos meses a autoridade monetária acumulou dólares para atuar agora no mercado”, analisa.
Vinhos e viagens tem queda nas vendas
“Momentos difíceis”, afirma José Maria Carvalho, representante da importadora de vinhos Mistral em Minas Gerais. Ele explica que, desde 2016, quando a alta no dólar se acentuou, a situação da empresa vem piorando. “De uns três meses para cá, estou trabalhando com 12% a menos de receita por causa da alta no dólar. É Sempre prejudicial. Quase todos os vinhos que trabalhamos são importados”, diz.
A cotação da moeda norte-americana, porém, não interfere apenas na compra dos produtos, explica.
“Custos com energia e transporte também estão altíssimos”, diz. Apesar disso, Carvalho acredita que o valor do câmbio deve se normalizar até o fim do terceiro trimestre deste ano. “É parte da insegurança política no Brasil hoje, mas deve se arrastar até setembro e depois acredito que os valores vão se tranquilizar”, afirma.
José Maurício Miranda Gomes, presidente da Associação Brasileira de Agências de Viagens de Minas Gerais (ABRAV) afirma que o setor “já está sentindo” os impactos da variação no preço do câmbio. “Aqueles que querem comprar uma viagem ficam inseguros”, diz. Ele explica que, para as agências de viagens, mais prejudicial que a alta na moeda americana, é a variação do valor.
“Se fosse só a alta, ainda seria melhor. A pessoa que vai viajar, com o dólar caro, pelo menos consegue se programar. Mas, com as grandes variações diárias que estamos observando, o cliente não sabe o quanto vai pagar”, afirma. José Maurício conta, ainda, que há uma reação em cadeia no mercado. “As companhias aéreas sofrem, o setor de manutenção, o transporte. Há impacto nos voos internacionais e nos nacionais. É uma cadeia”, argumenta. “As consequências são instantâneas e já estamos sentindo. As pessoas param de nos procurar”, diz.
“O impacto é muito forte”, afirma José Batista de Oliveira, presidente do Sindicato da Indústria da Panificação de Minas Gerais (SIP). Ele explica que o setor é especialmente prejudicado com as altas no dólar porque, no Brasil, metade do trigo que circula no país é importado.
Entretanto, Batista diz que as variações mais recentes ainda não afetaram a indústria panificadora e que o maior prejuízo vem das altas recorrentes nos últimos meses. “Como esse efeito já acontece há algum tempo, o impacto é grande. Além do câmbio, também houve o fato de o preço do trigo no mercado internacional ter aumentado”, aponta. Para o presidente do SIP, a situação política pode “trazer um refresco” para o valor do câmbio, mas também pode piorar. “Depende das pesquisas e do candidato eleito”, defende.
Mercado nervoso
O dólar teve ontem, sua sexta alta consecutiva, avançando ainda mais no patamar dos R$ 4, num movimento mais uma vez atribuído ao desconforto do investidor com o cenário eleitoral. A moeda americana no mercado à vista fechou com valorização de 0,49%, aos R$ 4,0614, maior valor desde 16 de fevereiro de 2016 (R$ 4,0707). Em seis pregões de alta, a divisa acumula ganho de 5,16%. Na máxima do dia, registrada pela manhã, a cotação chegou aos R$ 4,0912 (+1,23%). À tarde, a cotação teve importante desaceleração, que coincidiu com a divulgação da ata da reunião do Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA), que sinalizou para a manutenção do gradualismo na condução da política monetária dos Estados Unidos, o que beneficiou moedas de países emergentes em geral. A valorização contínua do dólar, levemente superior a 22% neste ano, deixou o mercado acionário brasileiro mais atrativo aos olhos dos investidores, principalmente, os não-residentes no país. Diante das pechinchas, a cautela pelas incertezas com a corrida eleitoral ficou para o segundo plano. No entanto, a despeito da alta de 2,29%, aos 76.902,30 pontos, os investidores não tomaram grandes posições. O giro financeiro foi de R$ 9,8 bilhões, perto da média do mês.
* Estagiário sob supervisão de Marcílio de Moraes