Jackson Hole (EUA) – Diante da crescente concorrência do comércio on-line, os varejistas têm sido mais rápidos ao promover reajustes de preços, de acordo com nova pesquisa apresentada no simpósio anual de Kansas City, ontem, em Jackson Hole. Ao mesmo tempo, segundo o professor da Harvard Business School Alberto Cavallo, responsável pelo estudo, os varejistas têm se mostrado mais dispostos a manter o mesmo preço para diferentes regiões. Essa estratégia poderia tornar os preços do varejo mais sensíveis a choques de imposição de tarifas de importação ou aos preços do petróleo do que em período anteriores, conclui o estudo.
A imprensa tem se concentrado na força deflacionária do varejo on-line, o chamado ‘efeito Amazon’, que tem levado à queda nos preços de bens de consumo. Cavallo seguiu um caminho diferente em sua pesquisa, que examina o comportamento dos preços na ‘Era Amazon’. Afinal de contas, o efeito deflacionário do varejo on-line poderia eventualmente seguir seu curso porque a margem de lucro tem só diminuído, escreveu Cavallo.
Cavallo descobriu que a frequência de mudança de preços em multicanais de varejo – os que vendem on-line e em lojas físicas – tem crescido ao longo da última década. A média de duração para uma mudança regular de preços, excluindo descontos temporários e liquidações, que estava em 6,7 meses entre 2008 e 2010, diminuiu para 3,7 meses entre 2014 a 2017. A maior frequência no reajuste de preços, além disso, é particularmente observada em setores em que os varejistas on-line estão concentrados, tais como eletrônicos e bens domésticos.
Cavallo também avaliou como as gigantes varejistas – Amazon, Walmart, Best Buy e Safeway – estabelecem seus preços em diferentes pontos de venda. No caso da Amazon, por sua origem exclusivamente de varejo on-line, os preços apresentam maior uniformidade. O professor encontrou, porém, um segmento no qual os varejistas com predominância de operações físicas mantiveram preços semelhantes aos da Amazon. Negócios da área de bebidas e comida, descobriu Cavallo, são os que apresentam os preços mais geograficamente dispersos. “A transparência da internet impôs uma limitação na capacidade dos varejistas com lojas físicas de estabelecer preços de acordo com a localização”, afirma Cavallo no estudo.
A pesquisa sugere que os varejistas que são rápidos em ajustar preços e estão mais dispostos a cobrar o mesmo valor em todos os seus pontos de venda vão reagir mais rápido aos choques, tais como a imposição de tarifas de importação mais elevadas ou mudanças no preço do petróleo. “Os resultados também sugerem que os preços do varejo estão menos protegidos a esse tipo de choque do que no passado”, disse Cavallo.
DESAFIO PARA BANCOS CENTRAIS
Avanços na tecnologia digital são bons para a economia, mas são difíceis de mensurar e geram incertezas para os responsáveis pelos rumos da política monetária, disse o presidente do Banco Central do Canadá, Stephen Poloz. Em discurso durante o 42º simpósio anual organizado pela distrital de Kansas City do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), em Jackson Hole, Poloz afirmou que a tecnologia digital deve criar novos empregos e impulsionar a produtividade, beneficiando a economia como um todo. Mas esses avanços também vão produzir novos desafios para os bancos centrais, afirmou, porque ainda não está claro até que ponto a digitalização é capturada nos dados econômicos que os especialistas do BC confiam.
“Nossas economias começaram a retornar ao normal depois do trauma da crise financeira global”, disse Poloz. “Mas o processo de normalização da taxa de juros tem sido muito mais gradual” do que os modelos econômicos tradicionais poderiam sugerir. Diante do crescente nível de incerteza, assumir uma aproximação gradual no uso dessa tecnologia para o estabelecimento da política monetária é uma “maneira óbvia de gestão de risco”, disse Poloz. O Banco Central do Canadá elevou os juros por quatro vezes desde 2017 e a expectativa é de que anunciará mais uma elevação antes do fim do ano. Poloz diz que o BC assumiu uma abordagem gradualista para levar os juros de volta aos níveis considerados normais e monitora os indicadores econômicos de perto.
A próxima reunião do BC do Canadá para decisão sobre os juros está marcada para 5 de setembro. Dados recentes mostram que o principal índice de inflação do país subiu para 3% em julho, aumentando especulações sobre um possível aumento nos juros em setembro. Em entrevista à CNBC, Poloz afirmou que a inflação foi pressionada em julho por fatores transitórios, tais como preços da energia e mudanças na taxa de câmbio.