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Estado de Minas ENTREVISTA

"Torcemos para o fim das indefinições", diz Frederico Pedreira

Para executivo, custos, câmbio e eleições afetam planos de expansão das empresas aéreas


postado em 15/10/2018 06:00 / atualizado em 15/10/2018 08:35

(foto: Avianca/Divulgação)
(foto: Avianca/Divulgação)

São Paulo – A desvalorização do real e o aumento dos preços dos combustíveis têm sido até agora os dois principais empecilhos aos planos de crescimento das companhias aéreas brasileiras. No caso da Avianca Brasil, mesmo que sob pressão desses dois fatores, a previsão da empresa é aumentar em 25% o número de passageiros transportados neste ano, frente ao desempenho de 2017.

Mantido o nível do câmbio a partir de agora, e diante das  eleições, Frederico Pedreira, presidente da operação brasileira da Avianca, avisa que o aumento no valor das passagens será inevitável e poderá ocorrer ainda neste ano, a despeito de seus reflexos na demanda.

Nesta entrevista aos Diários Associados, o executivo, formado em engenharia aeroespacial pela Universidade de Lisboa e a francesa Supaero, conta como o mercado brasileiro de aviação vem se comportando num ano difícil e como a companhia deve se movimentar em relação à tendência crescente no setor: as alianças estratégicas com grupos internacionais, como a que vem sendo costurada agora com a Avianca do Brasil.

O executivo tem mais de 10 anos de experiência na aviação comercial, com passagem pelas áreas financeira, de estratégia e de projetos da Avianca Holdings (Colômbia) e da TACA Holdings (El Salvador).

Este ano tem se mostrado melhor para a aviação. A própria Avianca aumentou sua participação de mercado. Até o fim do ano a companhia conseguirá avançar mais?

Neste ano, por um lado, estamos vendo um crescimento da demanda, mas por outro o custo do combustível e o impacto do dólar na operação tem complicado muito nos últimos quatro meses. Para se ter uma ideia, desde abril o combustível encareceu quase 40%.

Será preciso repassar o aumento de custos para as passagens?

Sem dúvida, se as condições continuarem assim o aumento será inevitável. No acumulado no ano, a tarifa aérea aumentou menos que a inflação. Nos últimos dois a três meses, os preços subiram um pouco, mas infinitamente menos do que os custos das companhias aéreas. Em um primeiro momento, as empresas tentam absorver essa alta de custos, mas não há fórmula mágica. Se a situação continuar assim as passagens vão ter de subir. O combustível no Brasil é um dos mais caros do mundo e representa cerca de 35% dos custos de uma empresa aérea.

Quando o aumento deverá ser aplicado?


Sou um eterno otimista. Uma vez passadas as eleições, seja qual for o resultado, o real, ante o dólar, vai voltar a níveis um pouco mais favoráveis. Outubro vai ser muito importante para definir como será essa nova realidade pós-eleitoral.

Qual é a projeção que a companhia está fazendo em relação ao dólar?


Estamos trabalhando com dois cenários para o próximo ano, um com o dólar a R$ 3,70 e outro a R$ 4,10.

Com uma variação tão grande projetada para 2019, existe chance de haver impacto na oferta de voos?

Eu não diria que poderia haver uma redução de voos, mas sim repensar o rumo do crescimento, porque a confiança no avanço do setor acaba diminuindo.

Até que ponto influencia qual partido político assumirá a Presidência do país em 2019?
O que faz diferença para nós é terminar essa fase de incertezas. Mais do que o candidato eleito, torcemos mesmo para o fim do período de indefinição.

Quais efeitos a entrada de companhias aéreas internacionais de baixo custo no mercado brasileiro pode provocar? Haverá guerra de preço?


Sinceramente, é algo que não me preocupa. Há sempre uma sensação de que a passagem aérea é cara no Brasil. Comparando tarifas médias no Brasil na Europa, a diferença não é muito grande. O valor médio de uma passagem no Brasil é de R$ 300, o que dá 60 euros. Preocupa muito mais saber como será o crescimento econômico no próximo ano e como estará o dólar.

Mas existe diferença grande entre o poder aquisitivo do brasileiro e do europeu...

Por isso, há uma oportunidade imensa de o setor crescer no Brasil. Basta ver como esse custo médio de passagem tem evoluído no Brasil nos últimos 15 anos, quando a tarifa média era de cerca de R$ 600 e hoje caiu praticamente pela metade.
 
As empresas de baixo custo conseguirão oferecer preços competitivos?

Nossos preços já são altamente competitivos e nesse momento nenhuma companhia aérea com uma operação rentável conseguirá alterar as tarifas médias aplicadas no Brasil, até porque o país já é um mercado muito competitivo.

As fontes adicionais de receita, como a taxa para despachar bagagem e para reservar assento, já têm participação significativa para a companhia?

Hoje, ainda representam muito pouco para a Avianca, comparado ao que ocorre em mercados mais maduros. Mas isso vai ser uma tendência porque permite customizar melhor a oferta para o passageiro. Quem não quiser despachar uma bagagem pode comprar determinado tipo de tarifa, enquanto quem quer despachar vai comprar outro tipo. Vimos nesse último ano que, se o passageiro quer viajar sem bagagem, ele dificilmente pagará depois para despachá-la no aeroporto.

Mas a tendência é de que os preços aumentem a uma velocidade maior no caso dos serviços já oferecidos ou que surjam novos serviços?


Falando pelo setor, não como Avianca, a tendência é de que vejamos mais serviços, com a customização crescente, o que vai permitir que se ofereça mais tarifas promocionais aos passageiros. Mas só é possível saber quanto as tarifas podem cair à medida que tivermos uma ideia de como a oferta no mercado brasileiro irá de comportar.

A Avianca se posicionou contra a joint-venture entre os Correios e a Azul. Qual é a razão?

Neste momento, eu não posso falar muito sobre o assunto porque é um processo que ainda está correndo. O fato é que nós temos dúvidas sobre como o processo foi realizado, porque ninguém mais foi consultado.

A dúvida é quanto à razão de os Correios não terem aberto esse processo a outras companhias aéreas?

Exatamente. Infelizmente é algo que não está nas minhas mãos, mas eu espero que sim, que haja abertura para um diálogo.

Num momento em que o comércio global está em xeque, devido à animosidade entre Estados Unidos e China, que tipo de ganho se pode esperar de alianças globais entre as companhias aéreas? A Avianca Holdings, a Copa Airlines e a United Airlines estão negociando. A Avianca Brasil poderia fazer parte dessa aliança?

Esse é um movimento natural do mercado, visto em outras partes do mundo. Olhando para frente, quando penso nas Américas, acredito que dentro de pouco tempo teremos três grandes grupos mais alinhados, que representam as alianças globais, ou seja, One World, Sky Team e United. Estamos vendo isso entre Estados Unidos e Europa, por exemplo, por meio de joint-ventures. E naturalmente as empresas se aproximam dos parceiros das alianças das quais fazem parte. A parceria mais avançada nesse momento é entre a American Airlines e a Latam. Outra é entre a Gol e as empresas da Sky Team e a terceira é entre a Avianca e as empresas alinhadas com a Star Alliance.

No caso da Avianca Brasil, a empresa segue o que for decidido pela Avianca Holdings?

São dois processos totalmente diferentes. Uma é a Avianca Brasil, já a outra trata do espectro da América Latina com os Estados Unidos. Acredito que em breve veremos uma parceria estabelecida para Estados Unidos e América Latina como um todo.

As negociações envolvendo a Avianca Brasil já começaram?


Sim, já estão ocorrendo, mas não acredito que seja algo para este ano, porque são discussões longas. Mas é algo que vamos anunciar na primeira metade do próximo ano, com certeza.

Por que a fusão entre Avianca Brasil e a Avianca Holdings ainda não ocorreu?

No longo prazo, a tendência é nos alinharmos cada vez mais, seja por meio de parcerias comerciais, como já temos hoje, ou joint-ventures. Atualmente, tanto a Avianca Brasil quanto a Avianca Holdings têm vários projetos que estão tomando muito tempo. Não há uma urgência de fazer no curto prazo. No caso da Avianca Brasil, a expansão internacional é algo que tem demandado muito tempo. É uma tendência, ocorrerá no médio a longo prazo e não ocorreu até hoje porque os estágios das duas empresas são diferentes.

Como executivo de uma grande companhia, e cidadão, qual é a expectativa para 2019?


Vimos, por exemplo, que muitos projetos de infraestrutura acabaram sendo adiados, o que afeta o setor. Gostaria do retorno ao crescimento econômico em níveis mais saudáveis da política cambial no Brasil, fator que mais impacta a empresa. Depois disso, é claro que há vários pontos importantes para a aviação. Esperamos um governo que entenda a necessidade de tornar as práticas da aviação brasileira mais alinhadas com as internacionais. Além disso, enquanto tivermos um dos combustíveis de aviação mais caros do mundo, em tributação de ICMS (Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços), isso vai provocar peso muito importante para o setor. Não faz sentido que um voo de São Paulo para Salvador seja mais caro do que um voo de São Paulo para Buenos Aires. Nesse trecho nacional, paga-se 25% de ICMS sobre o combustível. Já no voo para Buenos Aires, a tributação é zero.


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