Rio de Janeiro – A Gol Linhas Aéreas Inteligentes anunciou reorganização societária, que vai unificar suas classes de ações, listar a companhia no Novo Mercado e incorporar a Smiles, seu programa de fidelidade. Numa decisão que enfureceu os acionistas minoritários da Smiles, a Gol informou que não vai renovar seu contrato com a empresa de fidelidade – que só vence em 2032 – e afirmou que trazer a Smiles para dentro de casa está em linha com a estratégia de outras aéreas, como Air Canada, Aeromexico e Latam.
O anúncio de que a Smiles vai sair da bolsa encerra uma das trajetórias mais bem-sucedidas do mercado de capitais brasileiro. Desde seu IPO (Oferta Pública Inicial de Ações na tradução para o português) em abril de 2013, a Smiles retornou 288% – ou cerca de 28% ao ano –até o fechamento de quinta-feira. Para efeito de comparação, o Certificado de Depósito Interbancário (CDI) no período rendeu 74,7%, ou 10,7% ao ano.
Todo o processo de reorganização deve durar cerca de três meses, e terá que ser aprovado pelos acionistas minoritários de ambas as empresas. A relação de troca, o mix das ações que serão dadas em pagamento e as condições de resgate das ações serão negociados entre a Gol e um comitê independente a ser formado por conselheiros da Smiles. A expectativa é de que os investidores que não quiserem ser acionistas da nova Gol poderão escolher receber apenas em ações resgatáveis.
Em seguida, a Gol absorverá a Smiles por meio de um aumento de capital. Não haverá emissão de ações ou capital para trazer dinheiro novo para a Gol. Independentemente dos termos a serem definidos, um gestor criticou a incorporação. “Os acionistas da Smiles dormiram sócios de um negócio ultra rentável e acordaram sócios a fórceps de uma companhia aérea, um negócio com resultados ultra voláteis”, disse. No fechamento da bolsa de quinta-feira, a Smiles valia R$ 6,4 bilhões. Já a Gol, que é dona de 52,6% da Smiles, estava cotada por R$ 4,7 bilhões.
Divórcio
A direção da Gol disse que está se esforçando por um divórcio amigável, mas, em caso de fracasso nas negociações, se reservou o direito de fazer uma oferta pública para a Smiles. “Ainda que isso pareça uma má notícia, a verdade é que estamos nos sentando à mesa para negociar um acordo justo para todos”, disse o diretor financeiro, Richard Lark, na teleconferência.
Outro gestor ligado à companhia não está nada satisfeito. “Vamos ser claros sobre o que está acontecendo. Ninguém anuncia um negócio que vai acontecer daqui a três meses sem definir um preço. Estão fazendo isso para deprimir a ação. Num processo normal, eles anunciariam um preço e o mercado negociaria em cima disso”, declarou.
Com a Smiles dentro da Gol, a companhia aérea vai converter todas as suas ações preferenciais em ordinárias e se listar no Novo Mercado. Como as ações preferenciais da Gol listadas têm poder econômico 35 vezes maiores que as ações ordinárias, para manter esse “super poder” econômico na nova Gol (que será listada no Novo Mercado), cada ação preferencial atual fará jus a 35 ordinárias.
Não está claro quanto a família Constantino, dona da Gol, terá do capital da empresa depois da reorganização, porque isso dependerá do valor de incorporação da Smiles, que ainda será negociado com o comitê independente e afetará o número de ações preferenciais a serem emitidas. O Bank of America Merrill Lynch e o BMA – Barbosa Müssnich Aragão assessoraram a Gol na reorganização.