São Paulo – O encontro entre o candidato à Presidência, Jair Bolsonaro (PSL/RJ), e líderes de entidades empresariais que representam 32% do Produto Interno Bruto (PIB) industrial do país, na última terça-feira, foi um claro sinal da aposta do setor produtivo para as eleições do próximo domingo. Acreditando que o resultado das urnas será o apontado pelos institutos de pesquisa, a aproximação, costurada pelo deputado federal Onyx Lorenzoni (DEM/RS), um dos articuladores da campanha do ex-capitão, serviu para garantir o compromisso de que algumas demandas sejam atendidas em caso de vitória.
A proposta de Bolsonaro, desenhada por Guedes, tinha como objetivo enxugar a quantidade de pastas. Mas para o setor produtivo, o trabalho do MDIC tem de se manter autônomo, independente da área econômica, até porque é daí que saem as propostas de corte orçamentário. A preservação do ministério, defendem os representantes das entidades empresariais, é fundamental para garantir a retomada do crescimento econômico. “Já peleamos demais com o Ministério da Fazenda, mesmo tendo o MDIC. Imagina se o ministério for extinto? Seria muito pior”, diz Marco Polo de Mello Lopes, presidente-executivo do Instituto Aço Brasil.
A lista de propostas vai muito além da manutenção do MDIC. Inclui temas como as Reformas da Previdência e Tributária, programas de concessão e de privatização para melhorar as atuais condições da infraestrutura do país, uma redução da burocracia governamental e atenção ao comércio exterior. O grupo que se encontrou com Bolsonaro, que gera 30 milhões de empregos diretos e indiretos e recolhe R$ 250 bilhões em impostos, entregou ao candidato uma carta em que defende o diálogo com o presidenciável “para encontrar caminhos para a retomada do desenvolvimento da indústria, crescimento do país e geração de empregos”, diz o texto.
DESBUROCRATIZAÇÃO Presidente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil (Abit), Fernando Pimentel conta que o encontro serviu para reforças pautas já apresentadas a todos os candidatos à Presidência. “Ganhe quem ganhar, o Brasil precisa adotar medidas que possam desburocratizar a atividade econômica”, defende.
Na sua opinião, durante a campanha presidencial pouco se discutiu sobre como fazer reformas concretas para destravar o país. “O que menos se discutiu foram propostas para reformas consistentes. Mas elas são fundamentais para a retomada da confiança no país.” Pimentel defende que sejam feitas reformas estruturantes no país, “do contrário, vamos capotar lá na frente, com um déficit público impagável.” O presidente da Abit acrescenta que haverá muitos desafios ao novo presidente, como desenhar um novo modelo tributário e negociá-lo no Congresso. Além disso, acrescenta, é preciso dar urgência à votação da Reforma da Previdência.
“Outros pontos também deverão fazer parte desse novo momento, como a forma de o Brasil baixar o custo do crédito, que ainda é muito caro e escasso, apesar da redução dos juros. Isso vai passar pela discussão sobre a concentração bancária, pela dificuldade de retomada do crédito em caso de inadimplência e a reforma tributária”, propõe.
SEM SENTIDO Sobre a proposta de incorporar o MDIC à Fazenda, Pimentel era um dos críticos e comemorou a decisão de Bolsonaro, caso seja eleito. Para o presidente da Abit, “a proposta não tinha o menor sentido. Temos de seguir justamente na direção oposta, com uma economia mais internacionalizada, com a abertura costurada a partir de acordos comerciais negociados”. Para Pimentel, o encontro não foi um apoio direto a Bolsonaro, mas ele afirma: “A declaração que apresentamos é de apoio a quem apoia a iniciativa privada e o crescimento. Mas não há partidarismo nisso.”
Mello Lopes, do Instituto Aço Brasil, explica que o setor da siderurgia está particularmente afetado pela baixa atividade econômica do país. Entre 2008 e 2017, as empresas investiram US$ 25 bilhões na modernização do parque industrial. No entanto, hoje estão usando apenas 68% da capacidade instalada, quando deveria estar em torno de 80%.
CONTROLE NAS IMPORTAÇÕES “A prioridade é o crescimento do mercado interno e isso vai depender da retomada de atividades muito importantes para a siderurgia, como a construção civil, indústria automobilística, máquinas e equipamentos”, explica. Lopes alerta ainda para a necessidade de o novo governo, ao contrário do atual, “não liberar indiscriminadamente a economia brasileira”.
“Antes de abrir é preciso resolver as mazelas internas. Infelizmente, temos visto a defesa comercial agindo muito mais de forma política do que deveria. Foi o que aconteceu no caso da negociação com China e Rússia. A Camex tinha dois processos do nosso setor e os suspendeu por causa da disputa no setor de aves”, reclama o presidente do Instituto Aço Brasil.
SEM MEXER NO CÂMBIO As exportações brasileiras também fizeram parte da conversa com o candidato pelo PSL. Presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto Castro explica que o problema dos exportadores não está na atual taxa de câmbio, que ele defende que continue a ser flutuantes. Para o especialista, o país tem de corrigir outros problemas para melhorar a eficiência da indústria nacional, como buscar formas de reduzir o Custo Brasil – responsável por 30% do custo da indústria nacional.
Isso passa, segundo Castro, pela Reforma Tributária e pelo investimento em infraestrutura. “Do jeito que nos encontramos hoje, é mais barato importar do que produzir e exportar. Essa distorção tem comprometido a participação das empresas brasileiras no mercado internacional. O atual sistema tributário tem responsabilidade nisso, porque é complexo e desestimulante e torna mais vantajoso exportar produto em vez do produto acabado”, lamenta.
Castro diz que a aproximação com Bolsonaro foi uma “questão de oportunidade” para o setor produtivo levar suas demandas. “A declaração que apresentamos a ele foi um apoio indireto. Aproveitamos a chance de nos aproximarmos de quem se coloca a favor do diálogo”’, diz.
Construção civil como alavanca de retomada
Além do encontro entre o candidato do PSL e oito entidades, nesta semana houve uma agenda exclusiva com o setor da construção civil, representado pelo presidente da Associação Brasileira das Incorporadoras Imobiliárias (Abrainc), Luiz Antonio França. Na pauta, temas como os reflexos da insegurança jurídica no ânimo do setor produtivo e algumas sugestões para que a habitação funcione como um alavancador do crescimento da economia.
França apresentou um estudo feito pela Fundação Getulio Vargas (“Análise das Necessidades Habitacionais e suas Tendências para os Próximos Dez Anos”) que mostra o comportamento da demanda futura por moradia no Brasil, a capacidade de geração de empregos e o reflexo na arrecadação de tributos. “O país precisa de moradia, tanto para atender ao crescimento da população quanto para atender ao atual déficit populacional”, diz.
Para o presidente da Abrainc, sem subsídio não será possível avançar com um programa de habitação popular, o que, segundo ele, acontece em todos os países. Na conversa com o candidato do PSL, França destacou ainda o papel do FGTS no setor e a necessidade de regulamentar os distratos – o projeto está no Senado. “São temas muito importantes para que os investimentos voltem, para que haja confiança e para que a construção civil possa ajudar na recuperação da economia brasileira.”