São Paulo – O Instituto Weizmann é um celeiro de conhecimento científico. Pesquisas desenvolvidas na instituição israelense já renderam seis prêmios Nobel e os produtos industriais desenvolvidos em seus laboratórios movimentam US$ 37 bilhões por ano. Fundado em 1934, 14 anos antes da criação do Estado de Israel, o Weizmann tem muitas lições a oferecer ao Brasil. Na entrevista a seguir, Israel Bar-Joseph, vice-presidente de Relações Institucionais do Weizmann, fala sobre a importância da ciência para o desenvolvimento econômico.
O Instituto Weizmann é conhecido por fazer “ciência pura”, sem interferência de interesses da indústria. Mas ao mesmo tempo vocês têm muitas patentes adotadas pela indústria. Qual é a fórmula?
Nós temos um modelo único. Nossa visão, e isso é muito importante, é de uma ciência que beneficia a humanidade. Não fazemos ciência pela ciência. Nossa medida de sucesso é o impacto que geramos para a humanidade. Não necessariamente para Israel ou para o setor industrial de Israel. Esse é o primeiro ponto. Em segundo lugar, aprendemos com a ciência que o caminho para as grandes descobertas é longo. Vivemos em uma sociedade altamente tecnológica, e em Israel há muita criatividade e inovação. Porém, o que essas startups fazem, de modo geral, é pegar uma tecnologia existente e transformá-la em produtos ou serviços que afetam a nossa vida. O que é muito importante. Mas o nosso mundo é outro: queremos gerar conhecimento.
No Brasil, há um histórico de registro baixo de patentes. E ainda existe, sobretudo nas universidades públicas, um certo preconceito em fazer parcerias com o setor privado. Como é o modelo do Weizmann?
É um dos erros comuns achar que fazer boa ciência não combina com pedidos de registros de patentes. Somos, de um lado, uma instituição de ponta mundial, que ganha prêmios e que está no topo da elite científica. E temos muitas patentes. Em 2010, entre os 25 remédios mais vendidos, tínhamos patentes em sete, sendo que em três a patente era 100% nossa. É um grande impacto. Na farmacêutica Teva, uma das maiores empresas de Israel, 30% dos lucros vêm de um medicamento desenvolvido pelos cientistas do Weizmann. A cada ano, produtos industriais baseados em tecnologias que emergiram dos nossos laboratórios rendem US$ 37 bilhões.
Como articular o trabalho independente do cientista com a aplicação prática das descobertas? No Weizmann existe uma “muralha” separando os dois mundos?
Existe uma muralha, mas uma muralha boa. Não temos interesses comerciais influenciando a integridade dos cientistas e da produção científica. Não fazemos pesquisa por encomenda. Não pegamos dinheiro de empresas que chegam com um briefing para resolvermos um problema X. Outras instituições fazem isso. Mas temos uma parceria com uma gigante farmacêutica, que já se beneficiou algumas vezes de patentes nossas, e que financia alguns projetos. A cada ano eles fazem um chamado para propostas, os cientistas se inscrevem e eles financiam a pesquisa. Se disso sai alguma descoberta, eles têm preferência na comercialização.
Como é feita a distribuição dos royalties das patentes desenvolvidas pelo instituto?
Nosso modelo é que o cientista fica com 40% e o instituto, 60%. Isso ajuda a estimular a ambição dos cientistas e a garantir que os nossos estudantes de PhD não irão virar técnicos em uma grande empresa. É preciso ter esse tipo de incentivo, mas ele não pode se tornar o único O principal tem que ser a paixão pela pesquisa e pela ciência. Temos um grupo grande de cientistas que se tornaram milionários. E estamos felizes com isso.
No Brasil, falta suporte e estímulos para que os cientistas busquem patentes e o país interage pouco com o setor privado.
Vocês não estão sozinhos. Visitei a Universidade de Tóquio recentemente. E estou falando de Japão, que é um gigante tecnológico. O modelo lá é louco. A Mitsubishi e todas as grandes empresas financiam as pesquisas nas universidades, mas sob a condição de que todas as descobertas pertencem às empresas. OK. Eles estão fazendo descobertas. Mas tudo vai para as grandes empresas. Não é que os pesquisadores e a universidade não se beneficiem. Mas esse modelo impede pequenas startups de terem acesso à tecnologia. É preciso que todo o ecossistema seja saudável. Acho que conseguimos criar esse ambiente em Israel, com as nossas tecnologias sendo adotadas por empresas de diferentes tamanhos. É um erro transformar a pesquisa acadêmica no braço de pesquisa e desenvolvimento da indústria. Por outro lado, é preciso estimular um ambiente de comunicação saudável com o setor privado.
Qual é o orçamento do Weizmann e como vocês se financiam?
Nosso orçamento é de quase US$ 500 milhões. Apenas um quarto, pouco menos, vem do governo. A receita de patentes é colocada em um fundo e utilizamos os rendimentos, o que dá também uns 25%. Isso ajuda a custear o básico. Outros 20% vêm de filantropia e usamos para financiar projetos extras, compra de equipamentos e novos laboratórios. O restante vem das bolsas que os cientistas precisam ir atrás, junto a instituições nacionais e internacionais, para financiar suas pesquisas. É uma combinação saudável. De cada dólar, 75% dependem da gente. Nós é que determinamos o que fazer com o dinheiro. Não há interferência pública: 25% de recurso público é suficiente, não quero mais.