Depois de a HP tentar, sem sucesso, se consolidar no concorrido mercado de tablets e smartphones, a companhia enxerga agora um futuro promissor para os negócios.
Qual a sua avaliação de 2018?
Em linhas gerais, foi um ano bom para a HP Brasil, mas poderia ter sido muito melhor. O mercado de tecnologia está com uma demanda reprimida, particularmente no mundo de computação pessoal e de impressoras. Com a crise, muitos deixaram de atualizar seus computadores. Como o Brasil passou por três anos praticamente sem crescer, estacionado ou com um PIB negativo, as empresas tiveram de se reestruturar e adiar novas compras. Entre os consumidores residenciais, houve um comportamento semelhante.
O que faltou para ser melhor?
Ainda falta para o Brasil uma fagulha, aquela faísca de reativação da economia. O país precisa desse start para conseguir fazer a economia crescer de forma mais forte. Espero que isso possa vir de uma forma muito mais acentuada em 2019.
"Muitas fabricantes de smartphones que entraram no início já deixaram o mercado. É um mercado de altíssima escala"
Claudio Raupp
O que pode gerar essa faísca no próximo ano?
A gente começou a ver alguns sinais que mostram isso. Há um movimento de maior confiança do consumidor. Isso é fundamental para os brasileiros consumirem mais, não apenas os bens do dia a dia, mas também no investimento em computação e impressoras.
Mas só a confiança do consumidor será capaz de fazer o mercado de tecnologia crescer?
Não. Serão vários fatores. Em primeiro lugar, o país precisa ter investimentos, sejam de empresas locais, sejam de fontes externas. O Brasil perdeu bastante investimento de fora nos últimos anos, muito por incertezas políticas, incertezas com respeito à própria segurança jurídica no país. O principal fator para o investidor voltar a olhar para o Brasil é a recuperação da segurança. O país precisa, por exemplo, acabar com os fatores que geram instabilidade no real, o que no nosso negócio é bastante importante. A flutuação da moeda em 2018 foi ruim para os negócios. Grande parte dos custos é cotada em dólar. É importante também rever a questão do crédito. O Brasil ainda está em um nível de juros básicos bastante altos. A inflação também tem que estar controlada. Tudo isso, enfim, traz a possibilidade de crescimento. No fim das contas, o que vale é a geração de emprego.
"O Brasil perdeu bastante investimento de fora nos últimos anos, muito por incertezas políticas, incertezas com respeito à própria segurança jurídica no país"
Claudio Raupp
A volta do emprego é, na sua avaliação, factível já em 2019?
Sim. E é um fator crítico para criar a faísca. Ao começar a ter uma geração de emprego maior, o índice de confiança do consumidor e do empresário sobe junto. Se o consumidor não tem certeza de que vai ter emprego daqui a seis meses ou um ano, passa a ter uma estratégia de gastos muito baseada na necessidade bastante básica. Assim, acaba adiando a troca do carro, da televisão, do computador. Então, se a faísca de todos esses itens que eu mencionei se alinhar, no final do dia começa a gerar mais emprego.
A HP foi uma das empresas que mais sofreram nos últimos anos com a queda da venda de computadores pessoais, gerada pela popularização dos tablets e smartphones. Onde a empresa errou?
Na realidade, fizemos alguns lançamentos, com os ultrabooks, em que o consumidor poderia unir computador e tablet em um único equipamento. Mas foi uma categoria que teve um prazo de existência bastante baixo. O consumidor definitivamente não adotou.
O mercado dos computadores pessoais não volta mais?
Em nível mundial, o mercado de computação pessoal teve um período de queda e outro período de estabilização. Ao analisar a HP, mundialmente, a gente vem com os trimestres consecutivos com crescimento em receita em computação pessoal. É também verdade que houve a consolidação nesse mercado, e na quantidade de jogadores. O número de fabricantes hoje é menor do que havia há dois anos. Então, a HP vem crescendo.
"Em linhas gerais, foi um ano bom para a HP Brasil, mas poderia ter sido muito melhor. O mercado de tecnologia está com uma demanda reprimida, particularmente no mundo de computação pessoal e de impressoras"
Claudio Raupp
E no Brasil?
No Brasil, a queda do mercado foi a mais acentuada que a gente viu nesses últimos quatro a cinco anos. Adicionalmente, houve o fenômeno dos tablets, que também já não são aquela febre toda. Mas, adicionalmente a essa competição, seguramente o smartphone teve um papel mais forte do que tablets. O que aconteceu foi que o Brasil teve três anos de recessão, enquanto outros países não tiveram. Até 2016, o Brasil teve uma queda mais acentuada, mas a partir de 2017 há um gradual crescimento. Devemos estar fechando este ano com 5,5 mil unidades de PCs vendidos.
Qual foi o ápice da HP no Brasil?
É difícil falar do ápice, porque foram tantos momentos. Além disso, a HP se separou em duas empresas. Mas do ponto de vista de tamanho de mercado, e a HP naturalmente acompanhou esse momento todo, eu diria que foi 2011. A partir disso, o fenômeno de tablets e smartphones influenciou bastante forte. Percebemos que o usuário não consegue administrar três telas, ou seja, um notebook, um tablet e um smartphone.
Então a HP errou ao não apostar no mercado de tablets e smartphones?
Fizemos uma aposta. Chegamos a apostar, entre 2010 e 2011, a Palm. Então, a HP entrou no mercado de tablets, fabricou, lançou no mercado, assim como smartphones da HP. E na realidade a gente estava buscando um nicho mais corporativo com isso, mas foi uma iniciativa que durou basicamente um ano. A gente depois verificou que esse mercado precisava de muito mais escala. Era muito difícil.
Havia muita concorrência?
Com certeza. Muitas fabricantes de smartphones que entraram no início já deixaram o mercado. É um mercado de altíssima escala. O custo de entrada para formar uma marca é bastante alto. Então, a HP resolveu apostar em outras iniciativas, com mais estratégia de inovação e de crescimento. Quando um concorrente lança um produto, uma nova categoria, você vai estar sempre correndo atrás de alguém que está inovando antes de você. A gente apostou as nossas iniciativas de inovação para categorias que ainda não existiam, ou que ainda não existem. Ou seja, apostamos em categorias novas, em que podemos ter protagonismo e liderança desde o lançamento.
Qual é o segmento de maior aposta?
A gente está mergulhado na impressão 3D. Não é exatamente uma categoria nova, existe há pelo menos 20 ou 30 anos. Mas não na categoria com tecnologia totalmente revolucionária, que nos permite desafiar, causar ruptura. Esse tipo de impressão, que já nos permite fazer peças pequenas, protótipos, moldes e maquetes, caminha para um processo de manufatura em alta escala. Apostamos nisso e saímos na frente, uma decisão mais vantajosa pra HP do que ter seguido alguma outra estratégia no segmento de tablets ou smartphones, mercados que estão bastante saturados. Quem não pode fazer algo que seja diferente e gere impacto, é melhor não fazer. A inovação é melhor para o cliente, para o mercado, para a sociedade.