Os negócios estão quase 20% abaixo das expectativas do mercado, situação que tem derrubado os preços das ações e forçado a empresa a lançar uma rara campanha publicitária na tevê aberta brasileira. “A Apple está, claramente, tentando reverter uma estratégia equivocada de vendas, embora tenha um produto de altíssima qualidade”, afirma Marcus Klocker, especialista em branding. “A reação da empresa dependerá do sucesso dessa ofensiva publicitária e de um eventual reposicionamento de preços.”
“Executivos da companhia moveram algumas pessoas de marketing de outros projetos para trabalhar no reforço de vendas dos últimos portáteis ainda em outubro, cerca de um mês após o iPhone XS começar a ser vendido e dias depois do lançamento do iPhone XR”, afirmou uma fonte ligada à empresa, conforme relato da publicação.
Outra iniciativa recente adotada pela empresa foi a redução de seu volume de produção. De acordo com os analistas da consultoria de tecnologia Rosenblatt Securities, o ritmo de fabricação do iPhone XR deve ser reduzido, uma vez que o smartphone está encontrando dificuldades para se firmar no mercado.
O plano inicial da Apple era produzir entre 90 milhões e 95 milhões de iPhones XR em 2018, mas a estimativa foi revista para 88 milhões de unidades, um tombo que ninguém poderia prever no início do ano. Os especialistas afirmam que seria melhor se a Apple fabricasse, no máximo, 74 milhões de unidades, a fim de reduzir estoques e, assim, diminuir a pressão financeira sobre a empresa.
Pelos cálculos da Rosenblatt Securities, divulgados recentemente em relatório, o iPhone XR está empatado em vendas com o iPhone XS Max e superou as estatísticas do iPhone XS.
Mas o preço do iPhone XR tem sido apontado como um dos motivos para o decepcionante desempenho de vendas. Durante o dia dos solteiros chinês, data celebrada há uma semana, o smartphone conseguiu registrar aumentos das estatísticas de venda após promoções que davam descontos de 10% a 15% na compra do aparelho.
No Brasil, o iPhone XR é vendido a partir de R$ 5.199. “A força da Apple está em sua marca e na reputação criada em torno de seus produtos”, afirma Eduardo Tomyia, presidente da consultoria britânica Kantar na América Latina. “Tendo a marca mais valiosa do mundo, sua capacidade de reação é superior às principais concorrentes nesse mercado.”
Não será uma iniciativa inédita se a Apple decidir baratear seus aparelhos, embora a empresa só recorra a essa estratégia em casos de extrema necessidade. O primeiro modelo do smartphone, por exemplo, teve um corte de US$ 200 em seu preço oficial menos de três meses após o seu lançamento, enquanto o iPhone X, do ano passado, também parece ter passado por maus bocados antes de decolar nas vendas. Por enquanto, o iPhone XR é, apesar do desempenho aquém do esperado, o modelo mais vendido da marca neste ano.
Um dos questionamentos que os especialistas têm feito nos últimos anos diz respeito à capacidade de a empresa continuar inovando. Apesar de os iPhones ainda terem sua reputação intocada, os lançamentos não causam o mesmo impacto entre os consumidores. A companhia ainda mantém um público cativo, mas ele não tem sido mais surpreendido como em outros tempos. O desafio é justamente este: lançar produtos que deixem os aficionados de queixo caído. O novo iPhone XR não cumpriu esse papel.