Natal é festa cristã, época em que os fiéis comemoram o nascimento de Jesus Cristo. Num contexto de altas taxas de desemprego, salário atrasado e sem pagamento do 13º, consumidores se inspiraram no filho de Deus para conseguir presentear toda a família. Como há mais de 2 mil anos, quando Jesus operou o milagre da multiplicação dos pães e peixes e alimentou multidões, o brasileiro precisou criar estratégias para fazer o dinheiro render e multiplicar o número de presentes, sem deixar de agradar a ninguém na melhor data para as vendas do varejo. Quem deixou as compras para a última hora ainda pode tentar esse milagre hoje nas lojas, que funcionam das 9h às 18h.
E pode acreditar: para fazer milagre, não há segredo. O primeiro movimento dos consumidores foi trocar as lojas sofisticadas pelo comércio popular. Sinal disso foram os corredores lotados da Feira de Artesanato da Afonso Pena, no Centro de Belo Horizonte, ontem, contrastando com uma Savassi, na Zona Sul da cidade, vazia, no que já se anuncia como mais um Natal das lembrancinhas. “É qualidade de shopping com preço de feira”, anunciou o feirante para atrair a clientela.
Andando pelo Centro da capital com os braços cheios de sacolas, Luciana Carvalho, de 43 anos, fez grande parte das compras no Shopping Oiapoque: mochilas, carregador de celular, eletrônicos, teve de tudo um pouco entre os escolhidos. Servidora pública estadual, com salário parcelado e sem sinal do 13º salário, ela foi precavida. “Percebi que tinha o risco de não pagarem e comecei a economizar em agosto. Apertei o cinto e deu pra comprar os presentes e ainda viajar. Vamos para Tiradentes nas férias”, diz.
Em 2018, a crise bateu na porta da design de moda Danielle Miranda, de 38. Por isso, ela e o marido, Bruno Velloso, de 40, decidiram estabelecer a cota de R$ 50 por pessoa para presentear. Moradores de Governador Valadares, no Vale do Rio Doce, eles se planejaram para fazer as compras em BH, onde passam o Natal com a família, e fizeram a festa na Feira da Afonso Pena. “Tem colar de R$ 5, brinco de R$ 4. Como tem muita coisa baratinha, dá para comprar vários itens para cada pessoa”, ensina Danielle.
PARCELA A servidora pública Rosália Tacchi, de 45, passou longe de shopping centers e buscou o comércio de rua e de feiras para comprar os presentes. O 13º salário sempre foi usado para fazer as vezes de “mamãe Noel”, mas este ano, com a falta de pagamento pelo governo de Fernando Pimentel (PT), para fazer “milagre”, precisou dividir os presentes em prestações. “A prioridade são as crianças e minha mãe. Já negociei com as filhas que elas só vão receber quando sair o 13º”, conta. Rosália também diminuiu o valor dos presentes. “Antes, era de R$ 500, agora, não vai passar de R$ 200.”
Funcionária pública do estado, Venerice Aparecida de Lacerda, de 60, se organizou para pagar as contas mais pesadas no cartão de crédito e os presentinhos no débito e dinheiro. Na pechincha, conseguiu encher a sacola com presentinhos para a neta, como sapatinho de crochê por R$ 25, calcinhas de babados a R$ 20, arquinho por R$ 8. “São mimos”, comenta.
Quem não fez as compras ainda tem tempo. O comércio estará aberto hoje das 9h às 18h. A comerciante Lourdes Trigueiro, dona de loja de roupas no Centro de BH, diz que seu estoque foi pensado justamente para quem quer agradar sem pagar caro, com itens brasileiros e chineses. “Temos blusas a R$ 10 e a R$ 20 e vestido a R$ 29,90. Este ano é o Natal das lembrancinhas”, afirma. A Câmara de Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte (CDL-BH) projeta crescimento de vendas de 3,2% neste Natal, frente ao desempenho da festa do ano passado.