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Estado de Minas EMPREGO É TESTE DESAFIADOR

Desemprego: lenta recuperação do PIB impede retomada do número de vagas no Brasil

Especialistas avaliam que oferta de vagas só terá efeito significativo para reduzir alto nível de desocupação com medidas capazes de fazer o país voltar a crescer 3% ao ano


postado em 25/12/2018 09:00 / atualizado em 25/12/2018 09:34

Sem trabalho, Edileuza da Silva passou a vender lanches para sobreviver e só pode voltar para casa com toda a produção faturada(foto: Marília Lima/CB/D.A Press - 28/11/18)
Sem trabalho, Edileuza da Silva passou a vender lanches para sobreviver e só pode voltar para casa com toda a produção faturada (foto: Marília Lima/CB/D.A Press - 28/11/18)

Brasília - O desemprego elevado é uma das maiores preocupações no Brasil. A lenta recuperação do Produto Interno Bruto (PIB, o conjunto da produção de bens e serviços do país) está sendo insuficiente para aquecer o mercado de trabalho. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), com base em dados de outubro, faltam vagas para 27,2 milhões de pessoas, sendo que 4,7 milhões desistiram de procurar uma colocação diante da ausência de perspectivas. A expectativa é de que a retomada no número de oportunidades de trabalho seja maior em 2019, o que os analistas de bancos e corretoras tomam o cuidado de não considerar como algo garantido.


As projeções divulgadas pelo relatório Focus, do Banco Central (BC), - que consulta uma centena de analistas do mercado financeiro - apontam que o PIB de 2019 crescerá em torno de 2,5%. Uma vez confirmado, será resultado melhor que o deste ano, mas a taxa não deve representar estímulo significativo ao mercado de trabalho. A rigor, o país ainda está se recuperando da recessão de 2015 e 2016, a maior da história.


O cenário atual de reação da atividade econômica é insuficiente para dar esperanças para quem está há meses em situação de vulnerabilidade social. Desempregado, o serralheiro João Coelho, de 66 anos, busca uma recolocação há seis meses, e reclama das oportunidades escassas. “Por conta dessa crise, faz tempo que eu não encontro serviço em lugar nenhum”, diz.

João Coelho lamenta não poder comprar os legumes e a carne de que gosta para comer com a família. “Nem tomate eu posso comprar, porque tá caro. Carne, então, nem se fala. Quando vou comer tem que ser da pior que tem”, afirma. Outro desafio é conseguir comprar remédios. “Na última semana eu precisei comprar um de R$ 71, que é o dinheiro da feira da semana, né?”, compara.


O IBGE mostrou que a taxa de desemprego diminuiu, mas segue muito alta, atingindo 11,7% dos brasileiros - 12,4 milhões de pessoas. A população ocupada teve leve aumento em 2018, mas a melhora está associada às vagas sem a carteira de trabalho assinada. Edileuza da Silva, de 56, nunca trabalhou com registro formal. Ela sempre atuou em serviços gerais, cumprindo contratos para as prefeituras de Goiás até o agravamento da crise econômica. “Depois que veio a crise, o aperto começou e ninguém mais me chamou para trabalhar”, conta.

Reação gradual

A única alternativa encontrada por Edileuza Silva foi apelar aos bicos. Ela vende lanches para sobreviver. “Eu não tenho família, vivo só, e preciso pagar as contas. Por isso agora trabalho assim”, lamenta. O horário de trabalho é de, no mínimo 12 horas por dia. A volta para casa só é garantida quando tudo é vendido. “Eu fico rodando nos sinais, pelas plataformas e nas filas. É cansativo”, ressalta.


O serralheiro João Coelho procura trabalho há seis meses, e nem sequer tem condição de comprar produtos essenciais como remédios(foto: Marília Sena/CB/D.A Press )
O serralheiro João Coelho procura trabalho há seis meses, e nem sequer tem condição de comprar produtos essenciais como remédios (foto: Marília Sena/CB/D.A Press )

De acordo com a economista-chefe da ARX Investimentos, Solange Srour, o desemprego só vai melhorar quando a recuperação da economia se mostrar consistente. “Acho que isso acontecerá quando a reforma da Previdência estiver com maior probabilidade de passar ou já tiver passado, no segundo semestre de 2019, no Congresso. Sem reforma, o Brasil entra de novo em recessão e o desemprego volta a subir. Poucos entendem que estamos quebrados do ponto de vista fiscal e, se continuarmos assim, o Brasil pode entrar em grave crise”, diz.


O Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), divulgado pelo Ministério do Trabalho, mostrou que o Brasil registrou saldo de 58.664 vagas formais de emprego em novembro, descontadas as demissões. No acumulado do ano, o Caged calculou que 858.415 cargos foram criados, o que representa avanço frente aos 299.635 empregos gerados em igual período de 2017.


O economista-chefe da DMI Group, Daniel Xavier, destaca que a queda no desemprego é bastante gradual. “Esse ritmo está relacionado ao desempenho da atividade econômica, que ainda é fraco. Segundo o IBGE, o PIB teve expansão anual de 1,4% no 3º trimestre de 2018. Esse ritmo, em nossa avaliação, é insuficiente para promover declínio rápido do desemprego”, aponta.


A expectativa é de que o quadro de expansão mais consistente se dê a partir da segunda metade de 2019. “A partir de então, o consumo das famílias deve ser favorecido pelo mercado de trabalho mais aquecido”, afirma Xavier. “Em nossa visão, com o PIB crescendo ao redor de 3% entre 2019 e 2021, supondo o adequado andamento das reformas econômicas, podemos, sim, ter taxas de desemprego abaixo de 9% ao final do período”, aposta o especialista.

*Estagiária sob a supervisão da subeditora Rozane Oliveira


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