São Paulo – Maior empresa de tecnologia do mundo, a Apple vive uma espécie de inferno astral antecipado em seus negócios. Embora complete 43 anos só em 1º de abril, passou na semana passada por uma de suas piores tempestades, com as ações derretendo na Bolsa de Nova York. Na quinta-feira (3), seus papeis caíram quase 10%, e seu valor de mercado encolheu mais de US$ 72 bilhões. Para efeito de comparação, o montante equivale ao valor do Bradesco.
Mais impressionante ainda: as quedas acumuladas nos últimos três meses totalizam US$ 450 bilhões, valor que representa metade de todas as ações e negócios na B3, a Bolsa de Valores de São Paulo. “O mercado enxergou mal o reconhecimento da empresa de que as vendas do iPhone estão muito abaixo do projetado inicialmente”, disse Steshi Menna, analista de investimentos da Forrester Research. “A recuperação da Apple, se ela fizer tudo certo a partir de agora, leva um bom tempo.”
A explicação para essa turbulência atende pelo nome de iPhone XR. O próprio Tim Cook, CEO da empresa e sucessor do fundador Steve Jobs (1955-2011), admitiu que errou feio nos seus cálculos em razão da inesperada dificuldades da Apple no mercado da China e da supervalorização do dólar em todo o mundo, o que encarece o produto e achata as margens de lucro.
DESEMPENHO Apesar das dificuldades da Apple em alcançar os números projetados, o iPhone XR está entre os modelos mais vendido da linha. Ele conseguiu uma participação de 32% nas vendas totais no mês de lançamento, contra 39% das versões 8 e 8 Plus em novembro do ano passado, o último dado disponível. Isso significa que o desempenho do primeiro mês de vendas do XR foi mais fraco do que os modelos 8, mas não são ruins.
Segundo bastidores do mercado, o que tem ajudado a espalhar nervosismo entre os investidores é a disputa travada com a Qualcomm, que conseguiu suspender a venda do iPhone na China por algumas semanas. No entanto, dias após conseguir o bloqueio da venda de alguns modelos antigos de iPhones na China, a Qualcomm entrou com outra ação judicial contra a Apple com o objetivo de proibir a comercialização dos celulares de 2018 no país mais populoso do mundo, dando início a mais um episódio da longa disputa judicial entre as duas empresas.
Por considerar legítimo o pedido, a Justiça chinesa concedeu uma liminar para impedir a venda de diversos modelos antigos do iPhone: 6S, 6S Plus, 7, 7 Plus, 8, 8 Plus e X. O motivo da proibição foi uma suposta violação de patentes da Qualcomm por parte da Apple, principalmente em tecnologias envolvendo o gerenciamento de apps e também de redimensionamento de imagens. O caso ainda não foi julgado, mas a Qualcomm afirma que tem evidências muito consistentes de que a Apple teria violado suas patentes.
PATENTES O grande problema do embate é que a Apple não interrompeu as vendas de iPhones na China até agora, certa de que alguma nova decisão judicial vai liberar os negócios. A empresa americana afirma que as patentes disputadas só seriam usadas em versões antigas do iOS. Como elas não fazem mais parte do iOS 12, alega, não há motivos para os celulares terem a comercialização bloqueada.
A liminar, no entanto, não fala nada sobre versões específicas do sistema, e sim de modelos. Segundo reportagem do Financial Times, o objetivo da Qualcomm é forçar um acordo com a Apple, algo que pode render alguns bilhões para o cofre da empresa. Enquanto isso não ocorre, elas brigam na Justiça no mundo inteiro, sendo a Qualcomm a mais derrotada, fora do mercado chinês. Enquanto isso, as turbulências continuam afetando a empresa mais valiosa do planeta.