A decisão da Arábia Saudita de descredenciar cinco frigoríficos brasileiros de exportar carne de frango para o país tem todos os elementos de uma medida política.
A análise é do presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro, que afirmou que o Brasil tem naquela região questões comerciais importantes e que podem sofrer impactos consideráveis de 30% a 50% se os países localizados no Oriente Médio resolverem impôr sanções econômicas ao Brasil.
“A afirmação peremptória é mais difícil de ser dada, porém, pelos fatos e pela forma como tudo aconteceu tudo leva a crer que se trata de uma decisão política. Além disso, eles podem alegar critérios técnicos para tomar uma decisão política”, considera o presidente da AEB.
Ainda de acordo com José Augusto de Castro, a decisão vem cerca de um ano após a Operação Carne Fraca, que apurava irregularidades em frigoríficos brasileiros. Para ele, o episódio considerado grave a época não repercutiu na relação comercial com a Arábia, o que eleva a hipótese de se tratar agora de uma medida política.
Na decisão, segundo a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), os quesitos da revogação da autorização obedeceram “critérios técnicos” e que “planos de ação corretiva estão em implementação para a retomada das autorizações”.
Atualmente 58 frigoríficos têm autorização dada pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) para para exportação. Desse total, apenas 30 embarcaram produtos efetivamente e, agora, somente 25 receberam a autorização da Arábia Saudita para exportar.
A Arábia Saudita é a maior compradora da carne de frango do Brasil, seguida da China, Japão e Emirados Árabes e Hong Kong. Para José Augusto de Castro, com a restrição saudita e da China, que também tem colocado barreiras ao produto, o Brasil passa a enfrentar um quadro complicado.
“São dois impactos muito importantes. É uma região que o Brasil tem muito problema. No ano passado o país já teve queda de 20% no comércio com a Arábia. Com essa restrição isso pode chegar de 30% a 50%”, considera.
Retaliação
A decisão da Arábia Saudita também é considerada retaliação ao governo de Jair Bolsonaro, em função da decisão de transferir a embaixada brasileira em Israel de Tel-Aviv para Jerusalém, afirmou em Davos o ex-secretário-geral da Liga Árabe (organização que reúne 22 países árabes), Amr Moussa.
“O mundo árabe está enfurecido (com o Brasil)”, disse Moussa, um dos diplomatas do Oriente Médio de maior influência na região. “Essa é uma expressão de protesto contra uma decisão errada por parte do Brasil. Muitos de nós não entendemos o motivo pelo qual o novo presidente do Brasil trata o mundo árabe desta forma.”
Há poucas semanas, a Liga Árabe decidiu aumentar a pressão sobre o governo de Bolsonaro e aprovou, no Cairo, uma resolução pedindo que o Brasil “respeite o direito internacional” e que abandone a ideia de mudar a embaixada para Jerusalém, o que significaria o reconhecimento da cidade como capital de Israel.
Outra decisão anunciada por Cairo foi o envio de uma “delegação de alto escalão” ao Brasil para lidar com a crise e para informar ao novo governo de Bolsonaro sobre a necessidade de “cumprir o direito internacional” no que se refere à situação de Jerusalém – cidade que também é disputada pelos palestinos para ser a capital de seu Estado.
Com informações de Estadão Conteúdo