Após avalizarem contas de Estados que agora decretam calamidade financeira, os Tribunais de Contas dos Estados (TCEs) iniciaram uma negociação para tentar desfazer as maquiagens que retardaram o real diagnóstico da situação fiscal dos governos regionais. A ideia é unificar as interpretações sobre a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), já que os critérios adotados pelos TCEs flexibilizaram os limites de gastos com pessoal e permitiram contratações e aumentos salariais que colocaram as contas desses Estados na rota de um colapso.
Representantes do Tesouro Nacional e de 21 dos 33 tribunais de contas vão se reunir em Brasília nos dias 6 e 7 de fevereiro para iniciar as discussões sobre como harmonizar os procedimentos de fiscalização e os critérios de contabilidade dos Estados e municípios. Foram formados oito grupos técnicos para debater os temas, e um deles é justamente sobre a harmonização de conceitos fiscais.
O mais provável é que a solução envolva uma transição para que os governadores consigam se ajustar novamente aos limites, com a exigência de contrapartidas. Esse período seria maior que o previsto atualmente na lei, que é de oito meses para eliminar o excesso de gasto com pessoal. Esse tempo é considerado impraticável em casos como o de Minas Gerais, onde o gasto com pessoal já chega a 80% da Receita Corrente Líquida (RCL) - o limite é 60%.
Hoje, os tribunais de contas se valem de interpretações da LRF para permitir que governadores descontem do limite os gastos com inativos, terceirizados e pagamento de Imposto de Renda. Com isso, criava-se espaço para novas contratações e aumentos salariais. Isso acabou criando um paradoxo: Estados que, no papel, cumpriam os limites de despesas com pessoal começaram a atrasar salários e pedir ajuda à União.
O Tesouro já vinha expondo desde 2016 a real situação das contas estaduais ao recalcular os gastos com pessoal segundo as normas da LRF. No ano passado, o órgão assinou um acordo de cooperação com a Associação dos Membros dos Tribunais de Contas do Brasil (Atricon) para discutir a adoção de critério único na contabilidade pública. Segundo a Atricon, 19 TCEs e dois tribunais de contas municipais aderiram ao acordo e indicaram representantes para participar das discussões.
"É uma DR do ponto de vista técnico", diz a subsecretária de Contabilidade Pública do Tesouro Nacional, Gildenora Milhomem. Ela ressalta que a adoção das medidas terá de partir dos próprios Estados, até por uma questão de autonomia federativa. O procurador junto ao Tribunal de Contas da União (TCU) Júlio Marcelo de Oliveira, elogiou a iniciativa, mas questionou: "Ainda tem 12 tribunais que estão fazendo o quê? Por que não aderiram ainda?" As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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