A indústria nacional teve um desempenho pior do que o esperado no ano passado, impactada pela queda nas exportações de manufaturados para a Argentina, na avaliação do ex-diretor do Banco Central e consultor da Schwartsman e Associados, Alexandre Schwartsman. Ontem, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou que a produção industrial brasileira cresceu 1,1% em 2018, mas a trajetória ao longo dos meses foi de perda de ritmo, segundo a Pesquisa Industrial Mensal.
Para ele, 2019 pode ser um ano melhor para a indústria, se o mercado interno se aquecer e conseguir compensar parte da queda das vendas de manufaturados para o exterior. Mas, para isso, diz, o governo deve aprovar um pacote de concessões e avançar nas reformas estruturais. A seguir, os principais trechos da entrevista:
Os números mostram que o crescimento da indústria passou a ser menos intenso a partir de junho de 2018. Podemos atribuir isso à greve dos caminhoneiros, em maio passado?
Acho que é dar peso demais para a greve. A queda foi grande em maio, mas em junho já havia sido superada. Desconfio que o que afetou a indústria brasileira mais fortemente foi o colapso das exportações para a Argentina. A queda das exportações, pelos números dessazonalizados, entre maio e dezembro, chegou a 30% - e a 70% no caso dos automóveis.
As dificuldades da economia argentina acabaram pesando nos resultados da nossa indústria?
Sim. É preciso lembrar que quase todos os produtos que o Brasil exporta para a Argentina são manufaturados. Há uma dissociação do comportamento do consumo no Brasil, que deu sinais de recuperação, com o comportamento da indústria no segundo semestre do ano passado, que foi fraco. Acredito que as exportações para a Argentina acabaram pesando nesse sentido.
O que precisa ser feito para que a indústria tenha um 2019 melhor?
Não precisa encher o balão pelo mesmo buraco que furou. Se a Argentina está em grave crise e sem sinais claros de recuperação, as vendas para lá não parecem ser um bom caminho agora para a indústria nacional ter um resultado melhor este ano. É preciso garantir um crescimento mais forte da demanda interna. A demanda interna vai ter de recuperar parte da tração perdida pelo mercado externo. Vai ser preciso fazer com que o varejo cresça um pouco mais este ano.
Mas há sinais de que o ano será melhor?
Há algum sinal de melhora. A recuperação pode vir por meio do aumento do consumo interno de bens duráveis, como os automóveis, reprimido durante a crise, apesar de a recuperação da massa salarial não ser brilhante. O juro real tem caído um pouco mais, o que ajuda na recuperação do mercado interno. A nossa projeção é que a produção industrial cresça entre 2% e 2,5%, acima do 1,1% do ano passado.
Quais medidas econômicas podem ser tomadas para acelerar a recuperação da indústria?
A política econômica está muito travada e não tem espaço para um estímulo fiscal, como redução de impostos para compra de automóveis ou eletrodomésticos, que foi feita no passado. Vai ser preciso, então, conseguir deslanchar as concessões e fazer as reformas estruturais, para derrubar mais os juros de longo prazo e ajudar na concessão de crédito. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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