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Estado de Minas

Braincare fatura ao inovar na medicina

Startup desenvolve sensor capaz de medir a pressão intracraniana e salvar milhões de vidas. Técnica criada pelo cientista Sérgio Mascarenhas atrai empresários para o negócio


postado em 05/02/2019 06:00 / atualizado em 05/02/2019 09:07

O sensor é fornecido em comodato por meio de assinatura mensal. Em setembro, a empresa conquistou como cliente o Hospital Sírio Libanês (foto: DIVULGAÇÃO )
O sensor é fornecido em comodato por meio de assinatura mensal. Em setembro, a empresa conquistou como cliente o Hospital Sírio Libanês (foto: DIVULGAÇÃO )

São Paulo – Há 14 anos, o cientista Sérgio Mascarenhas, atualmente com 90 anos, foi diagnosticado com hidrocefalia, doença que provoca acúmulo de líquido no cérebro. Mas só foi possível chegar ao diagnóstico definitivo – no início os médicos suspeitavam de mal de Parkinson – depois de literalmente fazer um furo em sua cabeça. Inconformado com o método arcaico, o professor voltou aos laboratórios da universidade.

Primeiro reitor da Universidade Federal de São Carlos e professor visitante de Princeton, Harvard e MIT, Mascarenhas se debruçou sobre o funcionamento do cérebro e fez uma grande descoberta: ao contrário do que vinha sendo ensinado nas faculdades de medicina há mais de 150 anos, adultos não são cabeça dura. A caixa craniana segue expansível mesmo depois que paramos de crescer.

Em sociedade com os pesquisadores Gustavo Vilela e Rodrigo Andrade, e com apoio da Fapesp, Mascarenhas fundou a Braincare, uma startup que desenvolveu um sensor externo capaz de medir a pressão intracraniana. Até então, o monitoramento da pressão intracraniana só podia ser feito com internação e cirurgia, restringindo quase totalmente sua utilização para fins de diagnóstico.

Apesar do avanço científico, a Braincare caminhava para ser mais uma empresa vendedora de equipamento hospitalar, uma tecnologia facilmente replicável. Mais familiarizado com a ciência do que com o mundo dos negócios, Mascarenhas resolveu pedir ajuda a um ex-aluno da UFSC, o consultor de empresas Plínio Targa, então sócio da E&Y no Brasil.

Targa se encantou com as potencialidades da descoberta do ex-professor e resolveu não apenas investir no negócio, mas fazer o projeto acontecer. A Braincare acaba de levantar R$ 5 milhões junto a investidores anjo e está em fase de obtenção de patentes globais e registros junto à Food and Drug Administration (FDA), processos que devem ser concluídos ao longo deste ano.

A primeira medida de Targa como CEO da Braincare foi colocar o conceito à prova: levou o caso para a Singularity University e acabou selecionado, junto com mais seis empreendedores, para o programa de aceleração da universidade, numa concorrência com mais de 500 empresas.

No programa de aceleração, Targa fez mais de 100 reuniões com líderes da cadeia da indústria médica. “Ao longo das conversas, foi caindo a ficha de que tínhamos nas mãos mais do que um dispositivo para medir pressão craniana. Na verdade, estávamos facilitando o acesso a um sinal vital”, diz Plínio.

De vendedora de aparelho hospitalar, a Braincare se transformou num prestador de serviço de monitoramento de pressão intracraniana. “Temos uma tecnologia que salva vidas e que pode impactar a saúde de bilhões de pessoas.”

O aparelho – que em sua primeira versão se conectava a um monitor via cabo – foi substituído por um pequeno sensor com Bluetooth 5.0, que transmite os dados para um tablet. Pela nuvem, a empresa processa as informações e envia o laudo para o aplicativo.

O sensor é fornecido em comodato por meio de uma assinatura mensal de cerca de R$ 3 mil. Em setembro, a empresa conquistou seu primeiro cliente: o Hospital Sírio Libanês, em São Paulo, um dos mais renomados do país.

Além dos sócios originais e de Targa, o empresário Horácio Lafer Piva também entrou no negócio como anjo. A nova rodada de R$ 5 milhões foi captada por meio do fundo Miletus, criado por Plínio e Horácio especificamente para atrair novos investidores para a Braincare.

“Está no nosso horizonte atrair grandes players da área da saúde, mas só depois que tivermos todas as patentes e o registro na FDA”, diz Plínio. “No momento, queremos apenas anjos conectados com o nosso propósito.”

A operação brasileira deve começar a dar lucro neste ano. A empresa também colocou como missão investir em pesquisa para expandir o conhecimento da medicina em torno do novo sinal vital: está patrocinando pesquisas em Stanford, tentando estabelecer novas correlações entre o cérebro e a saúde.

Em outra frente, a Braincare também vai construir um enorme banco de dados na nuvem, que no futuro pode ajudar no planejamento de políticas públicas.


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