São Paulo – Desde 1º de janeiro, está em vigor em Nova York a lei que proíbe o uso de isopor, ou o poliestireno expandido (EPS, na sigla em inglês), obtido a partir do petróleo. Com isso, cafés, restaurantes e outros locais que servem alimentos e bebidas estão em busca de alternativas para acondicionar refeições e cafés, por exemplo.
Haverá um período de seis meses de adaptação às novas regras. A partir daí, deixarão de ser usados copos, bandejas, pratos e embalagens de ovos. Quem não se adaptar, terá de preparar o bolso para as multas aplicadas pela prefeitura da cidade.
Com a lei, Nova York se junta a outras 70 cidades americanas que baniram o isopor. A medida vai na mesma linha de outras decisões governamentais, como o fim do canudo de plástico, a proibição das sacolas não reutilizáveis e a venda de garrafas descartáveis feitas com esse material nos parques nova-iorquinos.
Este é mais um movimento importante no sentido de diminuir a dependência de produtos obtidos a partir de fontes de matéria-prima não renováveis, em particular do petróleo. O Brasil, ainda que mais lentamente, tem seguido na mesma direção e nos últimos anos diferentes níveis governamentais determinaram a substituição das sacolas plásticas descartáveis pelas reutilizáveis e mais recentemente vem crescendo a onda anti-canudos plásticos.
DESAFIO AMBIENTAL E ECONÔMICO Para a indústria, a busca por substitutos do petróleo é um grande desafio, porque envolve muita pesquisa, o desenvolvimento de tecnologias a preços competitivos. A Braskem é uma das empresas brasileiras que tem avançado nessa área. Seu polietileno verde, obtido a partir do etanol da cana-de-açúcar, já tem perto de nove anos de mercado e faz parte do portfólio da linha I’m green™.
Agora, a Braskem e a Haldor Topsoe, empresa de origem dinamarquesa líder mundial em catalisadores e tecnologia para as indústrias química e de refino, começam a operar em conjunto uma unidade de desenvolvimento de monoetileno glicol (ou MEG) obtido a partir do açúcar. A unidade-piloto, instalada em Lyngby, na Dinamarca, servirá para confirmar a viabilidade técnica e econômica do processo de produção de MEG renovável em escala industrial.
A unidade fabril será usada para desenvolver uma tecnologia com capacidade de converter o açúcar em MEG dentro de uma única unidade industrial. Se a tecnologia funcionar, será possível reduzir o investimento inicial na produção e aumentar a competitividade do processo produtivo. O objetivo é que a fábrica seja capaz de converter diferentes matérias-primas, como sacarose, dextrose e açúcares de segunda geração em MEG. Atualmente o composto é feito a partir de origens fósseis, como nafta, gás ou carvão.
O MEG é usado na mistura com o ácido tereftálico purificado (conhecido como PTA) para a obtenção do PET (sigla em inglês para Etileno Tereftalato). A resina é muito usada nos setores têxtil e de embalagens, principalmente na produção de garrafas.
Em nota, Kim Knudsen, vice-presidente executivo da Haldor Topsoe, falou do esforço da companhia em avançar no que é chamado de solução Mosaik™ para a produção de MEG renovável em conjunto com a Braskem: “A Haldor Topsoe é líder mundial em soluções catalíticas e estamos determinados a manter essa posição também na área de energias renováveis. Nosso objetivo é mostrar que as tecnologias catalíticas inovadoras podem tornar os produtos químicos a partir da biomassa uma opção comercialmente atraente”.
As primeiras amostras desenvolvidas na unidade de produção em Lyngby começaram a ser testadas pelos clientes apenas em 2020.
De acordo com Gustavo Sergi, diretor de Químicos Renováveis da Braskem, o processo para desenvolvimento de MEG renovável representa um grande avanço em termos de competitividade para o PET verde. “Essa parceria agrega valor ao nosso portfólio I’m green™, que já conta com o polietileno verde e o EVA verde, ambos produzidos a partir da cana-de-açúcar. Ela também reforça nossa visão de utilizar biopolímeros como ferramenta de captura de carbono, contribuindo para a redução na emissão de gases do efeito estufa”, afirma.
Hoje, o uso da resina verde da Braskem é bem diversificado e o material ganhou outras variações, como a resina EVA (copolímero etileno acetato de vinila). O derivado da cana está em garrafas de Coca-Cola até no solado dos chinelos da marca americana Allbirds, que também substituiu o plástico usado na sola de seus calçados pelo poliuretano obtido na extração do óleo da mamona.
PRESSÃO Para a indústria que consome plástico, entrar nessa corrida verde é fundamental para atender a demanda de consumidores e de governantes, que têm sido pressionados em muitos países para criar leis mais rigorosas quanto ao uso de descarte de materiais de origem fóssil.
Em meados de janeiro, a Nestlé e a Danimer Scientific, desenvolvedora e fabricante líder de produtos plásticos biodegradáveis, anunciaram uma parceria global para o desenvolvimento de garrafas biodegradáveis. As duas companhias vão trabalhar juntas para projetar e produzir resinas de base biológica para a divisão de águas da multinacional suíça com o uso do polímero Nodax™ PHA, de propriedade da Danimer Scientific. Segundo comunicado divulgado pelas companhias, no ano passado a Universidade da Geórgia (EUA) confirmou em um estudo que o Nodax™ é uma alternativa biodegradável eficaz aos plásticos petroquímicos. A PepsiCo, que também é parceira da Danimer, poderá ter acesso às resinas desenvolvidas nessa colaboração.
O PHA, segundo os pesquisadores da Danimer, se biodegrada em diferentes ambientes, como por exemplo em compostos industrial e doméstico, solo, água fresca e do mar.
No ano passado, a Nestlé assumiu o compromisso de tornar 100% de suas embalagens recicláveis ou reutilizáveis ate 2025. Recentemente, a subsidiária brasileira anunciou que deixará de usar canudos de plásticos em seus produtos até 2025.
Outra multinacional que vai nessa direção é a Electrolux, que construiu um protótipo de geladeira usando bioplásticos. Em entrevista em um evento em San Diego, o especialista em inovação da companhia, Marco Garilli, admitiu a dificuldade do projeto, desenvolvido em parceria com a NatureWorks LLC: “Ainda temos muito a aprender sobre esses materiais”.
Suécia tem shopping center de reciclados
Os países nórdicos estão entre os maiores fomentadores de negócios sustentáveis não apenas na área de energia. Na Suécia, existe um shopping center dedicado exclusivamente a produtos reciclados, de segunda mão, ou produzido de forma sustentável.
O ReTuna Aterbruksgalleria, construído em Eskilstuna, é apontado como o primeiro centro comercial do gênero. O projeto começou a ser desenvolvido entre 2006 e 2007. No espaço, produtos usados ganham nova função, reduzindo o desperdício. Além da venda de roupas e objetos para casa, o shopping serve ainda como um espaço para educação da população para temas ambientais, como a economia circular.
A proposta do centro comercial, administrado pela empresa pública municipal Eskilstuna Energi och Miljö (EEM), é ser uma espécie de mercado de pulgas, com a diferença que é mais organizado e também oferece algumas grifes, como acontece com os brechós.
A operação começou em 2015. Além das lojas, há um centro de triagem que recebe doações de itens de segunda mão que são classificados, recuperados e transformados em outros objetos pelos próprios lojistas. A EEM atua nas áreas de rede elétrica, mercado de eletricidade, água e saneamento, reciclagem, marketing e vendas.
O shopping sustentável oferece móveis, roupas, brinquedos, materiais para construção, tem ainda pet shop e floricultura, além de um restaurante com alimentos orgânicos. Por dia, passam pelo local de 700 a 1 mil pessoas.
US\$ 1 bi para reduzir impacto do plástico
Pressionada pelos consumidores e por governantes, a indústria global do plástico tem buscado formas de minimizar seus impactos. No mês passado, a Alliance to End Plastic Waste (AEPM), uma aliança de empresas globais da cadeia de valor de plásticos e bens de consumo, anunciou o compromisso de investir cerca de US\$ 1 bilhão nos próximos cinco anos com o objetivo de acabar com o lixo plástico no meio ambiente, especialmente no oceano.
Formada por cerca de 30 empresas com operações na América do Norte e do Sul, Europa, Ásia, Sudeste Asiático, África e Oriente Médio, a organização sem fins lucrativos promete desenvolver soluções viáveis em escala industrial para diminuir e gerenciar o lixo plástico, procurando formas de utilização desse descarte para tornar viável a chamada economia circular. Entre seus associados estão gigantes como P&G, Mitsui Chemicals, Henkel, Basf, a Braskem e a LyondellBasell, companhia que está em negociações bem avançadas para a compra do controle da petroquímica brasileira.