São Paulo – As sirenes do sistema de segurança que não tocaram no Complexo do Feijão, em Brumadinho – e que poderiam ter evitado uma das maiores tragédias da história do Brasil –, acenderam o sinal de alerta em várias companhias do setor mundo afora.
Durante toda a semana, executivos da anglo-australiana BHP Billiton realizaram, na sede da companhia, em Melbourne, na Austrália, diversas reuniões para tornar as normas e protocolos de segurança ainda mais rigorosos. “Estamos perplexos e profundamente abalados com as duas tragédias ocorridas em Minas Gerais nos últimos anos, envolvendo a Samarco e, agora, a Vale”, disse um alto executivo da BHP, que pediu para não ter seu nome relevado. “Vamos tornar nossos procedimentos de segurança ainda mais rígidos a partir de agora, não só em nossa maior operação, aqui na Austrália, mas em todas as unidades sob nossa responsabilidade no mundo.” A BHP Billiton, para relembrar, é sócia da Vale na Samarco, detentora de 50% do capital.
''Houve muitos avanços na questão da segurança das empresas, mas essa evolução pode ter gerado muita confiança e uma certa complacência''
David Cliff, professor de saúde ocupacional e segurança
A promessa de aprimoramento da segurança não significa, no entanto, que haverá alguma mudança concreta. Essa movimentação no setor da mineração já havia ocorrido após o desastre em Mariana, considerado o pior incidente ambiental do Brasil, que provocou a morte de 19 pessoas.
Na realidade, o rompimento das barragens dos complexos de Germano e do Feijão, da Samarco e da Vale, respectivamente, não significam grandes transformações no modus operandi das mineradoras de grande porte. Em Minas Gerais, predomina o uso barragens para descarte dos rejeitos, mas, mundialmente, a extração do minério de ferro é feita em minas profundas.
Isso facilita o descarte pelo sistema de cavas, considerado mais seguro e o que está sendo proposto pela Samarco para voltar a operar. Mesmo assim, as grandes mineradoras globais registram forte aumento no número de acidentes fatais desde 2015, quando a queda da cotação do minério de ferro as obrigou a promover fortes cortes de custos. No caso da BHP, por exemplo, foram registradas cinco mortes em operações na Austrália, África do Sul e Chile no mesmo ano em que a barragem de Mariana se rompeu.
Também em 2015, outra potência do setor, a Rio Tinto, confirmou a morte de três funcionários entre janeiro e agosto, de acordo com reportagem publicada pela Dow Jones Newswires. Já em 2014, outras duas haviam sido contabilizadas. A Anglo American reportou cinco mortes em 2015. Um ano antes, foram seis óbitos. A mineradora Glencore teve 16 mortos em 2014 e oito em 2015. “Houve muitos avanços na questão da segurança das empresas, mas essa evolução pode ter gerado muita confiança e uma certa complacência”, diz David Cliff, professor de saúde ocupacional e segurança na mineração da Universidade Queensland, na Austrália.
DESAFIO A justificativa para os acidentes, tanto no dia a dia da operação quanto em ocorrências inesperadas, como o rompimento de barragens, é semelhante entre as grandes mineradoras: a topografia das áreas onde o minério é encontrado. A Glencore alegou, na reportagem da Dow Jones, que a maioria das fatalidades que ocorreram se deram em “geografias desafiadoras, que não tinham cultura de segurança” antes de a companhia assumir.
Grande parte dos acidentes de mineração ocorre, no entanto, em minas fora do controle das grandes empresas. Recente exemplo disso foi a dramática ocorrência com os 33 mineiros chilenos que ficaram presos por 69 dias. A mina era administrada por uma pequena empresa local, a Compañia Minera San Esteban Primera.
Analisando globalmente, porém, a China continua a liderar, com folga, o número de acidentes fatais na mineração. Somente no ano passado, pelo que se sabe, foram 346 mortes. Apesar disso, as mortes vêm caindo vertiginosamente. Houve 7 mil vítimas fatais em 2002.