Brasília – O amplo processo de digitalização da última década, envolvendo sites, aplicativos e o próprio setor financeiro, mudou a forma de consumo das pessoas e colocou em xeque a existência de moedas e cédulas como formas de pagamento. Ainda que seja cedo para falar no fim do dinheiro em espécie, já que milhares de pessoas ainda utilizam esse recurso frequentemente para pagar suas compras, não há dúvida de que, em algum momento do futuro, elas ficarão obsoletas. Há, inclusive, quem vá além e preveja o fim dos cartões, já que hoje já é possível efetuar pagamentos por meio do celular, por exemplo. E é só o começo.
Fazer dinheiro custa dinheiro. Para produzir R$ 1 mil em cédulas de R$ 100, o gasto é de R$ 322,26. A mesma quantia em moedas de R$ 1 gera desembolso pelo estado de R$ 467,70. Isso significa que parte significativa do valor é perdida no processo de produção. Para as novas gerações, já não faz mais tanto sentido levar notas e moedas na carteira, diante da possibilidade de fazer transações financeiras por meio de dispositivos eletrônicos.
A Federação Brasileira dos Bancos (Febraban) avalia que não há previsão sobre quando o dinheiro físico vai deixar de ser usado, mas entende que os canais digitais ganham cada vez mais espaço como alternativa a operações com papel-moeda. De acordo com a última edição da Pesquisa Febraban de Tecnologia Bancária, o número de transações com movimentação financeira por meio de ferramentas digitais subiu de 4,4 bilhões, em 2016, para 5,3 bilhões em 2017.
A entidade avalia que o movimento tende a se acentuar em função da praticidade e da segurança que as novas tecnologias possibilitam. Mesmo assim, dados do Banco Central mostram que, atualmente, há um volume de 6,27 bilhões de cédulas circulando no país, o equivalente a R$ 232,7 bilhões. Esse número vem aumentando. Em 2011, por exemplo, havia 4,48 bilhões de notas, no valor de R$ 136,11 bilhões.
Uma das razões que podem explicar o aumento é a falsa sensação dos comerciantes e da população de que os pagamentos feitos com cédulas e moedas não têm custo, diferentemente de outros meios, que cobram algum tipo de tarifa. “A visão de que o dinheiro não tem custo é equivocada. Desde a produção das cédulas até a sua distribuição nas agências bancárias, há um custo elevadíssimo que as pessoas desconhecem”, explica Walter Faria, diretor adjunto de Operações da Febraban.
Realizar um pagamento nunca foi tão fácil para o consumidor como nos dias atuais. Segundo dados da Associação Brasileira de Empresas de Cartões de Créditos e Serviços (Abecs), no terceiro trimestre de 2018, as compras com cartões de crédito, de débito ou pré-pagos cresceram 14,7%, em comparação ao terceiro trimestre de 2017. É o maior avanço desde 2014. No período, a população brasileira movimentou R$ 391,1 bilhões em transações, com maior peso para o cartão de crédito: R$ 244,4 bilhões.
Otimização
As soluções digitais que facilitam o pagamento surgem a todo instante. Serviços como o de transporte de passageiros e entrega de alimentos foram dominados pelas novidades tecnológicas.E esse movimento de inovação diminuiu a necessidade do dinheiro, com várias possibilidades de pagamento por meio de celulares e computadores.
Startups financeiras têm desafiado o oligopólio estabelecido durante décadas por poucas instituições financeiras. Uma das principais, o Nubank, já recebeu US$ 420 milhões e tem valor de mercado equivalente a US$ 4 bilhões. “Iniciamos nossa jornada com um cartão de crédito sem anuidade e com juros competitivos. A partir daquele momento, as pessoas passaram a ter uma agência no bolso”, diz Vítor Olivier, líder da NuConta, um dos produtos da empresa.
O movimento de digitalização foi acompanhado pelo Banco Central (BC) nos últimos anos. De acordo com a autoridade monetária, o volume de cheque caiu para 479 milhões em 2017, redução de 60,9% ante 2009. No mesmo período, o uso de cartões de crédito e de débito evoluiu de 5,2 bilhões para 14,3 bilhões. Operações feitas por celular e outros aparelhos, por sua vez, cresceram de 96 milhões para 24,5 bilhões.
(*) Estagiário sob a supervisão do subeditor Odail Fiqueiredo