(none) || (none)
UAI
Publicidade

Estado de Minas

Conheça o lado agro das grifes de luxo

Marcas icônicas como Ermenegildo Zegna, Chanel, Hermès, Dior e Louis Vuitton investem na produção no campo para obter as matérias-primas que fazem a fama de suas peças exclusivas


postado em 28/02/2019 06:00 / atualizado em 28/02/2019 10:12

Desfile da Louis Vuitton: companhias de luxo começaram a investir com força no modelo de negócio sustentável (foto: Anne-Christine POUJOULAT/AFP )
Desfile da Louis Vuitton: companhias de luxo começaram a investir com força no modelo de negócio sustentável (foto: Anne-Christine POUJOULAT/AFP )

São Paulo – As grifes de luxo costumam ser associadas aos grandes centros urbanos, às lojas elegantes em cidades como Nova York, Paris e Milão e às modelos de fama internacional. Essa imagem, construída de bom grado pelas próprias empresas, não encerra todos os aspectos que envolvem o negócio bilionário de marcas como Ermenegildo Zegna, Hermès, Chanel, Dior, Armani, Prada, Louis Vuitton e tantas outras famosas pela sofisticação. Há um lado pouco conhecido das grifes que tem chamado cada vez mais a atenção: a conexão delas com o universo agro.

Apesar de o casamento do luxo com o campo ter raízes históricas, um movimento crescente aproximou ainda mais os dois mundos nos últimos anos. “Em tempos de preocupação com sustentabilidade, de respeito ao meio ambiente e de produção equilibrada em todas as pontas do negócio, as grandes grifes de luxo estão investindo cada vez mais na chamada integração vertical”, diz Eduardo Tancinsky, consultor especializado em marcas. “Com a integração vertical, elas passam a ter o controle total do processo e usam isso como um chamariz para dizer ao mercado que seus produtos possuem qualidade superior.”

Se a integração vertical funciona como uma jogada esperta de marketing para seduzir consumidores cada vez mais conscientes (que empresa não quer escancarar para o mundo que seu couro de crocodilo vem de uma fazenda sustentável?), ela também contribui para a melhora dos resultados financeiros.

“Pesquisas recentes mostram que a verticalidade, se bem aplicada, dinamiza o processo produtivo e ajuda a reduzir custos”, diz Tancinsky. Isso explica por que as companhias titânicas de luxo começaram a investir com força nesse modelo de negócio, colocando literalmente o pé na lama.

O grupo francês Kering, dono de marcas como Balenciaga, Gucci e Yves Saint Laurent, comprou em 2017 uma fazenda tailandesa produtora de cobras píton. Com até sete metros de comprimento, as cobras píton são as maiores serpentes do mundo e fornecem a matéria-prima para a produção de bolsas da marca Gucci, que custam a partir de dois mil euros nas lojas de Paris.

A ligação da Kering com o universo agro é íntima. Não à toa, sua diretora de sustentabilidade é uma engenheira agrícola que chegou a ser ministra do Meio Ambiente da França entre 2010 e 2012. Contratada em 2013 para tornar os processos do conglomerado mais sustentáveis, Marie-Claire Daveu é uma das autoras do plano estratégico de 10 anos elaborado pelo grupo para fortalecer a sua pegada ecológica.

Atualmente, a executiva está trabalhando com fazendeiros de cabras da Mongólia para garantir suprimentos mais sustentáveis de caxemira e com produtores de lã fina da Nova Zelândia para que desenvolvam técnicas menos agressivas ao meio ambiente. Marie-Claire também garante que o ouro usado nos acessórios das marcas da empresa foi “eticamente minerado”, o que significa, segundo ela, que sua extração gera os mínimos danos possíveis ao planeta.

A aposta na integração vertical é a principal responsável pelo recente fortalecimentos dos braços agros das grifes de luxo. Famosa pelas gravatas de seda e pelos artigos de couro, a Hermès tem investido com assiduidade em animais vivos.

Nos últimos anos, a empresa fundada em 1837 na França comprou uma fazenda de jacarés na Louisiana, nos Estados Unidos, e duas fazendas de crocodilos na Austrália. Para administrar esses empreendimentos, não basta ter apenas estilistas, designers e costureiros, os profissionais mais requisitados – e bem pagos – do universo do luxo, mas um pequeno exército de biólogos e engenheiros agrícolas, assim como fazem as grandes líderes globais do ramo do agronegócio.

A redescoberta agrícola também transformou a estratégia de negócios da grife Ermenegildo Zegna, que começou a construir a reputação de seus de ternos de lã a partir de 1910, quando foi fundada por um alfaiate de Trivero, na Itália. Mais de um século depois, Paolo Zegna, herdeiro da marca, resolveu se embrenhar no campo.

Todos os meses, ele troca a moderna sede da empresa em Milão pela empoeirada Armidale, a 500 quilômetros de Sydney, na Austrália. É nessa cidade, rodeada por rios e chão de terra batida, que as lãs superfinas usadas nas roupas da Ermenegildo são produzidas. Nas ocasiões em que visita a fazenda, algo cada vez mais comum depois que Paolo tomou gosto pela vida rural, o executivo deixa de lado os suéteres bem cortados para vestir jeans, mangas de camisa, botas e chapéu de caubói.

Batizada de Achill, a propriedade está no ramo de criação de ovelhas há mais de um século, e pertence à grife italiana desde 2014. Para Paolo, a decisão de comprar a fazenda não poderia ter sido mais acertada. “Achill nos permitiu fechar o círculo”, disse Zegna em entrevista publicada pelo jornal australiano The Saturday Paper. “Os clientes de hoje querem saber de onde vieram os produtos que estão comprando. Agora podemos dizer que nosso negócio vai desde a criação de ovelhas até a gestão das lojas.”


receba nossa newsletter

Comece o dia com as notícias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, faça seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)