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Estado de Minas

Sem regulação, apps de entrega se multiplicam em Belo Horizonte

Motociclistas confessam descumprir regras de trânsito para entregar os produtos no tempo estabelecido pelo app e conseguir ganhar premiações


postado em 10/03/2019 06:00 / atualizado em 10/03/2019 07:42

Priscila Lima concilia prazer de dirigir motos e a remuneração que buscava, enquanto Josias Xavier viu ganho subir 50%, mas deu adeus a folgas(foto: fotos: Juarez rodrigues/em/d.a Press - 18/2/19 )
Priscila Lima concilia prazer de dirigir motos e a remuneração que buscava, enquanto Josias Xavier viu ganho subir 50%, mas deu adeus a folgas (foto: fotos: Juarez rodrigues/em/d.a Press - 18/2/19 )

Já virou rotina, ao passar no quarteirão fechado da Praça Diogo de Vasconcelos, a famosa Praça da Savassi, na Região Centro-Sul de BH, ver as mochilas quadradas e coloridas dos motoboys perfiladas nos bancos e muros. Mais que ponto de encontro, o local retrata um mercado que vem mudando os hábitos de consumo dos brasileiros, os aplicativos de entrega. Ainda sem regulamentação no Brasil, eles conectam clientes, estabelecimentos comerciais e motociclistas, movimentando o consumo via delivery. Por outro lado, também levantam questionamentos sobre irregularidades na relação de trabalho e incentivo à direção perigosa. Motociclistas confessam descumprir regras de trânsito para entregar os produtos no tempo estabelecido pelo app e conseguir ganhar premiações.


Com os celulares nas mãos, os motoboys aguardam as solicitações de entregas, de refeições a medicamentos e documentos. Os pedidos são feitos e pagos pelo cliente diretamente na plataforma. Os motociclistas pegam os produtos nos estabelecimentos cadastrados e levam até o cliente final, tudo por meio da tecnologia. Os aplicativos cobram percentual do valor do produto, que varia, em média, de 15% a 25%. E o motociclista recebe pela corrida, muitas delas gratuitas para o consumidor final.


São poucas as estatísticas disponíveis sobre o setor, que reúne mais de uma dezena de aplicativos. O iFood, líder em delivery on-line de comida na América Latina, contabiliza 14,1 milhões de pedidos mensais e 10,8 milhões de usuários cadastrados no Brasil, México e Colômbia. Somente no Brasil, são 55 mil restaurantes cadastrados em 483 cidades. A Rappi, que chegou no ano passado a BH, registra 30% de crescimento mensal.

De acordo com a BHTrans, nos últimos cinco anos, o contingente de motoboys cadastrados, aqueles que trabalham com a placa vermelha, exigida para exercer a atividade de motofrentista na cidade, aumentou 92%, passando de 3.438, em 2013, para 6.620 no ano passado. Os números estão longe de retratar o aquecimento do setor na capital mineira, já que muitos trabalham sem cumprir a regulamentação, numa polêmica que caminha na direção da briga entre taxistas e aplicativos de transpoorte de passageiros.

Depois dos apps, a advogada Ana Paula Eloi, de 27 anos, virou adepta do serviço de delivery. Na calculadora, ela descobriu que pedir seu almoço por apps e comer no escritório, além de poupar tempo faria com que ela poupasse dinheiro. “Enquanto  pago R$ 18 na rua, consigo gastar cerca de R$ 13 nos aplicativos em restaurantes excelentes”, diz. Quanto à taxa de entrega, ela nem se preocupa. “Sempre faço pedidos que aparecem com entrega grátis”, diz.

No dia da entrevista, ela havia acabado de almoçar um bife à parmegiana de uma pizzaria renomada de BH. “Paguei R$ 25 e dividi com a minha amiga. O prato no restaurante deve ser uns R$ 70”, reforça. Sem o hábito de pedir delivery antes dos aplicativos, o que a fisgou foram as promoções. “Consigo comer comida boa, com preço bom e sem sair do escritório”, comenta.

As ofertas dos aplicativos também foram chamariz para o advogado Bernardo Paolinelli, de 33. “Com proposta mais agressiva de enviar promoções para o cliente, por causa da grande concorrência, acabo comprando mesmo sem ter necessidade. Outro dia, comi um açaí por R$ 8, com a taxa de entrega, sendo que na rua eu pago R$ 15. Falou que é promoção a gente pede, né?”, comenta.

Bater metas Se, para o cliente, o app mudou o hábito de consumo, no caso dos motociclistas, também alterou completamente a lógica do setor, antes dominado por cooperativas de motofrete e os chamados “expressos”, empresas de delivery em que motoboys tinham vínculo empregatício. Agora, eles trabalham como autônomos e ganham de acordo com a produção.

Desde que migrou dos chamados “expressos”, empresas que reúnem os motociclistas, para os aplicativos, o motofretista Josias Xavier, de 41, viu seu rendimento subir mais de 50%. Em compensação, folga foi palavra cortada da sua vida. “Sou cadastrado em sete aplicativos. Pego das 11h às 23h todos os dias, é muito difícil folgar”, afirma Xavier, que relata que a maioria dos colegas migrou para as plataformas. Além disso, muitos novatos também entraram no ramo, rodando sem a placa vermelha.

O motoboy Eduardo Ferreira, de 30, que antes trabalhava como motorista de ambulância, viu no aplicativo a chance de fugir do desemprego. E ele reconhece que se arrisca para faturar. “A gente tem que fazer cinco entregas em duas horas para bater a meta e ganhar prêmio de R$ 70, R$ 100. Então, temos 10 minutos pra chegar ao local. A gente avança sinal na moral. É uma aventura pra ganhar”, diz.

Ele lembra que, em fevereiro, um colega foi parar embaixo de um caminhão na Praça da Savassi. “Já vi amigo morrendo por causa de aplicativo. Tem muita gente acidentando”, afirma. O EM noticiou, em 15 de fevereiro, a morte de um motociclista numa batida com um caminhão, mas a Polícia Militar (PM) não informou a causa do acidente.

Depois de fechar sua lanchonete, Priscila Lima, de 35, enxergou no mercado das entregas por aplicativo a possibilidade de fazer dinheiro. Cadastrada em dois aplicativos,  ela circula pela cidade com a mochila quadrada nas costas e afirna que a meta é  chegar aos R$ 4 mil por mês.


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