São Paulo – Você já imaginou ficar mais jovem sem gastar fortunas com plásticas ou cremes caríssimos, apenas tomando cápsulas de beleza? Isso, com o avanço da ciência, está se tornando uma realidade – e desponta como a mais recente fronteira para a expansão dos negócios dos grandes laboratórios.
Um dos exemplos mais emblemáticos desse movimento é a parceria entre a francesa L’Oréal, maior empresa de cosméticos do mundo, e a suíça Nestlé, líder mundial em alimentos. Juntas, elas lançaram o Innéov, considerado o nãoremédio mais avançado atualmente para queda de cabelos. Gigantes como Pfizer, Shiseido, Skinside e Nu trikosm também buscam rejuvenescer seus negócios fazendo a mesma aposta.
A peça-chave da estratégia são os nutricosméticos, que nasceram da combinação de pílulas, vitaminas, minerais e enzimas. Eles começaram a chegar ao mercado há mais de uma década, mas demorou até que conseguissem conquistar a confiança de médicos e de pacientes.
Agora, viraram febre. De acordo com a presidente da Sociedade Brasileira de Nutrição em Estética (SBNE), Aline Schneider, mais de 20 mil nutricionistas estão se atualizando na área de nutrição estética. Em 2019, a previsão é de um aumento de 18% no número de profissionais especializados.
“A cada ano, temos índices de crescimento no mercado de beleza, uma vez que muitas pessoas que não são adeptas à questão de cirurgia buscam tratamentos alternativos para melhorar sua aparência física, principalmente em relação à prevenção do envelhecimento e outras características físicas que são tratadas dentro da nutrição estética”, afirma. Somente nos Estados Unidos, estima-se que esse mercado movimentou US$ 230 bilhões no ano passado.
Uma das principais fabricantes de nutricosméticos do país, a Naiak, do Grupo RK, de Brasília, endossa essa expansão. Segundo a diretora da empresa, Romy Milagres, as vendas vêm crescendo exponencialmente nos últimos anos, e aceleraram desde 2018. “Enquanto a projeção para o desempenho do setor foi de 7% em todo o mundo, houve um crescimento de 20% no mercado brasileiro, provando que o país está avançando muito acima da média global.” Para a executiva, a perspectiva para 2019 e para os próximos anos é de um amadurecimento do setor – tanto em termos regulatórios, que já se iniciou, quanto de toda a sociedade, quanto aos benefícios que esses produtos podem trazer, junto com bons hábitos de alimentação, exercícios físicos e saúde mental. “A busca por mais qualidade de vida abre portas para produtos naturais e a suplementação adequada”, afirma Romy. Vale lembrar que o Brasil é o terceiro maior mercado de suplementos no mundo, ficando atrás apenas dos Estados Unidos e da Austrália. De acordo com os resultados do 38º relatório Webshoppers, da Ebit, no primeiro semestre de 2018 o e-commerce brasileiro cresceu 12,1%, e coloca o setor de saúde, cosméticos e perfumaria em primeiro lugar no volume de vendas totais no comércio online.
De acordo com a nutricionista Thaíza Nunes, diretora da E4 Agência, organizadora do Meeting Brasileiro e Nutrição Estética (MBNE), a grande vantagem do nutricosmético é a possibilidade de desenvolver fórmulas específicas para a necessidade de cada pessoa. “O nutricosmético é desenvolvido a partir de demandas dos consumidores por produtos que atendam às suas principais queixas. Nesse sentido, seu consumo garante o equilíbrio necessário à manutenção do organismo, influenciando diretamente na estética do indivíduo. Existem cápsulas com diferentes combinações de vitaminas e minerais que são mais favoráveis para a absorção do organismo em relação aos produtos convencionais.”
No exterior, as pílulas já são um sucesso entre homens e mulheres. São mais conhecidas para atenuar rugas, melhorar o viço da pele e fortalecer unhas e cabelos, mas têm sido usadas também para combate a problemas de articulações, por exemplo. Mas é na dermatologia que os nutricosméticos têm sido muito utilizados na prevenção do envelhecimento e no tratamento de algumas enfermidades, especialmente naquelas que afetam a pele, como acne, rosácea, melasma e dermatites crônicas. Eles são comercializados na forma de cápsulas gelatinosas, misturadas em sucos e sopas ou até chocolates, compostos por substâncias bioativas naturais concentradas, geralmente presentes nos alimentos. Biotina, niacina, ácidos graxos, ômega 3, cobre, selênio, zinco, silício, vitaminas C e E são alguns compostos encontrados nos nutricosméticos.
Por esse motivo, a atuação da nutrição estética cresce e cada vez mais exige profissionais capacitados para alcançar excelentes resultados, uma vez que não é um tema tratado detalhadamente na graduação em nutrição. “A maioria dos nutricionistas formados no Brasil não aprende nada a respeito de nutrição estética, ou, quando isso acontece, é de uma forma muito superficial. São raríssimos os cursos que têm algum nível de abordagem à nutrição estética, enquanto formação básica. Por isso, há necessidade de o profissional que tem interesse ou atua nesse contexto se qualificar”, completa Alin e Schneider.
Com o aumento significativo de novos profissionais na área, o mercado poderá observar, consequentemente, um crescimento importante na prescrição de suplementos e nutracêuticos, como ômega-3, whey protein e colágeno, além dos produtos com origem vegetal, como a proteína de ervilha e o óleo de Pequi. Para Gustavo Negrini, diretor da E4 Agência, o mercado acordou e percebeu que o grande consumidor desses produtos é a mulher. “O comércio especializado está entendendo o que é o nutricosmético e, por isso, a mulher terá cada vez mais produtos voltados à sua saúde. Ela será o principal foco deste mercado em poucos anos”, afirma.