Às vésperas da mobilização anunciada por caminhoneiros contra os preços dos combustíveis e o descumprimento da tabela de frete mínimo, o que se vê é uma categoria dividida entre fazer um protesto pontual ou uma greve que paralise o Brasil nos moldes do que ocorreu no ano passado. As conversas nos vários grupos de WhatsApp – a alguns dos quais o Estado de Minas teve acesso – mostram um racha político: quem é contra o movimento é classificado como defensor do governo de Jair Bolsonaro (PSL), enquanto aqueles que defendem a greve são acusados de apoiar a esquerda e querer desestabilizar o Palácio do Planalto.
Fato é que os rumores sobre a greve dos caminhoneiros são cada vez maiores – embora oficialmente esteja previsto apenas um protesto no sábado pela manhã. As entidades representativas da categoria alegam que não há como controlar os trabalhadores e as conversas pelos aplicativos de telefone, mas asseguram que não existe mobilização suficiente para uma greve geral.
Na dúvida, o governo federal vem monitorando as informações e, na quarta-feira, a Petrobras anunciou o congelamento nos preços do diesel por 15 dias e o lançamento do Cartão Caminhoneiro. Voltado para autônomos e proprietários de frotas de caminhões, a promessa é que o cartão viabilizará a compra de diesel a preços fixos nos postos com a bandeira BR.
Para a categoria, ainda é pouco. “O negócio está começando a pegar fogo. Estamos propondo fazer uma carreata no sábado, mas se por vontade própria os caminhoneiros pararem e fecharem as pistas, eu não vou abandoná-los. Mas não incentivo uma paralisação agora”, avisou Plínio Dias, presidente do Sindicato dos Transportadores Autônomos de Carga (Sinditac) em São José dos Pinhais, no Paraná. Surgiu do Sinditac a convocação para o protesto amanhã, em todo o país.
Na avaliação de Plínio Dias, o momento é para deixar um alerta ao governo Bolsonaro: se a situação dos caminhoneiros não melhorar, o Brasil pode parar novamente em 21 de maio, quando completa um ano desde o início da greve de 2018. A grande reclamação da categoria está a tabela de frete, que, além de não ter sido reajustada desde julho do ano passado, não é cumprida. Os caminhoneiros alegam que a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) não só não fiscaliza o cumprimento da legislação, como não aplica corretamente as multas às empresas.
O Sinditac cita como exemplo o frete no trecho entre Curitiba e São Paulo, que, pela tabela, deveria ser remunerado em R$ 1,3 mil, mas os caminhoneiros não recebem mais que R$ 1 mil. No trajeto de Curitiba a Rondônia, a tabela de R$ 18 mil é reduzida para cerca de R$ 12 mil. “Se a lei fosse cumprida, a cada reajuste do diesel, a tabela teria que aumentar”, lamenta o sindicalista.
Paciência
A direção do Sindicato das Empresas de Transportes de Carga do Estado de Minas Gerais (Setsemg) acredita que a disposição do governo para negociar com os caminhoneiros pode demover boa parte da categoria da ideia de paralisar já amanhã. “As principais lideranças do segmento não estão acreditando na greve. Mas há sim pessoas que têm o interesse político de desestabilizar o atual governo. Não sou aliado do governo, mas ele está de portas abertas para negociar”, disse Domingos de Castro, diretor do Setsemg.
Há quem diga que o apoio dos caminhoneiros ao governo Jair Bolsonaro é que faz com que a categoria tenha tido “paciência” com os três primeiros meses de governo. “Somos a categoria que mais apoiou o Bolsonaro. Acreditamos que 90% dos caminhoneiros votaram nele. A esquerda está querendo entrar no movimento para prejudicar o presidente, usar a nossa categoria para manobras políticas”, reclamou Daniel Oliveira da Silva, caminhoneiro há 15 anos em Minas Gerais.
Articulador do movimento em Três Pontas, no Sul de Minas, Daniel Oliveira contou que a expectativa é de que o protesto de amanhã se limite a uma carreata na região. Em Minas, há protestos marcados também nas regiões Oeste (Oliveira) e Zona da Mata (Muriaé). Hoje, continuam as articulações em todo o país para a participação de mais profissionais.