São Paulo – Nos últimos anos, os clubes de assinatura se consolidaram como uma das grandes revoluções do modelo de negócio do varejo tradicional. Receber em casa garrafas de vinho selecionadas por especialistas renomados, cervejas importadas de países pouco conhecidos dos brasileiros – como os do Leste Europeu – ou mesmo livros adultos e infantis se tornaram prática comum na casa de milhares de famílias.
Prova disso é que, pelos cálculos da Associação Brasileira de Comércio Eletrônico (ABCom), os negócios envolvendo os clubes de assinaturas dispararam como nunca no Brasil, com aumento de 167% nos últimos quatro anos. Os especialistas acreditam que os números atuais devem se multiplicar nos próximos anos, à medida que a logística se fortalece e a criatividade de novos empreendedores seduz consumidores.
“O forte crescimento do mercado de clubes de assinatura revela que existe imenso potencial para a popularização dessa modalidade de venda no país”, afirma o economista e consultor de varejo Frederico Rocha. “A comodidade de receber em casa produtos que passaram por rigorosa curadoria é um dos maiores apelos para que os clubes cresçam muito mais.”
Esse mercado não tem chamado a atenção apenas pelo ritmo de crescimento, mas por sua diversificação. Serviços que antes se limitavam à compra mensal de vinho, cerveja e livros avançam para produtos mais improváveis, como legumes e ovos. Um dos exemplos é a Expresso Ovos, em Brasília, que entrega o produto na casa ou no trabalho do cliente.
As assinaturas podem ser semanais, quinzenais e mensais, com preços a partir de R$ 12,99, e que variam de acordo com a quantidade e a periodicidade dos pedidos. A empresa atende às regiões de Águas Claras, Asa Norte, Asa Sul, Candangolândia, Cruzeiro, Guará, Lago Sul, Noroeste, Sudoeste e Octogonal.
De acordo com o fundador, Daniel Melo, a ideia surgiu para oferecer ao cliente a experiência de entrega programada ao público, com a vantagem de ter um atendimento personalizado e ovos selecionados, com qualidade e procedência garantidas, por um preço justo. “Neste ano, nossa grande aposta será a entrega de produtos orgânicos, um mercado que não para de crescer.”
Os números endossam esse potencial. Em 2014, os clubes de assinatura chegavam a 300 empreendimentos, como aponta pesquisa da ABCom. Em 2017, subiram para 800 empresas do ramo. No Brasil, o movimento anual é de R$ 1 bilhão, ainda distante dos US$ 10 bilhões nos Estados Unidos.
“O mercado comprova que os clubes de assinatura gradativamente conquistam a preferência dos consumidores que fogem dos atropelos nas filas das lojas e supermercados e procuram comodidade nas aquisições on-line”, diz Lidiane Oliveira, especialista em clubes de assinaturas da Vindi, plataforma especializada no setor. “O mercado de clubes de assinatura está se reinventando. O que víamos no começo sobre clube de produtos de beleza, hoje em dia, se transformou em um setor que atende a diversos nichos.”
Segundo Lidiane, a proposta básica é a contratação de serviços de entregas diretamente no domicílio dos interessados, que pagam uma importância mensal ou anual como participantes do modelo. Uma das maiores vantagens é o atendimento exclusivo, sem que seja necessário sair de casa para pesquisar produtos ou perder tempo em frente das prateleiras. “É um jeito simples de ampliar o leque de opções e conhecer e acessar as novidades”, afirma a profissional.
RETAGUARDA Entre os benefícios oferecidos pelos clubes de assinaturas estão o acesso a itens importados, nem sempre disponíveis no território brasileiro. Há de tudo um pouco – gêneros alimentícios, cafés tradicionais, vinhos, cervejas artesanais, queijos, doces, livros, roupas íntimas, gravatas, calçados, flores, itens pets e muito mais do que se poderia imaginar.
No caso da Vindi, a empresa oferece retaguarda e tecnologia de pagamento para 258 clubes de assinaturas no Brasil. Atualmente, 9% dos negócios estão em Minas Gerais, com um total de 24 empresas parceiras. No exercício de 2018, as transações da empresa somaram R$ 170 milhões. O tíquete médio evoluiu nos últimos quatro anos – de R$ 97,34 em 2015, para R$ 137,54 em 2018.
A popularização dos clubes de assinatura também se deve ao sucesso do mercado delivery no Brasil. Os serviços de entrega foram impulsionados pela crise – que sempre proporciona oportunidades de negócios para empreendedores atentos –, pela necessidade de o varejo tradicional se diversificar e pelo avanço tecnológico dos últimos anos. Se, antes, os pedidos eram feitos por telefone, hoje, os consumidores utilizam sites e aplicativos.
Segundo dados da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel), o mercado de delivery movimentou R$ 11 bilhões em 2018, alta de quase 10% em relação ao ano anterior. Nas grandes cidades, entregadores de empresas como iFood, Uber Eats e Rappi transformaram a paisagem urbana, comprovando que poucos negócios avançaram tanto no Brasil nos últimos anos. Líder do setor na América Latina, o iFood já está presente em 500 municípios brasileiros e registra, em média, 17,4 milhões de pedidos por mês.
Entrevista/ Lidiane Oliveira, especialista em clubes de assinaturas da Vindi
“O mercado triplicou nos últimos 4 anos”
O que explica a popularidade dos clubes de assinatura no Brasil?
O número de clubes de assinatura triplicou nos últimos quatro anos. Apesar de ser uma novidade, a modalidade de assinatura de um produto e entrega em domicílio muito se assemelha às já conhecidas assinaturas de jornais e revistas. A grande diferença dos clubes de assinatura está na curadoria e seleção dos produtos que são entregues.
A diversificação é uma das razões?
Com certeza. Abrangendo os mais diversos segmentos, como livros, alimentos, bebidas, flores e maquiagem, a comodidade de receber os produtos em casa também é um grande diferencial para o sucesso do modelo. Na maioria dos clubes, são apresentados aos consumidores alguns planos de assinatura, com enorme variedade de preços e produtos. Alguns clubes lançaram uma caixa especial, chamada “mistery box”, em que o cliente recebe produtos surpresa, mas sempre com um tema apresentado.
O ritmo de crescimento deve se manter nos próximos anos?
O mercado de clubes de assinatura está sempre se reinventando. O que víamos no começo eram apenas produtos de beleza. Hoje em dia, é um setor que atende a diversos nichos, como entregas de ovos, lâminas de barbear, roupas, vinhos, cervejas, flores e muito mais. É um mercado que ainda tem enorme potencial para ser explorado. Portanto, ainda veremos clubes surgindo por muitos anos, representando uma grande oportunidade para empreendedores.
Os brasileiros estão se sentindo mais seguros para aderir aos clubes?
A escolha em participar de um clube de assinatura é muito pessoal, vai do gosto e das necessidades de cada um. Mas já existem clubes muito bacanas no mercado, que têm muitos clientes satisfeitos. Ser assinante de um clube de assinatura traz inúmeras vantagens: receber seus produtos preferidos todos os meses em casa, pagar um preço fixo para isso, poder experimentar novos produtos e rótulos e escolher o que você deseja receber, entre outros.
Em cifras, como está o mercado hoje?
Em 2018, a estimativa é que o mercado de clubes tenha movimentado cerca de R$ 1 bilhão no Brasil. Em 2014, eram cerca de 300 empresas nesse setor. Em 2018, o número totalizou 800. Nós, da Vindi, atendemos mais de 250 clubes de assinatura, e esse número não para de crescer. O sucesso é inegável.