São Paulo – Os pesquisadores já começam a apresentar os resultados mais palpáveis para a carne desenvolvida em laboratório, obtida a partir de célula-tronco de bovino. Mas essa inovação não deverá ser motivo para convencer vegetarianos a ficar diante de um pedaço de costela ou de um hambúrguer.
No ano passado, o instituto Gallup ouviu os americanos e constatou que apenas 5% dizem ser vegetarianos e 3% se identificam como veganos. Entre os mais jovens, na faixa entre 18 e 29 anos, esse número sobe para 7% de vegetarianos e os mesmos 3% de veganos. Pesquisa do Ibope, divulgada em 2018, mostrou que 14% da população brasileira é vegetariana.
A americana Beyond Meat Inc., fabricante de produtos veganos que substituem frango e carne bovina, decidiu buscar, na bolsa de valores, o respaldo financeiro que precisa para expandir seus negócios. Seu capital está perto de ser aberto na Nasdaq e o objetivo é arrecadar até US$ 184 milhões no IPO (sigla em inglês para oferta inicial de ação). Será a primeira empresa desse segmento a ser listada em uma bolsa nos Estados Unidos.
Na última segunda-feira (22), o prospecto da empresa foi protocolado na SEC, a Comissão de Valores Mobiliários dos Estados Unidos. Serão ofertadas 8,75 milhões de ações por um preço que vai variar entre US$ 19 e US$ 21. Com essa estimativa, seu valor de mercado é calculado em cerca de US$ 1,2 bilhão.
As oportunidades de negócios geradas pelo crescente número de pessoas que não consomem carne ou querem ficar longe da proteína animal por conta dos danos ao meio ambiente chamaram a atenção de alguns dos maiores nomes da indústria de alimentos e de tecnologia. Entre os investidores da Beyond Meat, que é presidida pelo executivo Ethan Brown, estão Bill Gates, o ator Leonardo DiCaprio e até o ex-diretor-executivo da McDonald’s Don Thompson.
Mas não é só. Também colocaram recursos na empresa, se posicionando entre os maiores acionistas, a empresa de capital de risco Kleiner Perkins Caufield & Byers LLC, com 16% do negócio, e a Evident’s Obvious Ventures, cofundadora da Twitter Inc., com 9%.
UNIDADE DE PRODUÇÃO A Beyond Meat surgiu em 2009, tem sede em Los Angeles e, no início, se dedicava a oferecer um substituto ao frango congelado. Para se tornar mais conhecida, incorporou os hábitos de consumo de vegetarianos e veganos em seu desenvolvimento de produtos. Hoje em dia, seu alimento mais popular é um hambúrguer, o beyond burger. A marca é bem conhecida entre os americanos e costuma ser vendida em redes de varejo como Whole Foods e Kroger, além de fazer parte do cardápio de redes como TGI Friday’s (que tem negócios no Brasil) e A&W Canadá.
Em janeiro, a Beyond Meat anunciou que lançaria seu hambúrguer vegetal na cadeia de fast-food Carl’s Jr, que também tem lojas no Brasil. Com os recursos do IPO, os executivos pretendem aumentar os investimentos em pesquisa e desenvolvimento e construir uma unidade de produção.
Apesar de toda a expectativa quanto ao desempenho em bolsa, os investidores também estarão de olho na performance da Beyond Meat a partir de agora. Apesar de o faturamento estar em franco crescimento – de US$ 16,2 milhões em 2016, chegou a US$ 87,9 milhões no ano passado – ,a empresa ainda opera no vermelho. Seu prejuízo foi de US$ 29,9 milhões em 2018, ante US$ 30,4 milhões no ano anterior.
Ainda assim, muitos acreditam que a aposta vai ser frutífera. A gigante Tyson Foods Inc., a maior produtora de carne dos Estados Unidos, fechou parceria com a Beyond Meat para o desenvolvimento de proteínas alternativas à animal. A companhia investiu na Future Meat Technologies, em Israel, e, junto com os bilionários Bill Gates e Richard Branson, além da Cargill Inc., aportaram capital na Memphis Meats.