Engana-se quem pensa que o desemprego é alarmante apenas entre os jovens ou pessoas com menos experiência em suas áreas. Conforme o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), 6,9% dos desempregados no país têm entre 40 a 59 anos. Graduado em redes de computadores e pós-graduado em segurança de sistemas, Eduardo Montenegro, de 43 anos, está desempregado há dois anos e cinco meses. A empresa onde trabalhava faliu em dezembro de 2017, data que coincidiu com o nascimento de seu filho. “Fiquei desesperado, foi um baque muito grande pra gente”, conta.
Sem tempo para lamentação, Eduardo pegou o dinheiro da indenização trabalhista, comprou um Ford Fiesta e começou a trabalhar como Uber. Fazendo do carro seu escritório, ele consegue tirar cerca de R$ 2,5 mil por mês, mas para isso precisa trabalhar 15 horas por dia. “Compensar, não compensa, mas preciso, né? Já fui até sequestrado trabalhando, mas fazer o quê?”, indaga.
Enquanto trabalha como motorista, ele continua procurando emprego. Conta que, só em março, chegou a fazer 15 entrevistas, inclusive em outras áreas. No entanto, a maioria das vagas oferece salários menores do que consegue na atual função. “Tenho muita especialização, vários cursos e, inclusive, já até baixei minha média salarial. Mesmo assim, o RH das empresas acha muito alto e não me chama. Em 80% das entrevistas, fui barrado na pretensão salarial.”
Após a demissão, Marcelo teve que cortar os gastos em excesso e passou a trabalhar apenas como mestre de cerimônia, função que já exercia paralelamente desde quando se formou em relações-públicas. Mesmo com o grande tempo sem emprego, ele não perdeu a esperança. Diariamente, manda e-mails para empresas que tem vagas abertas. “Infelizmente, currículo é só suporte hoje. O que vale é quem indica, qualificação é segundo plano. Minha experiência está sendo um empecilho. Os empregadores olham a experiência e acreditam que o candidato vai pedir um salário alto. Acredito que, voltando pro mercado de trabalho, as portas se abrem. Quando você não é visto, você não é lembrado”, finaliza.
‘QUEM NÃO TEM CÃO...’
Augusto Henrique Meiva da Silva passou cinco anos na faculdade, seu sonho era ser um engenheiro de produção. Durante esse período, chegou a fazer dois estágios e acreditava que estava no caminho certo. Em dezembro de 2017, formou-se e, enfim, era um engenheiro. Começou a procurar emprego, enviar currículo, e-mails e perguntar a conhecidos se sabiam de vagas. A resposta, porém, era sempre a mesma: não. Passou oito meses procurando emprego, até que decidiu juntar o útil ao agradável e dar um basta naquele impasse.
Há alguns anos, Augusto havia feito um intercâmbio nos EUA, onde obteve o certificado TOEFL, que comprova a proficiência em inglês. Assim, optou por retornar à escola onde aprendera a língua no Brasil e apresentou o currículo aos diretores. Foi contratado em agosto de 2018, onde está até hoje lecionando e tem acesso aos direitos trabalhistas, inclusive a carteira de trabalho assinada.
Apesar do emprego garantido, em janeiro deste ano, Augusto voltou a procurar emprego na engenharia. Desde então, já participou de 10 processos seletivos, teve sete respostas negativas e aguarda outras três. “Minha intenção é conciliar as duas coisas que eu gosto de fazer: trabalhar de dia como engenheiro e, de noite, como professor de inglês”.