Pequim e São Paulo – Numa escalada na guerra comercial entre Pequim e Washington, a China anunciou ontem que aumentará suas tarifas aduaneiras sobre um montante de US$ 60 bilhões anuais em produtos importados dos EUA, em represália às medidas adotadas por Donald Trump. A partir de 1º de junho, serão aplicadas tarifas de 10%, 20% e até 25% sobre um conjunto de produtos americanos já taxados, anunciou o Gabinete da Comissão Tarifária do governo chinês.
Acompanhando o movimento global de moedas, o dólar à vista já abriu em alta por aqui, furando o teto de R$ 3,98, e rompeu a barreira dos R$ 4 ainda pela manhã, ao atingir máxima de R$ 4,0052. Com os agentes já reposicionados ao ambiente global, o dólar passou a trabalhar com alta ao redor de 1% durante a tarde e, com uma leve perda de fôlego no fim da sessão, fechou a R$ 3,9795, em alta de 0,87%. Em maio, a moeda americana já acumula valorização de 1,49%.
As novas negociações com o objetivo de dar fim à guerra comercial bilateral, apresentadas como a última oportunidade, acabaram na semana passada em Washington sem um acordo entre as duas potências. O presidente dos Estados Unidos aprovou na sexta-feira, como medida punitiva, um salto de 10% para 25% das tarifas de importação de produtos chineses que representam um montante de 200 bilhões de dólares por ano. Ele ainda pediu para taxar os US$ 300 bilhões restantes de importações chinesas.
Além da bolsa brasileira, oss principais mercados de ações globais sofreram grandes perdas ontem, devido ao ressurgimento do conflito comercial. Wall Street caiu quase 3% apenas uma hora após sua abertura, Londres recuou 0,55%, Paris, 1,22%, e Frankfurt, 1,52%. “O recrudescimento da retórica míngua a esperança de um acordo no curto prazo e reacende os temores quanto a uma desaceleração acentuada da economia global”, disse Sandra Peres, analista-chefe da Coinvalores em relatório a clientes.
Segundo Alvaro Bandeira, economista-chefe da Modal Mais, a dúvida entre os investidores é se Trump está apenas sendo o “fanfarrão” de sempre – utilizando as sobretaxações como forma de pressionar a China –, ou se ele levará a guerra comercial à frente. “Se ele voltar atrás, os mercados se recuperam. Mas se levar à frente, boa parte do estrago já terá sido antecipado”, afirma.
Enfrentamento Nos últimos dias, o governo chinês prometeu várias vezes que tomará “as medidas necessárias de retaliação”. A reação de Trump, hoje, pelo Twitter, foi ameaçadora: “A China não deve responder, isso só vai piorar (a situação)!”. O governo chinês confirmou, porém, sua determinação. “A China nunca cederá a nenhuma pressão externa. Temos a determinação e a capacidade de defender nossos legítimos direitos e interesses”, disse Geng Shuang, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores de Pequim ontem.
“Dissemos em várias ocasiões: o aumento das tarifas aduaneiras não resolverá nenhum problema”, destacou em coletiva de imprensa, na qual defendeu “um acordo em benefício mútuo” dos dois países. Antes das medidas anunciadas ontem por Pequim, quase todos os produtos americanos já tinham sido sobretaxados na China. As tarifas atingiam US$ 110 bilhões – de um total anual de US$ 120 bilhões – de importações dos EUA.
Boeing na mira? Pequim também poderia deixar de comprar produtos agrícolas e reduzir suas encomendas de aviões da Boeing, disse no Twitter Hu Xijin, influente editor-chefe do jornal chinês Global Times, próximo ao poder. O principal negociador comercial da China, o vice-primeiro-ministro Liu He, disse na sexta-feira que as negociações com os Estados Unidos continuarão em Pequim, mas não antecipou uma data.
Já o principal assessor econômico do presidente dos Estados Unidos, Larry Kudlow, disse que está prevista uma reunião entre Donald Trump e seu colega chinês, Xi Jinping, nos bastidores da cúpula do G-20, de 28 a 29 de junho em Osaka, Japão. O porta-voz Geng Shuang não confirmou esta possibilidade ontem, limitando-se a dizer que “os chefes de Estado chinês e americano permanecerão em contato permanente através de vários meios”.
Trump iniciou este conflito comercial no ano passado por causa de reclamações sobre práticas comerciais chinesas consideradas desleais. Os Estados Unidos pressionam a China para mudar sua política de proteção à propriedade intelectual, bem como subsídios maciços para empresas estatais e reduzir o grande déficit comercial. Desde o ano passado, Washington e Pequim impuseram tarifas sobre várias centenas de bilhões de dólares no comércio bilateral, prejudicando as exportações agrícolas dos EUA para a China e afetando seriamente os setores industriais das duas nações.
enquanto isso...
...Ministra mostra Brasil
para investidor chinês
A ministra da Agricultura, Tereza Cristina, apresentou dados do setor agropecuário e áreas com potencial de crescimento para um grupo de 40 investidores chineses com projetos no Brasil, ontem, em Xangai, na China. O encontro foi organizado pelo Banco do Brasil em parceria com o consulado brasileiro. Os investidores informaram que pretendem aumentar o montante aplicado no Brasil, em setores de sementes, suinocultura, infraestrutura e ferrovias. Conforme comunicado do ministério, os chineses revelaram interesse em obras ferroviárias, como a Ferrogrão – corredor ferroviário para escoamento de grãos da Região Centro-Oeste, que será construído entre Sinop (MT) e Itaituba (PA), onde fica o Porto de Miritituba. O projeto é orçado em US$ 3,37 bilhões e o edital deve ser lançado no quarto trimestre de 2019.