São Paulo – A chamada telehealth, que inclui na telemedicina a parte de telecomunicações no âmbito da saúde, deve movimentar no Brasil nos próximos cinco anos entre US$ 7 bilhões e US$ 8 bilhões. O cálculo é de Guilherme Hummel, coordenador científico do HIMMS (Healthcare Information and Management Systems Society) e autor de alguns livros sobre o tema.
Segundo o especialista e consultor na área, o investimento em recursos tecnológicos para acelerar a adoção do atendimento médico à distância é a única forma de cobrir a demanda crescente por serviços de saúde em larga escala.
“Hoje, no mundo, há uma população de 7,3 bilhões de habitantes e a estimativa é de 1,3 patologias por habitante. Não existe como a oferta de serviço chegar perto da demanda. Segundo a Organização Mundial de Saúde, no mundo hoje há um déficit de 8 milhões de médicos”, explica Hummel.
No caso do Brasil, lembra, há 57 milhões de pessoas que dependem da saúde suplementar e o resto da população depende dos serviços prestados pelo poder público. “Tanto o governo quanto as empresas de saúde suplementar estão quebrados. No Brasil, a sinistralidade média chega a 84%, segundo a Abramge (entidade que representa empresas de plano de saúde). E essa média é crescente. Sem tecnologia não será possível garantir atendimento.”
Health techs Esse potencial na área de saúde tem atraído desde grandes grupos, como Apple, Amazon, Google e IBM, a fundos de investimento e empreendedores que apostam nas health techs (startups ligadas a saúde). No ano passado, diz Hummel, os investimentos de fundos de venture capital (capital de risco) só na área de saúde foram da ordem de R$ 4 bilhões no Brasil.
Globalmente, as projeções dos grandes fundos de investimento apontam para valores que poderão chegar a US$ 100 bilhões por ano. ‘Os recursos para saúde são ilimitados no mundo”, avalia Hummel.
Para dar vazão à demanda crescente, o consultor acredita que a solução esteja na telehealth, com o atendimento remoto como porta de entrada e triagem dos pacientes. Esse recurso, diz, tem condições de resolver 70% dos casos em uma consulta. Os médicos, por meio das entidades de classe, têm se posicionado contra o avanço da telemedicina.
“Os médicos não estão preparados para isso, apesar de ser algo absolutamente banal. Ele faz uma série de perguntas que costumeiramente faria na consulta presencial, em consultas que em média demoram 7 minutos no Brasil. Esse contato vai servir para encaminhamentos e até para dizer ao paciente que é necessário ir imediatamente para um consultório ou hospital. Funciona como uma triagem, que é algo que não é feito no Brasil. Hoje, vão para a mesma fila procurar atendimento desde aquele que tem uma gripe até doenças mais graves”, diz.
Polêmica Em fevereiro, o Conselho Federal de Medicina (CFM) revogou a resolução 2.227/2018, que regulamenta a prática da telemedicina. Semanas antes, o mesmo conselho havia aprovado o texto, mas recebeu uma série de propostas para modificá-lo, além de ter sofrido com protestos por parte da classe médica. Com a mudança, estariam permitidos no país consultas, exames e cirurgias a distância. Os críticos questionaram a garantia de sigilo das informações médicas e os riscos quanto à qualidade do atendimento ao paciente.
“Haverá mudanças para os médicos, porque significará uma enorme demanda e uma nova política de remuneração. A teleconsulta vai avançar”, acredita o consultor.
Hummel calcula que, no máximo em cinco anos e com a regularização do serviço por parte do CFM, 20% a 25% das consultas médicas serão a distância, o que representará de 20 mil a 30 mil consultas anuais. “Será uma grande economia de recursos, porque essa é uma ferramenta facilitadora de redução de custeio.”