São Paulo – A novela da compra da Netshoes por grandes redes varejistas, um dos negócios mais aguardados do setor em 2019, ganhou um novo capítulo. O grupo SBF, dono da Centauro, anunciou ontem que aumentou consideravelmente a oferta para comprar a empresa. A proposta inicial, de US$ 87 milhões, foi ampliada para US$ 108,7 milhões, valor equivalente a US$ 3,5 por ação.
A Centauro enviou o fato relevante à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) dois dias após a Magazine Luiza elevar sua proposta pela varejista on-line em 50%, de US$ 62 milhões para US$ 93 milhões. A Centauro também propôs montar uma transação para viabilizar o aporte de até US$ 70 milhões na Netshoes e fechar contrato para oferecer seus produtos na plataforma digital da empresa.
Após a investida da Centauro, as ações da Netshoes subiram quase 20% na bolsa americana. Não é só. Desde a notícia da primeira oferta para a aquisição da rede varejista de eletrônicos, há uma semana, as ações da Netshoes disparam 80%, num dos melhores desempenhos entre todas as empresas listadas no mercado acionário americano.
A intensa briga entre as duas empresas chama a atenção e sugere um debate importante: por que a Centauro é uma empresa tão desejada? É consenso no mercado que a compra da Netshoes é o único caminho para que a Centauro sobreviva ao crescimento voraz da Magazine Luiza nos últimos 3 anos. Em 2018, o faturamento da Magazine Luiza s
No mercado de ações, a Magazine Luiza é um fenômeno. Desde o IPO (oferta inicial de ações, na sigla em inglês), em 2011, suas ações atingiram valorização de 1.000% como reflexo principalmente de uma estratégia comercial bem-sucedida. A companhia fez o que nenhum outro rival conseguiu: expandiu o seu e-commerce sem grande investimentos logísticos e promoveu grande integração das lojas físicas com a plataforma online.
A Centauro fez a sua estreia na B3 no dia 17 de abril. Em sua oferta pública inicial, captou R$ 772,2 milhões ao vender 61,776 milhões de ações a R$ 12,50. No pregão de ontem, a cotação da empresa fechou cotada a R$ 11,70.
“Pela força, eficiência e abrangência de sua atuação, a Magazine Luiza está virando uma espécie de Amazon brasileira”, diz Eduardo Tancinsky, consultor especializado em marcas e tecnologia. “Sem a Netshoes, a Centauro vai se tornar uma presa fácil para a concorrente. É por isso que essa tem sido uma das brigas mais veementes da história recente do varejo brasileiro”.
De acordo com os mais recentes dados disponíveis, a Centauro detém 5% do mercado esportivo. Sem a Netshoes, e com uma performance financeira errática nos últimos anos, a Centauro poderá ter seu futuro ameaçado.
Em 2019, com a leve retomada, o grupo SBF melhorou a sua performance financeira. No primeiro trimestre do ano, registrou prejuízo de R$ 4,1 milhões, um recuo de 58,9% ante as perdas de R$ 10,1 milhões no mesmo período de 2018. De janeiro a março, a receita líquida totalizou R$ 527,2 milhões, o que representa um avanço anual de 14,4%. Desse total, as receitas das lojas físicas subiram 10,6%, para R$ 435,8 milhões, enquanto na plataforma digital o avanço foi de 36,7%, para R$ 91,4 milhões.
Para a Magazine Luiza, comprar a Netshoes representaria um reforço na área de vestuário e fortaleceria sua tímida presença no segmento esportivo. Para a Centauro, o que está em jogo principalmente é a sua transformação digital, já iniciada nos últimos anos.
Apesar dos benefícios que o negócio pode oferecer aos compradores, há enormes desafios pela frente. Segundo o consultor Eduardo Tancinsky, a Netshoes vai precisar de investimentos pesados, considerando que está perto de pedir recuperação judicial. Tudo indica que, nos próximos dias, a novela finalmente chegará ao fim.