São Paulo – A guerra comercial travada entre o presidente Donald Trump e a fabricante chinesa de smartphones Huawei vai causar um rombo sem precedentes na história da companhia. Ontem, o CEO e fundador Ren Zhengfei, durante conferência com analistas e jornalistas, admitiu que em decorrência das restrições aplicadas pelos Estados Unidos a capacidade de produção da companhia despencará neste ano, com perdas estimadas em US$ 30 bilhões e corte na produção de 60 milhões de unidades.
A Huawei já havia reconhecido, na semana passada, que precisaria engavetar o lançamento de um novo modelo de notebook, por tempo indeterminado, em razão da proibição imposta pelo governo americano às empresas do país de negociar software e componentes a Huawei. No entanto, os mercados de smartphones e tablets eram os que mais preocupavam e que deveriam ser mais afetados.
Para amortecer o impacto da diminuição das vendas internacionais, a Huawei afirmou que vai intensificar os esforços comerciais no mercado doméstico chinês. A nova meta da marca é dominar mais de 50% das vendas de dispositivos móveis no mercado da China até o fim deste ano.
O objetivo é audacioso, já que a intensa e acirrada concorrência local, com marcas como Xiaomi, Vivo e Oppo, podem impedir que a Huawei alcance sua meta. Apesar disso, a Huawei tem a seu favor a liderança do mercado: no primeiro trimestre de 2019, a empresa respondeu por 34% das vendas de smartphones na China.
Ren Zhengfei afirmou que não acreditava que os Estados Unidos fossem tão agressivos nas restrições impostas a eles. Apesar disso, a companhia descarta demitir funcionários ou diminuir seus orçamentos e investimentos em pesquisa e desenvolvimento. E faz bem. Com as restrições americanas, a companhia se viu obrigada a intensificar os esforços para desenvolver tecnologia própria em áreas como software e semicondutores.
Ao colocar a Huawei na linha de tiro, os Estados Unidos apontam para três motivos. O primeiro é o fato de a companhia ser líder mundial no fornecimento de equipamentos para telecomunicação e internet. O segundo é que se tornou, no ano passado, vice-líder global na venda de celulares — passando a Apple. Já o terceiro motivo, e o que faz mais sentido a todos, é o futuro das conexões.
A rede 5G tem na Huawei seu principal e mais avançado player global. De acordo com o relatório The Geopolitics of 5G, produzido pelo Eurasia Group, a China está na dianteira da corrida tecnológica do 5G, com pelo menos cinco anos à frente dos demais países. E a Huawei foi decisiva para colocar os chineses — insignificantes no desenvolvimento das redes 3G e 4G — num lugar de destaque nessa disputa.
Atrapalhar os asiáticos por dois ou três anos pode fazer a briga pela liderança no 5G mudar de vencedor e ficar nas mãos de empresas mais alinhadas aos interesses americanos, como as europeias Ericsson e Nokia. O 5G é mais do que tecnologia. É, de fato, um instrumento de guerra.
Não se pode pensar nele como evolução de redes anteriores. Está mais para disruptivo do que evolutivo. Downloads serão feitos até 100 vezes mais rapidamente. Além de permitir esse ganho de velocidade, comportará um número exponencial de conexões de pessoas com máquinas, máquinas com pessoas e máquinas com máquinas.