São Paulo – Com uma alta de 0,90%, o Índice Bovespa finalmente alcançou ontem a inédita marca dos 100 mil pontos, fechando aos 100.303,41 pontos. Para isso, contou com a ajuda fundamental do Federal Reserve (o banco central dos EUA), que, ao retirar a palavra "paciente" de seu comunicado de política monetária, reforçou as apostas de cortes de juros nos Estados Unidos, beneficiando os mercados de ações em todo o mundo. "Não foi apenas o Fed. Foi o BCE ontem (terça), o Copom hoje (ontem) e também o Banco do Japão, que tem chances reais de cortar os juros", disse Álvaro Bandeira, economista-chefe da Modalmais. O economista afirma que a tendência de afrouxamento monetário e outros estímulos econômicos pelo mundo beneficia os mercados emergentes em diversos aspectos.
Bandeira também apontou o cenário político doméstico como fator positivo nesta véspera de feriado, com indicação de que o relatório da reforma da Previdência pode ser votado na comissão especial na próxima semana, tornando crível a previsão de votação no plenário até 15 de julho, antes do recesso parlamentar.
"A alta recente do Ibovespa vai chamar alguma realização de lucros, mas a tendência primária ainda é de alta, principalmente se houver suporte ao encaminhamento da reforma e se o cenário externo se acalmar", afirmou o economista, apostando na sustentação do novo patamar. Já para Vitor Miziara, gestor da Criteria Investimentos, a consolidação do Ibovespa no patamar acima dos 100 mil pontos no curto prazo é incerta, especialmente por conta da cautela do investidor com a reforma da Previdência. "Ainda está longe de a reforma da Previdência passar. O investidor estrangeiro só vai entrar na bolsa depois. E os locais, com bolsa acima de 100 mil pontos, tendem a diminuir o apetite", afirmou Miziara.
Na análise por índices setoriais da B3, o principal destaque do dia ficou com os papéis do Iconsumo (Icon), que subiu 1,44%, em boa parte puxado pela expectativa de que o Copom sinalize a possibilidade de cortes da taxa Selic este ano. As ações do setor financeiro também se destacaram e deram suporte à alta do Ibovespa. Banco do Brasil ON subiu 1,65%, Bradesco ON ganhou 2,33% e Itaú Unibanco PN teve alta de 1,58%.
Dólar O dólar teve ontem a segunda queda consecutiva e fechou em R$ 3,8492 (-0,30%). Assim como na terça-feira, foi o cenário externo que determinou o ritmo das cotações locais A sinalização pelo Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) de que pode cortar os juros em breve fez a moeda americana zerar a alta e passar a cair, renovando uma série de mínimas. Operadores observaram fluxo de estrangeiros durante a tarde, principalmente para a bolsa, que fechou acima dos 100 mil pontos pela primeira vez na história.
Em dia de noticiário local esvaziado, com o foco em Brasília na participação do ministro da Justiça, Sérgio Moro, em audiência pública no Senado, o mercado de câmbio teve oscilações contidas e poucos negócios até o final da reunião do Fed, às 15h. Após o comunicado sinalizar que metade dos dirigentes espera um corte este ano e que um dos dirigentes do Fed votou para cortar as taxas já nesta reunião, o dólar passou a cair no exterior e o movimento se replicou aqui.
"O Fed não está longe de cortar os juros", destaca a economista sênior do banco TD Bank, Leslie Preston. Ela aponta que recentemente mudou suas projeções e agora prevê duas reduções das taxas este ano, no segundo semestre. A economista ressalta ainda que chamou a atenção o número de dirigentes que começou a prever corte de juros em 2019 – 8 de 17 membros – e a intensidade das reduções das projeções futuras dos juros.
BC mantém Selic em 6,5%
Brasília – O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central decidiu, por unanimidade, manter a Selic (os juros básicos da economia) em 6,5% ao ano. Com isso, a taxa permaneceu no nível mais baixo da série histórica do Copom, iniciada em junho de 1996. Foi a décima manutenção consecutiva da taxa neste patamar. Apesar dos dados fracos de atividade divulgados recentemente, a decisão era largamente esperada pelos economistas do mercado financeiro. De um total de 56 instituições consultadas, todas esperavam pela manutenção da Selic no nível atual.
Ao justificar a decisão, o BC avaliou que a evolução do cenário básico e do balanço de riscos prescreve manutenção da taxa Selic no nível vigente. "O Comitê entende que essa decisão reflete seu cenário básico e balanço de riscos para a inflação prospectiva e é compatível com a convergência da inflação para a meta no horizonte relevante para a condução da política monetária, que inclui o ano-calendário de 2019 e, principalmente, de 2020", completou o documento.
O BC evitou dar sinalizações claras sobre as próximas decisões do colegiado. O comunicado apenas repetiu que os próximos passos da política monetária continuarão dependendo da evolução da atividade econômica, do balanço de riscos e das projeções e expectativas de inflação.
No documento, o BC também atualizou suas projeções para a inflação. No cenário de mercado – que utiliza expectativas para câmbio e juros do mercado financeiro, compiladas no relatório Focus –, o BC alterou sua projeção para o IPCA em 2019 de 4,1% para 3,6%. No caso de 2020, a expectativa passou de 3,8% para 3,9%.
No cenário de referência, em que o BC utilizou nos cálculos uma Selic fixa a 6,5% e um dólar a R$ 3,85, a projeção para o IPCA em 2019 passou de 4,3% para 3,6%. No caso de 2020, o índice projetado foi de 4% para 3,7%. As projeções anteriores constaram na ata do encontro de maio do Copom.
O centro da meta de inflação perseguida pelo BC este ano é de 4,25%, com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual (índice de 2,75% a 5,75%). Para 2020, a meta é de 4%, com margem de 1,5 ponto (de 2,5% a 5,5%). No caso de 2021, a meta é de 3,75%, com margem de 1,5 ponto (2,25% a 5,25%).