São Paulo – A indústria de carros tem se mostrado resiliente à baixa atividade econômica do país. Segundo dados da Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave) divulgados ontem, entre automóveis, comerciais leves, caminhões, ônibus e motocicletas, além de implementos rodoviários, foram vendidos no primeiro semestre 1.919.047 veículos.
Esse volume representa crescimento de 13,45% se comparado ao desempenho dos primeiros seis meses de 2018. Levando-se em consideração apenas o resultado de junho – 316.475 unidades vendidas – o aumento foi de 10% na comparação com o mesmo mês de 2018. No entanto, quando comparado a maio, a queda foi de 11,7%.
Esse volume representa crescimento de 13,45% se comparado ao desempenho dos primeiros seis meses de 2018. Levando-se em consideração apenas o resultado de junho – 316.475 unidades vendidas – o aumento foi de 10% na comparação com o mesmo mês de 2018. No entanto, quando comparado a maio, a queda foi de 11,7%.
Esse número, segundo o presidente da entidade, Alarico Assumpção Jr., tem a ver com o menor número de dias úteis de vendas. Foram, segundo ele, três dias a menos para emplacamentos na comparação com maio, o que pesou nos números finais. Mas se a comparação levar em consideração as vendas diárias, houve alta de 2,23% no mês passado em relação a maio, passando de 15.612 para 15.961 unidades.
Quando o recorte dos dados da Fenabrave é feito sobre automóveis e comerciais leves, chega-se a um crescimento de 10,81% no número de unidades emplacadas no primeiro semestre. Se for considerado apenas o desempenho de junho, a alta foi de 9,44% no comparativo com igual mês de 2018. O problema, segundo Assumpção, está quando são comparados o resultado de junho ao de maio – que levou a uma queda de 8,85%.
MENOS CONFIANÇA
Para o presidente da Fenabrave, trata-se de um reflexo da mudança “significativa” no comportamento do consumidor, “principalmente, com relação ao nível de confiança em contrair dívidas de financiamento. E isso está diretamente relacionado aos rumos da economia, em função das reformas pendentes.”
Apesar de os números parecerem bons, um dado chama a atenção do setor da distribuição de veículos: o crescimento ainda mais acelerado das vendas diretas em comparação ao que se viu no varejo, ou seja, negociado pelas concessionárias.
As vendas são feitas diretamente pelo fabricante do veículo, ou seja, pela montadora, diferentemente da venda a varejo. Elas podem ter como origem as vendas corporativas, com as montadoras negociando diretamente com grandes clientes, como o caso de frotistas ou de locadoras, ou operações realizadas nas concessionárias por meio de negócios fechados para taxistas, produtores rurais e pessoas com deficiência (PCD).
Segundo o presidente da Fenabrave, no primeiro semestre, as vendas diretas responderam por 45,06% dos emplacamentos de automóveis e comerciais leves. No mesmo período do ano passado, essa participação foi de 40,04%. Enquanto o varejo cresceu 2,15% no período, as vendas diretas tiveram alta de 23,59%.
Apesar do comportamento registrado em junho, a Fenabrave alerta para o fato de ter sido registrado aumento nas vendas diretas mais por conta das vendas a varejo mais fracas.
NEGÓCIO PARA AS LOCADORAS
Economista e consultor da Oikonomia Consultoria Automotiva, Raphael Galante explica que esse movimento das vendas feitas diretamente pelas montadoras não é recente, mas tem se intensificado por conta do interesse crescente das locadoras de veículos.
Pelas regras, revistas no ano passado, um veículo comprado nessa modalidade só pode ser revendido depois de um ano (antes esse prazo era de seis meses). Segundo Galante, cada montadora aplica o desconto que achar mais conveniente. No mercado automotivo, fala-se que esse número varia de 20% a 25%, dependendo do volume negociado e das condições de caixa da fabricante.
“As locadoras têm visto aí um bom negócio, já que compram com desconto, obtêm receita com a locação durante um ano e depois revendem esse veículo com um deságio em torno de 15%. Por isso, como mostram os balanços, essa se tornou uma fonte de receita maior do que a própria locação de carros”, explica Galante.
O crescimento do número de motoristas de aplicativos também contribui para o interesse crescente das locadoras em aumentar suas frotas. As principais nesse segmento têm ampliado suas áreas de negócio voltadas à locação especificamente para profissionais que queiram trabalhar com apps de transporte.
O consultor alerta, no entanto, que esse movimento mostra que há um interesse cada vez mais crescente, principalmente por reflexo quanto às incertezas sobre a economia e o mercado de trabalho, por veículos usados, o que explica a insistência das montadoras em apostar cada vez mais na compra de carros por meio da venda direta.