São Paulo – Nas últimas décadas, nenhum dispositivo eletrônico causou tanto impacto na sociedade quanto os smartphones. Onipresentes, eles transformaram a maneira como as pessoas se relacionam, passaram a funcionar como plataformas com múltiplas funções e até se tornar indispensáveis no mundo dos negócios, impulsionando transações financeiras e um número incalculável de atividades econômicas. Mas tudo isso pode ficar no passado. Uma corrente cada vez maior de especialistas acha que os smartphones podem estar com os dias contados.
A afirmação mais contundente veio de quem conhece intimamente o negócio: a Samsung, empresa que liderou o mercado em 2018, com 292 milhões de smartphones vendidos, o que representa uma participação de mercado de 20,8%. “Os últimos 10 anos foram a era do smartphone”, disse, em entrevista recente, DongJin Koh, presidente da divisão de celulares da empresa. “Deste ano em diante, talvez uma nova era esteja chegando, com tecnologias se misturando e agindo juntas. A nova era está à nossa frente.”
O próprio resultado da Samsung é um indicador de que os celulares bateram no topo. No ano passado, as vendas da empresa caíram 8% em relação ao ano anterior. Considerando todos os fabricantes, os negócios encolheram 4,1%, segundo dados da consultoria IDC. Foi a maior queda da história.
Os argumentos mais comuns para justificar o declínio dos aparelhos são o fato de as pessoas demorarem cada vez mais para trocar o celular e os preços altos cobrados pelos fabricantes. Mas essa análise é superficial. Pelo menos é isso o que diz outra autoridade mundial no assunto, o também sul-coreano Kang Yun-Je, chefe de design da Samsung.
“O design dos smartphones chegou ao seu limite e é por isso que estamos desenvolvendo um smartphone de tela dobrável”, disse. “Mas nós também estamos nos concentrando em outros dispositivos que estão começando a trazer um impacto mais amplo para o mercado, como fones de ouvido inteligentes e smartwatches. Em mais ou menos cinco anos, as pessoas não vão nem se dar conta de que estão vestindo telas. Será tudo intuitivo.”
Para o consultor de tecnologia Eduardo Tancinsky, o fim do apogeu dos smartphones virá antes do esperado. “Até pouco tempo atrás, projeções da indústria mostravam que os aparelhos dominariam o mercado por um longo período, mas a inovação tecnológica está acelerando o processo de substituição dos dispositivos eletrônicos”, diz. “O futuro, e quando falo de futuro estou me referindo a no máximo 10 anos, será dominado por telas virtuais que serão exibidas em qualquer lugar, inclusive em nossas roupas.”
Com o avanço do 5G associado à internet das coisas, é provável que novos dispositivos que o mundo nem sequer conhece dominem por completo a comunicação e interação entre as pessoas, tornando os smartphones ultrapassados.
Enquanto isso não acontece, as disputas do mercado estão cada vez mais acirradas. Segundo dados do IDC, a liderança da Samsung é acompanhada de perto pela americana Apple (que detém 14,9% de participação) e pela chinesa Huawei (14,7%, praticamente empatada no segundo lugar). Em quarto lugar aparece outra chinesa, a Xiaomi (8,7% de mercado), que tem adotado nos últimos 2 anos uma política agressiva de lançamentos.
Se as vendas de smartphones estão em queda, a guerra comercial entre Estados Unidos e China acrescentou outros desafios ao setor. Segundo um estudo do banco J. P. Morgan, as disputas entre os países podem tornar os iPhones 14% mais caros. Se isso de fato acontecer, será mais uma razão para levar a novas quedas de vendas.