Se a expectativa do presidente Jair Bolsonaro se concretizar, Minas Gerais vai se tornar a galinha dos ovos de ouro, ou melhor, de nióbio do Brasil. O metal, que faz parte do discurso desde os tempos de deputado federal, voltou a dominar o noticiário depois de vídeo feito pelo presidente durante viagem ao Japão viralizar. Na live, ele mostra uma bijuteria produzida a partir da liga do nióbio, comprada por R$ 4 mil. Para Bolsonaro, o produto do qual o Brasil detém a maior reserva já descoberta no mundo pode salvar a economia.
A primeira e maior reserva do mineral que é fonte do nióbio, no Brasil, o pirocloro, está em Minas, em Araxá, no Alto Paranaíba. Ela é controlada pela Companhia Brasileira de Metalurgia e Mineração (CBMM), empresa privada que domina a produção do metal no país e no mundo. O Estado de Minas ouviu especialistas da mineração para entender quais são os mitos e verdades em torno do metal mais polêmico do momento. Temos mesmo uma solução para alavancar a economia do país que foi ignorada até agora?
Alto custo de produção
Para o professor Roberto Gallery, chefe do Departamento de Engenharia de Minas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), o nióbio não tem esse potencial econômico milagroso como Bolsonaro indica. “É um metal muito importante, sim. Mas tem vários limitadores. O processo de exploração é caro e não há uma demanda crescente”, avalia o professor. Ao contrário do minério de ferro, por exemplo, que é retirado da mina e vendido bruto, o nióbio precisa passar por várias etapas de beneficiamento para atingir o ponto de venda. O produto final mais comercializado é o ferronióbio, uma liga de nióbio com ferro. Esse processo exige alto investimento e tecnologia própria.
E é justamente esse custo alto de produção que tornaria, no mínimo, incomum o uso do nióbio na fabricação de bijuterias. “O ponto de fusão dele (nióbio) é de 2.477 graus. Até para derreter esse metal seria necessário um aparato tecnológico grande. Não dá pra fazer isso numa fábrica de fundo de quintal”, argumenta Gallery. Para ele, usar um metal tão nobre para fabricar produtos de baixo valor agregado não seria capaz de promover resultado tão impactante na economia. “A menos que houvesse uma onda mundial de uso de bijuteria de nióbio. O que é muito improvável”, completa.
Mercado pequeno
Outro entrave para impulsionar as vendas do nióbio é o fato de o mercado interno e externo serem pequenos. Para o professor Hernani Mota de Lima, do Departamento de Engenharia da Universidade de Ouro Preto, esse mercado limitado impede, inclusive, a aplicação de uma estratégia econômica de aumento de preço. Enquanto 100 gramas de ouro são vendidos por cerca de R$ 1,7 mil, o quilo de nióbio vale R$ 160.
“Se pudesse ser vendido mais caro, poderia até gerar impacto econômico maior. Mas, aumentar o preço e vender para quem?”, questiona o especialista. Por outro lado, a demanda do mercado é estável porque o uso do nióbio se dá em pequena escala. Para se ter uma ideia, bastam alguns gramas de nióbio por tonelada de aço para que a liga ganhe resistência e tenacidade.
Segundo dados da CBMM, a empresa que domina a produção brasileira (e também mundial), em 2018, a companhia produziu 90 mil toneladas do metal, o que corresponde a 80% do mercado mundial. Se o consumo internacional é restrito, o interno é ainda menor. Apenas 4 mil toneladas da produção total da companhia no ano passado ficaram no Brasil. Nos padrões de consumo atual, somente a reserva de nióbio de Araxá é suficiente para abastecer o mundo pelo próximos 200 anos.
Sem demanda para aumentar as exportações, a saída para explorar mais o potencial desse produto seria outra. “A alternativa mais indicada é o país investir em tecnologias próprias para desenvolver produtos derivados do nióbio para vender”, aponta Gallery. Descobrir novas aplicações tem sido, inclusive, uma busca da CBMM. Há um ano, a empresa fechou parceria milionária com a gigante japonesa Toshiba para produzir baterias de carro elétrico que utilizam nióbio. Mas a fábrica fica no Japão.