São Paulo – Entre as fontes de energia renovável, a solar tem se mostrado uma das mais atraentes no Brasil. Dados da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar) mostram que o país conta com cerca de 2.000 megawatts (MW) em usinas de geração já em operação – o equivalente para atender à necessidade de consumo de aproximadamente 3 milhões de pessoas.
De 2014 até agora, ainda segundo a entidade, os investimentos privados ultrapassaram os R$ 10 bilhões. Novos projetos, com conclusão prevista até 2022, devem adicionar outros 1.700MW, ou seja, a energia a partir dessa fonte praticamente vai dobrar dentro de três anos.
O Itaú Unibanco decidiu estudar de perto o assunto e agora vem ampliando seus projetos na área por meio da geração distribuída de energia solar. O banco tem cerca de 400 agências em Minas Gerais – em parte por conta da aquisição do mineiro Bemge, em 1998 – e começou por esse estado seus investimentos. Primeiro, por meio do arrendamento de parte de uma fazenda solar em Jaíba, pertencente à GreenYellow. Agora, passa a arrendar 100% de uma nova fazenda, em Brasília de Minas.
Francisco Vieira, diretor do Itaú Unibanco, conta que o modelo adotado é o da geração distribuída. A fazenda produz energia elétrica a partir da captação e da conversão da fonte solar e “joga” no sistema de distribuição da Cemig.
O banco começou arrendando parte da fazenda solar, que atende outros clientes, com produção de 1MW, passando a 2MW no início do ano. De janeiro a maio, a economia foi de 9% em gastos com energia nas agências e a compensação de consumo de energia chegou a 30%.
O banco começou arrendando parte da fazenda solar, que atende outros clientes, com produção de 1MW, passando a 2MW no início do ano. De janeiro a maio, a economia foi de 9% em gastos com energia nas agências e a compensação de consumo de energia chegou a 30%.
Projeto
O Itaú encomendou um novo projeto para a GV Solar, dona da unidade de Jaíba, e passa a ser o único a arrendar a nova usina, com capacidade total de 5MW. Assim que for concluída a interligação da fazenda solar com a rede da Cemig, a energia passa a ser disponibilizada. Será o suficiente para abater o consumo de cerca de 200 agências, em 133 cidades – ou seja, praticamente a metade (45%) das unidades bancárias que o Itaú tem em Minas. De acordo com Vieira, o banco poderá negociar com a GV Solar e usar das duas usinas. Isso vai depender da disponibilidade da empresa e se houver agências de baixa tensão para consumir.“O desconto dado pela Cemig na conta é proporcional à energia gerada. Nesse caso, é usada apenas a baixa tensão. Mas a motivação não é financeira e sim o fato de ser uma fonte renovável. Queremos dar o exemplo como grande empresa. Por outro lado, esse investimento serve como seguro tarifário e dá maior previsibilidade quanto a possíveis aumentos na conta”, explica Vieira.
Até 2020, o Itaú Unibanco estuda ampliar o projeto em Minas Gerais. Agora, há estudos avançados para a adoção de energia solar no estado de São Paulo e uma pesquisa ainda inicial para expandir também para o Rio de Janeiro.
Internet das coisas chega a duas usinas mineiras
Com mais clientes corporativos, como o Itaú, buscando formas de ampliar o abastecimento por meio de fontes renováveis, também a indústria de componentes e equipamentos aproveita a boa fase para a prospecção de novos negócios.
A ABB, que recentemente vendeu o negócio de inversores solares para a italiana Fimer S.p.A., em um acordo que deverá ser concluído no primeiro trimestre de 2020, tem buscado ganhar mercado com a oferta de novos produtos nessa área. A multinacional passou a trabalhar no início do ano com o modelo de inversor do tipo string, explica Marcel Serafim, diretor de Business Line Smart Power.
O inversor é responsável por captar a tensão de corrente contínua das placas das fazendas de energia solar e convertê-la para uma corrente alternada, a mesma usada nas residências. São componentes do tamanho de uma geladeira, posicionados próximos a um conjunto de placas – que têm um componente químico que, ao receber o raio UV, o transforma em tensão.
Essa tecnologia do inversor tipo string, que ocupa 30% menos espaço em relação ao componente tradicional, permite que as fazendas de energia solar trabalhem com recursos disponíveis na internet das coisas (IoT, na sigla em inglês). Entre os ganhos, segundo Serafim, estão a possibilidade de fazer o controle da planta a distância, reduzindo o custo de serviço, de atendimento de emergência, além de permitir que as necessidades das usinas sejam antecipadas.
“Isso tudo permite uma redução de custos estimada em pelo menos 15%, contando com mão de obra e o tempo que a usina tem de ficar parada para reparo”, avalia o executivo.
Inversores
Os primeiros projetos no Brasil – desenvolvidos pela Prosys Engenharia – a adotar os inversores string da ABB também são em Minas. A central geradora fotovoltaica, a UFV Vale Formoso e a UFV Paraisópolis, são usinas solares de 5MW e 2MW, respectivamente. As duas plantas devem estar concluídas no último trimestre deste ano.Segundo o executivo, hoje, no Brasil, há por volta de 16 mil inversores da ABB, de gerações anteriores, instalados em sistemas de energia solar. Serafim acredita que será possível avançar não apenas com negócios gerados a partir de novas fazendas solares, mas também na troca de inversores instalados nos projetos de atualização de planta. “Como as garantias dos nossos equipamentos são longas, vai levar um tempo para o período de transição. Mas alguns clientes estão pedindo levantamento sobre atualização desses equipamentos.”
Por isso, Serafim acredita mesmo que as vendas do inversor tipo string deverão deslanchar com o crescimento das fazendas de energia solar no país. “É uma fonte limpa e um método mais barato de geração. Sem diferença substancial no preço, mas na tecnologia e no desempenho.” (PP)
Energia renovável: falta ao Brasil adotar metas
O Tribunal de Contas da União (TCU) divulgou, no fim de junho, o parecer de uma auditoria feita pelo órgão para avaliar as políticas públicas relacionadas ao uso de fontes renováveis na matriz elétrica brasileira, o cumprimento de compromissos internacionais referendados pelo Brasil e as diretrizes governamentais para a área.
Entre os problemas identificados pelo TCU estão a falta de uma avaliação dos resultados dos incentivos às fontes renováveis, a inexistência de metas que obrigatoriamente devem ser cumpridas, além da ausência de diretrizes claras sobre os rumos tanto para a mini quanto para a microgeração distribuída (mGD) no Brasil.
Ainda segundo o tribunal, os leilões têm se mostrado “instrumentos adequados para a expansão das energias renováveis na matriz elétrica brasileira”, escreveu o ministro-relator Aroldo Cedraz – que deverá ter o pedido de afastamento do cargo julgado pela Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) em 6 de agosto, por suspeita de tráfico de influência e recebimento de propina em obras da usina de Angra 3.
De acordo com o TCU, o aumento do uso de fontes renováveis no Brasil está condicionado à queda dos custos das novas tecnologias, além do aumento da concorrência. São ações que poderiam contar com iniciativas do governo, informa o relatório. O problema, porém, está no fato de haver falta de critérios suficientes para a definição das fontes a serem ofertadas nos leilões, por parte do Ministério de Minas e Energia.
Incentivos
A recomendação do relatório, feito a partir do trabalho da Secretaria de Fiscalização de Infraestrutura de Energia Elétrica (SeinfraElétrica), unidade técnica do TCU, é para que as políticas que incentivem as fontes renováveis de energia combinem subsídios, política dos leilões de energia nova e planejamento da expansão da geração, além de outros incentivos indiretos.
Esse trabalho, coordenado pelo TCU, faz parte de um projeto-piloto de auditoria internacional, na esfera da Organização Latino-Americana e do Caribe de Entidades Fiscalizadoras Superiores (Olacefs), com a participação das entidades fiscalizadoras superiores (EFS) do Chile, Colômbia, Costa Rica, Cuba, El Salvador, Equador, Guatemala, Honduras, México, Nicarágua, Paraguai e Venezuela. (PP)