
São Paulo – Um dos destaques do varejo nos últimos anos, o setor de floriculturas está crescendo sem sentir tão de perto os efeitos da crise no país. Depois de avançar 9% no ano passado (muito acima do PIB do mesmo período) e movimentar quase R$ 8 bilhões, segundo levantamento do Instituto Brasileiro de Floricultura (Ibraflor), as empresas do setor estão germinando novas estratégias para continuar essa expansão.

Sistema semelhante já funciona no Brasil, por meio de parcerias com floriculturas espalhadas por todo o país. As três marcas do Grupo Flora funcionam como um marketplace, que capta pedidos e aciona esses parceiros locais. Quem está em São Paulo e quer enviar flores para Macapá, por exemplo, compra pelo site da empresa e quem faz a entrega é um parceiro local.
Para chegar aos novos mercados, foi preciso negociar com várias floriculturas de cada um dos países, definir o portfólio, negociar a margem a ser repassada por pedido, além de definir horários de entrega e tipo de corte das flores e plantas. Em um primeiro momento, o site estará disponível em cinco idiomas e em quatro moedas. Quando a compra for concluída, o pedido será encaminhado para a floricultura parceira que estiver em melhores condições para realizar a entrega naquele mercado.
"Vínhamos crescendo num ritmo de mais de 100% ao ano, mas hoje, estamos a uma taxa de 30%. Para voltar a crescer como antes, o caminho foi internacionalizar. Precisamos voltar a dar saltos de expansão”, conta Luiz Torres, CEO do grupo.
A meta a partir de agora é bem agressiva. Com a internacionalização dos negócios, Torres espera sair de uma receita atual de R$ 35 milhões ao ano para R$ 80 milhões até 2021.
Torres conta que a internacionalização da plataforma de e-commerce não foi muito difícil. “Como os arranjos são parecidos em todo o mundo, a decisão de internacionalizar foi muito simples. Montamos uma matriz de conhecimento e fomos para o mercado global.”
Segundo o empresário, a operação do grupo, apesar de estar bem consolidada no mercado nacional, ainda é pequena, se se levar em consideração o faturamento desse setor no Brasil – o equivalente a 5% das vendas totais dos Estados Unidos, por exemplo.
IDIOMAS
O processo de inclusão de outros países como destino dos pedidos feitos a partir do e-commerce brasileiro envolveu todas as áreas da empresa. Foi preciso, por exemplo, preparar o site para ser visualizado em vários idiomas. Além disso, a empresa teve de investir no serviço de atendimento ao cliente em outras línguas e fazer adequações no sistema de cobrança e de pagamentos.
Com a evolução do projeto, o site está disponível em português, inglês, francês, italiano e espanhol, abrindo vendas para Espanha, Itália, Alemanha, Reino Unido, França, Portugal, Suíça, Irlanda, Dinamarca, Argentina, Chile, Uruguai, México, Emirados Árabes Unidos, Israel e Noruega, entre outros países. Para definir os países aos quais levaria seus serviços nessa nova fase, a direção do grupo teve como ponto de partida características de mercado, como o hábito de comprar flores, o valor médio gasto por habitante nesse tipo de produto e o idioma.
O processo de internacionalização foi iniciado com a marca Isabela Flores, que já surgiu no mercado como uma plataforma para integrar floristas e clientes em todo Brasil. Por essa razão, a direção do grupo acredita que os clientes estejam mais familiarizados com as características do modelo de marketplace. O projeto, no entanto, é expandir as entregas internacionais para todas as empresas da companhia.
A Flores On-line, fundada em 1998, foi o primeiro e-commerce de flores e presentes. Criada pela Família Casarini, recebeu investimentos da 1800Flowers e do fundo BR Opportunities. Em julho de 2017, Luiz Torres e Lucas Buffo assumiram a operação da companhia, que passou a integrar o Grupo Flora, ao lado de Isabela Flores e Uniflores.
CONCORRENTE
Enquanto o Grupo Flora acredita no reforço de caixa que deverá vir das vendas para o exterior, o plano da rival Giuliana Flores é olhar para dentro. Líder no mercado nacional, com 60% de participação, a estratégia de crescimento está ancorada na entrega.
A empresa fechou parceria com o iFood, para distribuir seus produtos e impulsionar suas vendas. Com cerca de 180 mil entregas por ano, o app tem potencial para triplicar os números da empresa. A companhia vende alimentos e cestas temáticas, num total de aproximadamente 2 mil itens, além das flores.
Apenas a cidade de Holambra, no interior paulista, que responde por 45% do mercado de flores do Brasil, deve crescer 10% nos negócios neste ano.
A Expoflora – maior exposição de flores e plantas ornamentais da América Latina, realizada anualmente – tem funcionado como um termômetro do mercado consumidor pelos produtores. A exposição, segundo os organizadores do evento, é fundamental e funciona como um laboratório. Durante cinco fins de semana, por volta de 300 mil pessoas passam pelo espaço da feira. Para o produtor, é a chance de testar a aceitação de novas variações de flores e, a partir daí, avaliar seu potencial.
O crescimento do setor nesse contexto pode ser atribuído a dois fatores principalmente. Um deles foi a aposta em novas variedades trazidas do exterior, multiplicadas no Brasil e introduzidas no mercado. Essa estratégia permitiu ao produtor reduzir custos e colocar as novidades no mercado a preços mais baixos. A outra razão foi o aumento da venda em supermercados, o que também contribuiu para aumentar o consumo e reduzir o valor das plantas.
Expansão do setor demanda política de incentivo
Diante dos números bilionários de faturamento, 8 mil produtores e mais de 350 espécies produzidas, o setor precisa receber atenção especial do poder público, avalia Clenilson César Barbosa, presidente da Associação dos Produtores de Flores e Plantas Ornamentais da Região Sul (Sulcaflor). “O mercado de floricultura é bom, mas ainda precisa de investimentos, principalmente em pesquisa. Políticas públicas de incentivo e de financiamento, tanto para a cultura quanto para a pesquisa nessa área, são muito pequenas.”
Uma proposta aprovada pela Comissão de Constituição e Justiça da Câmara cria a Política Nacional de Incentivo à Cultura de Flores e de Plantas Ornamentais de Qualidade. Segundo o Projeto de Lei 6912/17, a política terá como diretrizes a sustentabilidade econômica e socioambiental da atividade, o aproveitamento da diversidade cultural, ambiental, de solos e de climas do país, a adequação da ação governamental às peculiaridades e diversidades regionais, o estímulo às economias locais; e a redução das desigualdades regionais.
Entre os instrumentos da política estão o crédito rural para a produção e comercialização, a pesquisa agrícola e o desenvolvimento tecnológico e a formação de mão de obra qualificada. Devem ter prioridade de acesso ao crédito e financiamento os agricultores familiares, de pequeno e médio portes; e os organizados em associações, cooperativas ou arranjos produtivos locais que agreguem valor às flores e plantas ornamentais, por meio de certificações, produção orgânica, selos sociais ou de comércio justo.
