A estagnação da economia nacional é sentida na pele pelos belo-horizontinos, que não se mostram muito otimistas em relação ao futuro. Para 20% dos moradores da capital mineira, a situação financeira familiar tende a piorar nos próximos meses, enquanto 56% acredita que a realidade permanecerá a mesma. Já outros 22% acreditam que as contas domésticas vão melhorar. Os dados fazem parte de pesquisa sobre avaliação e expectativa econômica, realizada pela Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) da capital e publicada com exclusividade pelo Estado de Minas.
Uma comparação com a primeira rodada da pesquisa, realizada em maio, mostra um aumento na desconfiança dos moradores de Belo Horizonte em relação ao futuro. Há dois meses, 30% dos entrevistados acreditavam que a vida financeira ia melhorar – uma diferença de oito pontos percentuais em relação à nova rodada, acima da margem de erro de 2,5 pontos percentuais. O índice de quem acredita na estagnação também subiu: de 49% em maio para 56% em julho. Houve uma oscilação positiva no grupo que acredita na piora da situação financeira, passando de 18% para 20%.
A expectativa dos entrevistados reflete a experiência vivida nos últimos dois anos. De acordo com o levantamento, 49% de quem respondeu ao questionário disse que nada mudou, enquanto para 34% as contas apertaram ainda mais. Um índice bem menor (16%) informou que a economia doméstica melhorou em 24 meses. A sensação de piora na situação financeira familiar é ainda maior nas pessoas da faixa etária entre 60 e 75 anos – que corresponde a 16% dos 1 mil entrevistados entre 4 e 7 de julho, pelo Instituto Quaest Consultoria e Pesquisa.
Para 40% dos integrantes do grupo dos mais velhos, o cenário econômico piorou nos últimos dois anos, enquanto 52% o consideram estagnado. Apenas 6% disseram que as contas melhoraram. Levando-se em conta a escolaridade, aqueles que terminaram os estudos no ensino fundamental são os que mais sentiram os efeitos da crise na economia do país: para 42% deles, a situação piorou entre 2017 e este ano. As mulheres são as que mais sentiram os efeitos: 36% disseram que hoje está pior que antes, enquanto 32% dos homens responderam à pesquisa da mesma forma. Entre as mulheres, 16% disseram que as finanças melhoraram, índice semelhante ao dos homens (17%).
Quando questionados sobre a pretensão de gastos nos próximos seis meses, a grande maioria dos entrevistados (72%) respondeu que pretende economizar ainda mais. Essa postura será adotada principalmente para quem tem uma renda familiar de até três salários mínimos. O índice cai para 56% entre aqueles que têm uma renda superior a 10 salários mínimos. Outros 25% dos entrevistados disseram que pretendem manter o nível de gastos, enquanto apenas 3% afirmaram que vão gastar mais.
O desemprego, que atinge 13 milhões de pessoas em todo o Brasil, afetou também as famílias belo-horizontinas. De acordo com o levantamento, nos últimos 12 meses, em 39% dos lares alguém ficou sem emprego por pelo menos seis meses – seis pontos percentuais a mais em relação a quem respondeu à pesquisa em maio. O índice foi maior nas famílias com pessoas na faixa entre 18 e 29 anos (42%), seguido dos lares com pessoas entre 30 e 59 anos (39%) e maiores de 60 anos (35%).
Tendência
O presidente da CDL-BH, Marcelo de Souza e Silva, avalia que os números da pesquisa são um reflexo do marasmo da macroeconomia nacional, que tende a se alterar positivamente nos próximos meses, com algumas medidas propostas pelo governo federal, como a aprovação da reforma da Previdência – já aprovada em primeiro turno na Câmara dos Deputados. Outro ponto que influencia o resultado é o grande número de famílias compostas por servidores públicos, que ainda recebem o salário de forma parcelada.
Para Marcelo de Souza, não há motivo para preocupação por parte dos comerciantes da capital. “A pesquisa reflete um momento, e o clima ainda é muito ruim. Mas em Belo Horizonte estamos tendo números bons de formalização de empresas e diminuição da inadimplência, o que tende a mudar a percepção dos consumidores. O que ela (a pesquisa) nos mostra é que, se não temos um ambiente bom, a tendência é que as pessoas não gastem mesmo”, avalia.