Nova Serrana – Pisar em novos quintais vizinhos do Brasil deixou de ser apenas um sonho para virar esforço concentrado nas fábricas do principal polo calçadista de Minas Gerais, Nova Serrana, no Centro-Oeste do estado. Na indústria comandada por Pedro Gomes da Silva, há 26 anos no ramo, a ordem é buscar clientes na Argentina, Peru, Colômbia e Bolívia, aproveitando toda a experiência que a empresa conquistou ao atravessar a fronteira do Brasil, mas ainda com embarques tímidos. “Vamos aderir a todos os projetos de exportação. O mercado externo é a alternativa”, diz o industrial.
A fábrica de Alfredo Assis Pereira também trabalha firme no projeto de fincar bandeira no exterior e, para isso, criou este ano um departamento dedicado a incrementar exportações. Além de embarques já feitos à Argentina, a indústria conquistou espaço nos mercados do Panamá, Costa Rica e Paquistão. “A exportação é interessante por vários fatores, melhora o fluxo de caixa, a carteira de pedidos é maior e ainda temos um câmbio que nos favorece”, diz Assis Pereira.
Os fabricantes de calçados de Nova Serrana querem alavancar o setor, incrementado as vendas externas e antes mesmo do recém-anunciado acordo do Mercosul com a União Europeia já haviam definido o alvo certo: a América Latina.
Atualmente, da produção local de 105 milhões de pares de sapatos por ano, só 2% a 3% chegam às prateleiras de outros países, especialmente Argentina, Equador e Bolívia. No ano passado, as vendas ao exterior do polo calçadista movimentaram US$ 13,5 milhões com o comércio de 2,8 milhões de pares – 32,8% de todo o calçado que foi exportado por Minas Gerais. A meta, agora, é ambiciosa: pelo menos dobrar esses números.
Atualmente, da produção local de 105 milhões de pares de sapatos por ano, só 2% a 3% chegam às prateleiras de outros países, especialmente Argentina, Equador e Bolívia. No ano passado, as vendas ao exterior do polo calçadista movimentaram US$ 13,5 milhões com o comércio de 2,8 milhões de pares – 32,8% de todo o calçado que foi exportado por Minas Gerais. A meta, agora, é ambiciosa: pelo menos dobrar esses números.
No comparativo com 2017, o volume de vendas externas até aumentou no ano passado, já que foram comercializados 2,78 milhões de pares naquele ano. No entanto, o valor médio do par caiu: US$ 4,70 em 2018, frente a US$ 5,30 em 2017. Já no mercado interno, o primeiro semestre não se revelou dos melhores para os calçadistas, pois os números mostram uma estagnação nas vendas no comparativo com os seis primeiros meses de 2018, enquanto o custo de produção cresceu. Dessa equação, ganha força a busca pelos mercados vizinhos, onde os consumidores têm preferências similares às dos brasileiros e procuram o tipo de calçado fabricado em Nova Serrana.
Desafio de se adequar aos padrões internacionais
“Já conhecemos bastante os gostos e modos de operação na América Latina, que tem ainda uma identidade cultural bastante forte conosco. E é um mercado que ainda tem muito a ser explorado”, pondera o presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados), Heitor Klein. Mas para chegar ao mercado internacional não basta querer: é preciso se adequar a padrões e obter algumas certificações. Segundo o Sindicato Intermunicipal das Indústrias de Calçados de Nova Serrana (Sindinova), entre as 1,2 mil micro, pequenas e empresas de porte médio instaladas nos 12 municípios que integram o polo calçadista da região, não chega a 10% o universo daquelas que já exportam seus produtos.
Um dessas empresas é a Randall, de Pedro Gomes da Silva. Dos 3,2 mil pares de tênis vulcanizados produzidos diariamente na fábrica, cerca de 4% são exportados. A empresa já fechou negócios também com Estados Unidos e México. “Há uma queda geral na produção em razão da retração do consumo interno e vivemos a falta de onde escoar a produto. O mercado internacional é a nossa opção”, diz o proprietário da empresa.
Mesmo para quem já ganhou o mercado internacional, não há dúvida de que ainda há muito espaço a ser conquistado lá fora. É o que defende Mário Menezes, consultor do Núcleo de Comércio Exterior do Sindinova. “Fizemos várias entrevistas com importadores em eventos do setor e um ou outro conhecia a região. Somos hoje um mercado reconhecido internamente pela qualidade e competitividade, os outros países precisam nos conhecer e saber disso”, afirma.
Novas gerações Na avaliação de Mário Menezes, a busca pela exportação está ganhando adeptos na medida em que novas gerações familiares vêm assumindo os negócios, com uma visão mais moderna de produção e mercado. O Núcleo de Comércio Exterior do Sindinova foi criado recentemente para orientar e assistir os empresários.
“O parque industrial está formado e o Brasil não apresenta um espaço no médio ou curto prazo para aumentar o consumo interno. Então a meta é a gente aumentar as exportações”, disse Ronaldo Lacerda, presidente do Sindinova, que representa cerca de 400 empresas de Nova Serrana. O setor aposta em uma feira marcada para este mês na cidade, quando estarão na mesa de negociações representantes de Argentina, Colômbia, Uruguai, Peru e Bolívia.
América Central e Estados Unidos em segunda fase
Pesa a favor de Nova Serrana, segundo os especialistas, a semelhança nas condições climáticas e tendências de moda entre o Brasil e os demais países da América do Sul. Hoje, a cidade exporta principalmente os segmentos de calçados femininos com plataforma, sapatilhas e rasteirinhas, e os tênis esportivos. Em um segundo momento, as atenções estarão voltadas também para países da América Central e Estados Unidos.
Inadimplência A Organizações Amaral contabiliza a venda de 60 mil pares de tênis vulcanizados por ano no mercado externo, especialmente à Argentina. A meta inicial é recuperar outros clientes argentinos e colombianos. E, quem sabe, chegar a usar toda a capacidade produtiva da empresa, que é de 10 mil pares diários. Hoje a produção é de 3 mil pares.
“A cidade cresceu, a indústria calçadista é muito grande, então temos que buscar novos mercados para espalhar o nosso produto”, diz Geraldo César da Silveira, um dos proprietários da empresa. A busca de novos mercados é uma alternativa também para compensar a alta inadimplência que a empresa hoje é obrigada a enfrentar: já chega a quase R$ 1 milhão o débito de clientes.
A Redak resolveu concentrar os negócios no Brasil e encerrou a venda de calçados para Argentina, Suriname e Paraguai no início dos anos 2000. Diante da crise nacional, 15 anos depois as exportações voltaram para a pauta da empresa, a ponto de, neste ano, ter criado um departamento voltado exclusivamente para esse segmento. O volume de vendas ainda está bem abaixo da meta de vender 25% da produção – o índice atual é de menos de 10%, informa Alfredo Assis Pereira, proprietário da empresa.
“Além de uma alternativa à crise no mercado interno, a exportação é interessante por vários fatores, melhora o fluxo de caixa, a carteira de pedidos é maior e ainda temos um câmbio que nos favorece. Uma empresa que quer crescer tem de exportar”, defende Assis Pereira. A indústria exporta cerca de 60 mil pares de calçados femininos por ano.
Europa entra nas projeções
Amparados pelo acordo comercial fechado recentemente entre a União Europeia e o Mercosul – e que prevê o fim das tarifas no período de sete a 10 anos –, os empresários de Nova Serrana admitem o interesse de conquistar o mercado europeu em um futuro não muito distante. Hoje, as negociações com países da Europa estão concentradas no polo industrial do Sul do país, onde os calçados têm mais identidade com o clima e as tendências do Velho Continente.
“Esse acordo entre Mercosul e União Europeia nos traz uma vantagem competitiva bastante relevante. Temos um fluxo de comércio intenso com os países europeus, mas somos tolhidos por um patamar mais elevado que o adequado para uma disputa com maior tranquilidade”, explica Heitor Klein, presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados). Dados do primeiro semestre deste ano apontam negociações de US$ 148 milhões com a Europa, sendo a França o maior comprador de sapatos brasileiros: 2,47 milhões de pares.
Mas para Nova Serrana entrar nesse mercado, os empresários têm consciência de que é necessário investir em novos materiais e design para atender às características de um consumidor bem diferente do latino-americano. “Para se colocar no mercado europeu, que é bem mais sofisticado, é um pouquinho mais trabalhoso, mas é compensador e vale a pena o investimento, pois os resultados são vantajosos. Isso vale também para Nova Serrana”, completa Klein.
De acordo com o presidente do Sindicato Intermunicipal das Indústrias de Calçados de Nova Serrana (Sindinova), Ronaldo Lacerda, em um primeiro momento os esforços serão concentrados para uma maior proximidade com o mercado da América Latina, mas o mapa da Europa não está riscado. “É muito mais fácil começar com mercados mais próximos, que têm identidade de língua e o mesmo clima que o nosso. Mas podemos buscar a Europa também”, planeja.