São Paulo – Nas principais cidades chinesas, como Pequim, Xian e Xangai, em quase toda esquina há imensos outdoors com propagandas de algum lançamento da Lenovo. A gigante do mercado de computadores, no entanto, quer ir além. Por ordem do CEO global Yang Yuanquing, a companhia vai investir alguns bilhões de dólares em pesquisa e desenvolvimento de inteligência artificial, machine learning e robótica.
“Não somos apenas uma empresa chinesa de computadores, somos uma companhia focada em criar o futuro para as empresas e para as pessoas”, disse Yuanquing, em reunião com empresários na China. Para recordar, a Lenovo comprou do Google a divisão de smartphones Motorola por US$ 2,9 bilhões. “Nossa posição em computadores e smartphones está consolidada, agora temos de diversificar para continuar crescendo.”
A operação brasileira está fazendo sua lição de casa. A vertiginosa queda nas vendas de computadores no mercado nacional nos últimos anos também está ajudando a acelerar esse processo. Em 2012, o segmento vendia 15,5 milhões de unidades por ano. Em 2016, o número caiu para 4,5 milhões, de acordo com a consultoria IDC. A retração forçou as fabricantes a reajustarem suas operações no Brasil.
A Lenovo iniciou essa jornada há pouco mais de três anos. A empresa transferiu a fábrica de Itu para Indaiatuba, no interior paulista. A nova unidade tem menos da metade da área da antiga instalação. A redução do portfólio em mais de 50% e a renovação de 80% nos cargos de alto escalão complementaram esses esforços.
“Agora, chegamos à terceira fase desse projeto, que batizamos de transformação inteligente”, disse Ricardo Bloj, CEO da Lenovo no Brasil, em entrevista recente à revista IstoÉ Dinheiro. Com mais de 30 anos de carreira e passagens por empresas como IBM e Itautec, ele assumiu a posição em março de 2017. “Estamos coletando dados no chão de fábrica para fazer ajustes na própria produção, simular cenários e antecipar tendências.”
De acordo com Bloj, a flexibilidade na adaptação das linhas de montagem para atender pedidos de máquinas com diferentes configurações é um dos frutos dessa abordagem. O equilíbrio entre a produção e a demanda é mais um elemento.
VENDAS
A companhia fechou uma parceria com a DataRobot para desenvolver um algoritmo capaz de monitorar e prever o volume das vendas e a efetividade de campanhas no varejo, entre outras ações. O recurso permite antecipar e ajustar o ritmo de fabricação, bem como o estoque de componentes.
Além dos dados do inventário nas lojas parceiras, o recurso compila e cruza dados como projeções do PIB, impacto das estratégias de rivais e os efeitos da oscilação do dólar. Esse último fator é essencial, já que boa parte dos custos de produção da categoria é atrelada à moeda americana. Segundo Bloj, a ferramenta já chega a 90% de acuracidade e ajuda a empresa a responder rapidamente a qualquer variação no mercado.
Além disso, a Lenovo implementou 18 projetos envolvendo diversos departamentos. A estratégia passou por equipes responsáveis por frentes como aprovação de crédito e cadastro de produtos. Em pouco tempo, a empresa começou a desfrutar dos resultados dessas ações. No mercado corporativo, o prazo médio de entrega, que era de 20 dias, passou para 11 dias em 70% dos casos. Já o NetPromoter Score, índice de mercado que mede a satisfação e lealdade dos clientes, saiu de 20 pontos negativos para um patamar próximo de 70.
Diversas dessas iniciativas foram realizadas globalmente e trouxeram resultados financeiros consistentes. No ano fiscal de 2018/2019, a Lenovo ultrapassou pela primeira vez a marca de US$ 50 bilhões em receitas, totalizando US$ 51 bilhões – crescimento de 12,5% em relação ao período anterior. O lucro também avançou, para US$ 11,7 bilhões, o que representa um salto de 10%.