São Paulo – Desde o último sábado (14), não são apenas os produtores de petróleo que estão com o nível de atenção redobrado. Após os ataques à maior instalação de processamento de petróleo na Arábia Saudita, supostamente feitos por drones, o mercado reagiu e apenas na segunda-feira (16), primeiro dia de negociação, o preço do barril de petróleo chegou a quase 20% de alta. O brent obteve o maior ganho em um pregão desde a Guerra do Golfo, em 1991.
No Brasil, a destruição da instalação saudita, reivindicada pelo grupo rebelde houthis, do Iêmen, por enquanto não provocou reações de grande instabilidade na economia local, mas trouxe preocupação quanto ao que deve ocorrer na Petrobras caso o barril de petróleo se mantenha na trajetória de alta. Quem depende de alguma forma desse óleo teme que a companhia volte à política do passado de descolar o seu preço das cotações internacionais, subsidiando a gasolina e o diesel e colocando em risco o caixa da companhia.
De imediato, o governo Bolsonaro indica que não haverá aumento de preço do petróleo, mas não há como prever o tamanho do impacto do ataque na Arábia Saudita, maior exportador de petróleo do mundo. Ontem, foi noticiado que a produção do país estará de volta aos níveis normais antes do esperado. Fala-se extraoficialmente que a unidade destruída deve voltar a operar normalmente dentre de duas a três semanas.
Sócio da consultoria MaxiQuim, João Luiz Zuñeda acredita que não há risco de grandes impactos no Brasil. Além disso, avalia o especialista, com a retomada da produção na Arábia Saudita, os preços internacionais devem se estabilizar na casa dos US$ 60 – em parte, o impacto deve ser menor na cotação porque a demanda vem de um período de queda por conta da desaceleração da atividade econômica internacional.
CONTROLE DE PREÇOS
Zuñeda, no entanto, chama a atenção para o que pode acontecer com a Petrobras. A decisão de segurar os preços artificialmente pode ter impacto em outra área de negócios da companhia, a de refino de petróleo. A empresa, que praticamente tem nas mãos o monopólio dessa atividade, está em processo de oferta de cerca de 50% de seu parque de refino para aquisição. Estão no pacote de desinvestimento da petroleira unidades no Sul, Sudeste e Nordeste.
“No momento em que as empresas estão de olho nessas refinarias, o presidente da Petrobras diz que não vai subir o preço agora e vai aguardar. Se o comportamento em alta do preço do petróleo e essa decisão de evitar o repasse para o preço perdurar muito, pode gerar dúvidas nos investidores e puxar para baixo o valor dos ativos da companhia”, analisa. Caso não haja repasse de preço, avalia o sócio da MaxiQuim, será um sinal de que se está perdendo dinheiro. “Se correr fora de regras de mercado, ela vai perder.”
Além do efeito na bomba de combustível, Zuñeda lembra dos impactos que poderão ser sentidos nos setores químico e petroquímico. A Arábia Saudita tem um papel importante em produtos químicos. O país produz cerca de 10% do polietileno do mundo, matéria-prima usada principalmente na indústria plástica. Segundo o consultor, de imediato a China, principal comprador desse produto, vem sentindo o impacto no seu preço.
Por outro lado, a mudança do papel dos Estados Unidos tanto na produção de combustíveis quanto no setor petroquímico poderá minimizar os efeitos pós-ataque em território saudita. O país passou de importador a exportador de polietileno. No caso do Brasil, que não tem grande relevância na área e, portanto, não é formador de preço, não deve restar muito a não ser seguir o movimento internacional.