São Paulo – Maior rede varejista de moda da Ásia e terceira maior do mundo, atrás da espanhola Inditex (Zara) e da sueca H&M, a japonesa Uniqlo dará nos próximos meses um passo importante para salvar o planeta. A empresa anunciou nessa terça-feira (17) que, a partir de 2020, irá vender produtos feitos com fibras provenientes da reciclagem de garrafas de plástico.
Segundo o presidente da empresa, Tadashi Yanai, o projeto exigiu dois anos de pesquisa em parceria com a também japonesa Toray Industries, uma das principais fabricantes do mundo de tecidos de borracha para a indústria automobilísitca. “A Terra como um todo está enfrentando uma crise, e sem a Terra não podemos fazer negócios”, disse Yanai. “Queremos contribuir para a sustentabilidade do nosso mundo fabricando roupas que protegem o planeta.”
De acordo com o executivo, as fibras serão feitas a partir de garrafas de polietileno tereftalato (ou simplesmente PET) usadas. O grande desafio tecnológico, disse Yanai, foi remover impurezas para que as garrafas possam ser transformadas em um tipo de tecido confortável. O presidente da Uniqlo garante que os resultados são surpreendentes. Segundo ele, o tecido terá secagem rápido e será utilizado principalmente na confecção de camisetas.
Com a inovação, a empresa esperar cativar o público jovem, mais preocupado com questões relativas à natureza. “Jovens são especialmente conscientes em relação à sustentabilidade”, afirmou Yanai. “Consumidores europeus já são bem conscientes. Estou confiante que os novos produtos serão bem aceitos.”
A Uniqlo e a Toray trabalham juntas há pelo menos 15 anos no desenvolvimento de produtos. Da parceria nasceram itens como jaquetas feitas com material leve e camisas que não amassam.
CONSUMO CONSCIENTE
Nos últimos anos, a Uniqlo tem adotado uma série de medidas pouco usuais. A empresa costuma recolher jaquetas velhas para serem recicladas e estimula seus clientes a praticarem o consumo consciente. Ela também eliminou o uso de sacos de plástico nas operações e muitas de suas lojas são sustentáveis, com captação de água da chuva e energia solar.
A empresa é agressiva nos negócios. Tadashi Yanai já afirmou que o seu objetivo é, até 2020, transformar a Uniqlo na maior varejista de roupas do mundo. O crescimento vertiginoso da companhia nos últimos anos dá crédito às ambições do executivo.
Nos anos 70, Yanai herdou do pai uma pequena rede de alfaiatarias que atuava principalmente nas pequenas cidades do interior do Japão. Quando assumiu o negócio, teve a ideia de transformá-la numa rede varejista diferente do modelo fast fashion, como é chamada a moda rápida ou descartável.
Com a experiência de sua alfaiataria, Yanai passou a produzir roupas que duram mais e não são tão influenciadas por tendências. A estratégia funcionou e a Uniqlo se tornou uma marca global, com 2mil? lojas em 19 países e faturamento de aproximadamente US$ 15 bilhões.
As ações sustentáveis da Uniqlo foram planejadas em meio a um crescente movimento internacional para evitar os danos do plástico ao meio ambiente. Desde o ano passado, uma cruzada mundial contra canudos e sacolas de compras levou redes de lanchonetes e de supermercados a banir o uso desses produtos, e agora parece ser a vez de a indústria têxtil entrar na onda.
Além da Uniqlo, analistas que acompanham o varejo de roupas afirmam que a Zara também estaria desenvolvendo tecidos considerados mais ecológicos. Isso explicaria inclusive o anúncio apressado da empresa japonesa, que lançará a novidade apenas a partir do ano que vem.
Segundo dados divulgados pela ONU, 80% de todo o lixo marinho é composto por plástico e a estimativa é que, até 2050, ele supere a quantidade de peixes na água. Considerando apenas microplásticos, a presença deles nos mares já supera a quantidade de estrelas na galáxia.