A Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig), lançou a Chamada 04/2019 "Tríplice Hélice: interação Governo/ITC/Empresa, oferecendo investimento de R$ 60 milhões em projetos que busquem transformar tecnologias desenvolvidas por equipes de pesquisadores em novos produtos, serviços e processos para o mercado. As empresas interessadas devem enviar propostas por meio do sistema Everest, até as 17h de 4 de novembro deste ano.
São mais de 800 produtos, frutos de pesquisas inovadoras em todas as áreas de conhecimento, e que receberam ou aguardam patente junto ao Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI) e outras formas de proteção, tais como cultivares, desenhos industriais, programas de computador e topografias de circuitos integrados. Podem participar empresas públicas e privadas, desde que estejam estabelecidas no estado de Minas Gerais. É necessário se inscrever pelo e-mail cerimonial@fapemig.br.
Segundo Rafael Marques Pessoa, gerente de inovação da Fapemig, a Chamada busca tirar das prateleiras as tecnologias já desenvolvidas. “A ideia é colocá-las no mercado, a fim de gerar valor para o estado, seja por meio do desenvolvimento de novos produtos, seja por novos negócios”, conta.
A Tríplice Hélice diferencia-se por focar em tecnologias que já tenham a requisição de proteção intelectual perante os órgãos competentes, no Brasil ou no exterior. As empresas interessadas devem acessar o portfólio de tecnologias das instituições Científicas, Tecnológicas e de Inovação (ICTs) de Minas Gerais e o de tecnologias desenvolvidas por inventores independentes, identificar aquelas que se interessam em desenvolver e assinar Termo de Anuência com o potencial parceiro.
Se a proposta for aprovada, empresa e ICT deverão formalizar a parceria. Para Rafael Pessoa, esse investimento poderá fortalecer o diálogo entre academia e setor empresarial. “A empresa poderá estabelecer uma parceria com o proprietário e, juntos desenvolverem a tecnologia”, informa. As propostas devem ser enviadas por meio do sistema Everest, até as 17h de 4 de novembro deste ano.
O valor total de cada proposta deverá ser de, no máximo, R$ 20 milhões, compreendendo o somatório do valor solicitado à Fapemig e do valor das contrapartidas econômica e financeira. Cada proposta deve contemplar pelo menos uma tecnologia protegida (patente, por exemplo), mas pode contemplar mais de uma, de modo que não há um valor limite por tecnologia a ser desenvolvida, mas apenas um limite por proposta de projeto.
Sérgio Lacerda Beirão, diretor de ciência tecnologia e inovação, chama a atenção para a importância da pesquisa no desenvolvimento econômico e social do estado. “Essa é a missão da Fapemig. Acreditamos ser possível fazer desenvolvimento baseado em conhecimento. Na agricultura, por exemplo, até a década de 1950/60, o Brasil praticamente só produzia café e importava alimentos e até leite de outras nações. Hoje, exportamos alimentos. O cerrado era considerado improdutivo e, hoje, é altamente produtivo e tem até que se ter cuidado para não ser devastado. Tudo isso foi conquistado por meio de pesquisa e conhecimento, e Minas Gerais tem o privilégio de abrigar uma rede universidades públicas de alta competência. Um capital intelectual de altíssimo nível.”
RISCOS
Existem duas formas de desenvolvimento de pesquisas com a coparticipação da Fapemig. A inciativa que parte do pesquisador ou por meio de demanda, esta, “infelizmente, não muito comum”, admite Beirão, que atribui o fato à cultura das empresas brasileiras, que não têm o hábito de procurar desenvolver parcerias em pesquisa com universidades ou centros de pesquisa. “A indústria, de maneira geral, quer a coisa pronta e prefere comprar o pacote externo já pronto, o que pode gerar problemas, já que, muitas vezes, não serve para nossa realidade. E sempre ficará dependendo de comprar o pacote externo.” A indústria não desenvolve seus produtos porque envolve riscos, mesmo estando patenteado e mostrando que é funcional. O resultado é que somente a Fapemig tem 800 produtos prontos a serem adotados pelo setor produtivo e estima-se que as instituições de pesquisa em todo o estado tenham, ao todo, em torno de 2 mil sem utilização.
Nem todo projeto gera um produto. Toda pesquisa começa a partir de hipóteses e vai tentando um resultado positivo, até chegar à prateleira. “A indústria farmacêutica mundial leva em torno de 14 anos, em média, desde os primeiros ensaios até a prateleira. E usam em média 10 mil ensaios para chegar a um resultado”, revela Beirão.
O diferencial é que o setor privado só investe naquilo que tiver relevância em termos de mercado. O olhar do mercado é interessante na hora do desenvolvimento do produto, mas o pesquisador não tem visão do mercado, porque não faz parte de sua formação. “O lado privado, as empresas, sabem. Se juntam os dois, o cofinanciamento é a cola a ser usada. Coisas que possam dar nova dimensão à economia”, explica.
São vários os fatores que explicam a dificuldade de interação entre centros de pesquisa e empresas. Tal assunto é objeto de estudo e discussão em várias instâncias, inclusive na própria academia. O gerente da Fapemig explica que a diferença na lógica de operação desses dois tipos de organização: de um lado, empresas são orientadas para resultados econômicos (lucro), visam a proteção e a transformação do conhecimento em mercadoria e em benefícios tangíveis, bem como trabalham sob um modelo hierárquico. De outro lado, organizações produtoras de conhecimento são orientadas pela curiosidade científica, visam a publicação e a disseminação do conhecimento, o que produz benefícios intangíveis, e trabalham sob um regime, via de regra, colaborativo e horizontal. “Essa diferença na essência dos dois tipos de organização cria barreiras culturais e comunicacionais entre elas, as quais vem sendo vencidas pouco a pouco por diferentes inciativas. “A complexidade da legislação e do ambiente regulatório: a legislação que suporta a interação entre empresas e centros de pesquisa (públicos, especialmente) é relativamente recente e sua aplicação é incipiente, o que, em diversos casos, produz insegurança para os diferentes agentes do sistema de inovação nacional e estadual.”
INVESTIMENTO
São elegíveis quaisquer tipos de empresas estabelecidas em Minas Gerais, sem distinção de porte, idade ou setor econômico. A Tríplice Hélice Fapemig contemplará qualquer proteção (patente), em qualquer área de conhecimento ou setor econômico. Minas se destaca nas áreas de ciências biomédicas e biotecnologia.
PRODUTOS AGUARDANDO PARCEIROS COMERCIAIS
Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais (Cefet-MG)
>> Óculos para auxiliar na locomoção de deficientes visuais
Inventores: João Pedro Polito Braga e Ronald de Aguiar Modesto
Orientadora: Gabriella Castro Barbosa Costa Dalpra
O projeto foi desenvolvido por alunos do ensino médio. Trata-se de óculos de baixo custo com dispositivos eletroeletrônicos acoplados, que sinalizam os objetos na altura do indivíduo e que estão em seu entorno. Segundo a coordenadora Gabriella Dalpra, os deficientes visuais têm na bengala a proteção até certa altura do corpo (joelhos e cintura). Os óculos permitem o desvio de objetos e instalações aéreas que atingem principalmente a região da cabeça. A pesquisa levou dois anos para resultar no produto, que aguarda patente.
“Os alertas relacionados à aproximação do usuário a outros objetos e pessoas são realizados a partir da emissão de sinais sonoros ou pela vibração dos óculos. Além de alertar, será possível fornecer ao usuário uma previsão do quão longe ele se encontra do objeto detectado, já que, à medida que o usuário se aproxima do objeto, o sinal emitido (seja ele sonoro ou vibracional) é intensificado.
>> Sistema de alerta para segurança de bebês
Inventor: Fernando Antônio Rodrigues Filho*, engenheiro mecânico
Segundo Fernando, a patente surgiu de uma demanda de um empresário, que o contatou sugerindo a criação de um produto para evitar esquecimento de crianças dentro de veículos. O inventor disse tratar-se de sensores que podem ser instalados no assento do carro, “como o alarme que é acionado quando a pessoa esquece o cinto de segurança”, explica. Foi pensada estratégia de sensores que diferenciem objetos inanimados de seres vivos (uma criança ou um animal, por exemplo). O tipo de sinal emitido é diferenciado e há uma conexão com aplicativo de telefone, visando promover socorro imediato e manter o conforto e sobrevivência da pessoa ou animal, até que seja resgatada.
O aplicativo é capaz de diferenciar se o carro se encontra em local fechado ou aberto. Caso esteja ao ar livre, a ignição é acionada e, imediatamente, o ar-condicionado. O proprietário do veículo cadastra um certo número de pessoas, geralmente parentes na sequência de maior proximidade, que são acionadas por meio de ligação de celular. O sistema computadorizado liga para os pais ou parentes mais próximos (seguindo a sequência escolhida) e, pelo waze, fornece a rota mais rápida de chegada ao local. A pesquisa demorou 24 meses e espera acolhida das montadoras de automóveis.
>> Segurança de veículos articulados
Inventor: Fernando Antônio Rodrigues Filho, engenheiro mecânico
O produto monitora a condição de tráfego do caminhão e, caso constate que esteja perdendo a estabilidade, atua na unidade de controle de potência e vetorização de toque de frenagem para promover a estabilidade do veículo. Se indicar que o motorista está fora do padrão de direção, por possível embriaguez ou direção perigosa, toma decisão preventiva, como avisar ao motorista que tem que estacionar e desligar o caminhão, ao mesmo tempo em que avisa ao responsável, o dono ou gerente de frota, qual ocorrência está promovendo e os riscos para a vida e a carga transportada.
* O engenheiro aguarda o patenteamento de sete produtos e lembra que, para pesquisar um produto o desafio é descobrir se a ideia é inédita e se existe aplicação comercial com potencial econômico.
Universidade Federal de Viçosa (UFV)
>> Vacina terapêutica na imunoterapia de leischmaniose visceral humana e/ou canina
A equipe, formada por pesquisadores de ICTs públicas de Minas Gerais, a UFV e a UFOP, tem como propósito buscar soluções para o problema da leishmaniose, “doença negligenciada pela indústria farmacêutica”, segundo explicam Juliana Lopes Rangel Fietto, coordenadora do projeto, e professor Gustavo Costa Bressan, do Departamento de Bioquímica e Biologia Molecular da UFV.
A tecnologia patenteada trata de proteínas da membrana externa do parasito causador da leishmaniose. Essas proteínas de superfície são fundamentais para a infecção de cães e do homem. “Estudamos por anos essas proteínas para desvendar a sua função e também conseguimos avançar no desenvolvimento de um composto vacinal e de um kit de diagnóstico da doença. São mais de 10 anos de muita pesquisa, realizada por diferentes pesquisadores, em colaboração com estudantes de graduação e pós-graduação”, pontuam.
De acordo com os pesquisadores o kit de diagnóstico é capaz de detectar, inclusive, indivíduos assintomáticos em quase 100% das amostras positivas, obtidas a partir de centenas de cães provenientes de áreas endêmicas para a doença em Minas Gerais.
Universidade Federal de Lavras (UFLA)
>> Órtese de tornozelo utilizando impressora 3D
Inventor: Mohamed Ali Zorkot, estudante de engenharia mecânica
O projeto consiste em um dispositivo externo automatizado que auxilia na reabilitação dos movimentos que foram comprometidos pelo Acidente Vascular Encefálico (AVE), popularmente conhecido como derrame. O funcionamento está associado a um sensor, que é colocado no músculo saudável e transmite os pulsos elétricos para um equipamento que traduz o movimento e reproduz na órtese.