São Paulo – Poucos empresários podem dizer com autoridade que o mundo está apenas nos primórdios das transformações digitais quanto o americano Michael Dell. Fundador da Dell Technologies, uma das maiores fabricantes de computadores do mundo, ele esteve ontem em São Paulo para participar de um evento promovido pela empresa para marcar os 20 anos de sua atuação no Brasil. Embora tenha sido conciso – sua palestra durou exatos 14 minutos –, Michael deixou os ouvintes preocupados.
“Se você tem dados e não está usando inteligência artificial para tomar decisões melhores, você está errando, e vai ser difícil ser competitivo no futuro se você não usar esse poder”, disse ele. “Ainda estamos no começo da transformação digital”.
Michael fundou a Dell há 35 anos, quando carros autônomos e casas inteligentes não passavam de ficção científica. Foi em um mundo ainda pouco acostumado a grandes revoluções tecnológicas que nasceu a empresa, mais precisamente em um dormitório acanhado de uma faculdade no Texas, nos Estados Unidos.
Três décadas depois – e após centenas de milhões de computadores vendidos –, a tecnologia tornou realidade a comunicação entre as máquinas, o volume de dados em circulação exige das companhias equipes gigantescas para analisá-los e o advento de inovações como 5G, inteligência artificial e internet das coisas obrigou corporações tradicionais, de diversos setores, a se reinventarem.
“Hoje, mais do que nunca, nosso mundo está sendo transformado digitalmente”, disse Dell. “Vivemos uma nova era da computação. Um tsunami de dados, onde automóveis, casas e até roupas podem ser inteligentes e conectadas. Acredito que toda essa informação é uma força muito poderosa para o progresso humano”, disse o empreendedor, que defende a ideia de que a tecnologia trabalhe essencialmente a serviço da melhoria da qualidade de vida.
Segundo ele, a quantidade de dados e informações que temos hoje será pequena se comparada com a que teremos daqui a cinco ou 10 anos. Ou seja, a transformação digital vai virar do avesso o mundo dos negócios. Quem não acompanhar as mudanças, ou pelo menos tentar se manter em sintonia com as inovações, estará condenado ao desparecimento.
“Será muito difícil ser competitivo no futuro se a empresa não estiver usando as novas ferramentas da tecnologia”, disse ele. Apesar do tom desafiador, Dell se mostrou otimista no fim de sua apresentação. “Os próximos 35 anos serão ainda melhores. A jornada digital está só começando. Não poderia estar mais animado com o futuro”.
O problema, diz o fundador da Dell, é o medo que as empresas têm para mudar, ou a pouca disposição para acompanhar o ritmo de transformações da sociedade. “As grandes empresas muitas vezes ficam frustradas, porque têm muita gente e muito capital, mas não conseguem se movimentar tão rapidamente como as startups”, disse o executivo. “Esse é o lado sombrio, descobrir como adaptar seus negócios em meio a transformações tão aceleradas”.
Dell também é o representante clássico do novo perfil do empresário do século 21. Não basta apenas ganhar dinheiro. É preciso, acima de tudo, tornar o mundo melhor. Fazem parte desse seleto grupo de empreendedores, pessoas como Bill Gates, fundador da Microsoft e maior filantropo do mundo, e Warren Buffett, investidor mais bem-sucedido da história e que tem destinado boa parte de sua fortuna para projetos sociais.
O fundador da Dell acha que a tecnologia é uma aliada fundamental para resolver os grandes problemas da humanidade. Ele citou saúde, educação e proeza como as questões que devem ser priorizadas pelas autoridades e pela elite econômica. “Com todos os dados que temos e tecnologias como 5G, inteligência artificial, deep learning e redes neurais, podemos hoje fazer mais do que já imaginamos”.
"Será muito difícil
ser competitivo
no futuro se a empresa não estiver usando as novas ferramentas
da tecnologia"
. Michael Dell,
fundador da Dell Technologies