São Paulo – Nos últimos dias, o noticiário político e econômico nacional foi alimentado por movimentos antagônicos. De um lado, turbulências políticas geradas nos bastidores do poder na capital federal. De outro, uma onda de investimentos bilionários por grandes empresas brasileiras e multinacionais, como a compra do Ibmec pela Yduqs (ex-Estácio), por R$ 1,9 bilhão, e a confirmação de investimento de R$ 3 bilhões pela gigante do e-commerce, Mercado Livre.
“O que se pode observar é um movimento de descolamento das empresas e da economia do ambiente político”, disse o economista André Zorato, da Fundação Getulio Vargas. “O mundo corporativo, os empresários e os investidores, sabendo do potencial da economia, seguem seus planos sem olhar para os lados.”
Isso é, de fato, o que parece ter feito a Yduqs, uma das maiores empresas de educação do Brasil. Com a transação, a companhia assume 10 instituições de ensino superior, reunidas sob a bandeira Wyden. Entre elas, a escola de negócios Ibmec, a rede Damásio Educacional, referência no setor jurídico, e a SJT MED, que oferece cursos preparatórios na área de medicina e saúde. A Adtalem tem hoje, 102 mil alunos, espalhados em 20 câmpus e mais de 180 polos de ensino a distância.
“Esse é um momento empolgante na nossa história, pois estamos nos associando a pessoas de altíssimo nível e, juntos, vamos embarcar em um projeto que é muito maior que a soma das partes”, diz Eduardo Parente, presidente da Yduqs. “Essa união vai transformar o ensino superior no Brasil.”
O negócio vai dar origem a um grupo educacional com 680 mil alunos e marcas fortes tanto em nível nacional quanto regional. A combinação de escala, tecnologia e qualidade será a marca da integração, segundo a empresa. A Yduqs tem, atualmente, uma operação de 576 mil alunos, cujo braço digital cresce mais de 20% ao ano.
No Mercado Livre, o investimento de R$ 3 bilhões será destinado, principalmente, a serviços financeiros e logística. “Abriremos mais centros de distribuição e buscaremos parcerias para reduzir ainda mais o prazo de entrega”, afirma o diretor da companhia no Brasil, Stelleo Tolda.
OTIMISMO
À medida que a concorrência com empresas como Amazon, Magazine Luiza e B2W vem aumentando, o Mercado Livre investe para defender sua participação de mercado em cerca de 33%, procurando fazer com que os clientes utilizem cada vez mais seus serviços de pagamento no dia a dia.
“Acreditamos firmemente no potencial de crescimento desse negócio. Por isso, é muito cedo para focar apenas na rentabilidade”, afirma Tolda, que conheceu o fundador do Mercado Livre, Marcos Galperin, na Universidade de Stanford, no fim dos anos 1990. Tolda lidera os negócios no Brasil desde o início, há 20 anos. Com sede em Buenos Aires, na Argentina, o Mercado Livre tem operações em 18 países e ações negociadas na bolsa de Nova York.
Desde o início do ano, apesar de alguns ciclos de incertezas, as empresas têm anunciado pesados investimentos. Na indústria automotiva há muitos exemplos. Recentemente, a Scania informou aportes de R$ 1,4 bilhão na fábrica de São Bernardo do Campo, no ABC paulista. Já a General Motors vai injetar R$ 10 bilhões nas fábricas paulistas. A Hyundai pretende investir R$ 125 milhões em Piracicaba, enquanto a Honda está desembolsando R$ 500 milhões nas fábricas de Manaus e interior de São Paulo. Os exemplos se repetem em diversas áreas. O Carrefour aposta no avanço do mercado de atacarejo e, por isso, decidiu investir R$ 2 bilhões no país.
“O empresariado acaba sendo mais otimista com a sua empresa do que com a situação do país, porque aposta em fatores que estão ligados às suas estratégias de negócio. Mesmo com a economia patinando, muitos acreditam que uma boa gestão pode minimizar os efeitos externos negativos”, afirma o economista Roque Pellizzaro Junior, presidente do SPC Brasil. “A liberação dos saques do FGTS pode impulsionar o consumo, que deve crescer com a chegada de datas comemorativas importantes, como Black Friday e Natal.”
CONFIANÇA
Um dos indicadores que endossam esse ambiente é o da confiança. Dados do Indicador de Confiança da Micro e Pequena Empresa, apurados pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil), revelam que sete em cada 10 (67%) micro e pequenos empresários estão confiantes com o cenário econômico para os próximos seis meses.
A razão que mais pesa para essa dose de ânimo é o fato de 40% concordarem com as medidas adotadas pelo governo. Outros 35% disseram não ter um motivo concreto. Em contrapartida, o número de pessimistas é de apenas 12%. Entre esses, o fator principal para o sentimento negativo está ligado às incertezas no campo político (49%). Além disso, tanto o desemprego quanto o aumento dos preços também são vistos como entrave para 38% dos pessimistas, enquanto 34% afirmaram discordar das decisões econômicas tomadas pelo governo.
Quando se observam as perspectivas para seus negócios, 76% dos micro e pequenos empresários mostraram-se confiantes em algum grau, contra 6% de pessimistas. Os otimistas atribuem essa reação ao período do ano ser favorável às vendas (29%). Já 28% mencionaram estar investindo no próprio negócio, o que deve favorecer melhores resultados e 28% justificaram uma boa gestão do negócio como desempenho acima do esperado. “Estamos vendo sinais de melhora, as micro e pequenas indústrias estão mais confiantes com os negócios, pois começam a ver resultados melhores", afirma Joseph Couri, presidente do Sindicato da Micro e Pequena Indústria (Simpi).