O dólar comercial emendou a terceira alta seguida e fechou o dia de ontem com valorização de 1,83%, a R$ 4,168 na venda, maior valor desde 17 de outubro (R$ 4,17). Na semana, a moeda acumulou avanço de 4,33%, na maior alta semanal em mais de um ano, desde 24 de agosto de 2018 (4,85%). O Ibovespa, principal índice da Bolsa brasileira, encerrou o dia em queda de 1,78%, aos 107.628,98 pontos. Na semana, a baixa acumulada foi de 0,52%.
O dia foi marcado pela soltura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, depois da decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre prisão em segunda instância. No exterior, o mercado viu incertezas sobre um acordo entre Estados Unidos e China. Declarações de autoridades dos EUA e da China geraram altas expectativas sobre o acordo comercial entre os países para reverter as tarifas sobre os produtos um do outro. Mas, autoridades da Casa Branca se opõem à revogação de tarifas sobre Pequim.
“Os ruídos políticos trazem uma certa cautela em semana marcada pelo leilão decepcionante do pré-sal”, disse Pablo Spyer, diretor da Mirae Assets à agência de notícias Reuters. “Diminuiu o ímpeto otimista da queda do dólar.” Ontem, a corretora H. Commcor afirmou em nota que “as reações no mercado tendem a ser negativas, tanto pela sensação de insegurança jurídica quanto pelo chamado 'risco Lula'”.
“Nesse último aspecto, deve-se expor primeiramente a potencial instabilidade política adicional que a esquerda (fortalecida) promete, tanto em atritos com a atual gestão (politicamente fraca) quanto em termos da disputa presidencial para 2022”, disse. “Queira ou não, se Lula puder concorrer acende um sinal amarelo. A não participação de estrangeiros no pré-sal serve de alerta já por causa de tudo que estamos vendo, falta de confiança, mesmo com risco país nos menores níveis da história”, comenta o operador Hideaki Iha, da corretora Fair.
O diretor-superintendente da Correparti, Jefferson Rugik, avalia que a decisão do STF põe mais pressão sobre a moeda por representar insegurança jurídica, fato que pode afastar o investidor estrangeiro do país. “Por enquanto, só vimos saída de fundos estrangeiros do mercado local”, diz o executivo. “As remessas de dividendos ao exterior costumam acontecer com maior intensidade a partir da segunda quinzena deste mês.”
Para o economista da Guide Investimentos, Homero Guizzo, o mercado local acompanha desde cedo, principalmente, a alta do dólar ante seus pares principais e divisas emergentes ligadas a commodities em meio a incertezas com um acordo comercial entre EUA e China.
Em relação à decisão do STF, Guizzo avalia que pode até ajudar o governo Bolsonaro, porque agora eles têm uma polarização clara, bem definida, que é útil para o clã político Bolsonaro. “Lula poderia ser um inimigo útil para o clã Bolsonaro. A direita conversa melhor entre ela quando aparece um fato desse”, afirma.
“A proximidade do final de semana, com esquerda se movimentando dada a chance de Lula ser solto, pode justificar certa cautela”, disse o operador Luis Felipe Laudisio dos Santos, da Renascença DTVM, em nota a clientes, no início dos negócios. Às 9h24, o dólar à vista subia 0,52%, a R$ 4,1143. O dólar futuro de dezembro estava em alta de 0,38%, em R$ 4,1180.