São Paulo – O comércio varejista está acostumado a criar datas comemorativas para despertar nas pessoas o desejo de consumir. Nos últimos anos, o Brasil entrou na onda e passou a adaptar tradições de outros países. Foi assim com a Black Friday, que desde os anos 1990 faz sucesso nos Estados Unidos e que foi importada pelos brasileiros em 2010. Agora, uma novidade começa a ganhar espaço no mercado brasileiro: o Dia dos solteiros.
Na China, a data 11/11 é conhecida como Dia dos Solteiros pelo fato de o numeral 1 ser associado às pessoas que vivem sozinhas. Para aproveitar a ocasião, o varejo tradicionalmente oferece grandes descontos. Segundo os empresários chineses, a data se tornou a mais importante para o comércio do país, movimentando bilhões de dólares.
Ontem, as vendas da Alibaba, principal varejista chinesa e inventora do Dia do Solteiro, superaram US$ 40 bilhões, ou 25% a mais do que no ano anterior. No primeiro minuto de início das vendas, foram negociados US$ 1 bilhão. Na primeira hora, US$ 12 bilhões. Para efeito de comparação, o Dia do Solteiro na China movimenta o dobro da Black Friday nos Estados Unidos.
“Os consumidores são muito suscetíveis às datas que oferecem promoções”, diz o consultor de marcas Ítalo Naori. “Não apenas pelos preços mais baixos, que obviamente são o principal chamariz, mas também pelo efeito psicológico: a pessoa que deixa de comprar tem a sensação que perdeu alguma coisa muito importante. Ela entra na onda apenas para não perdê-la, mesmo se não precisar de um determinado produto”.
O Dia do Solteiro foi criado nos anos 1980 nas universidades chinesas como uma brincadeira para fazer contraponto ao Dia dos Namorados. A ideia era celebrar a solteirice. Com o passar dos anos, o evento se tornou uma mania nacional até ser incorporado pela gigante Alibaba, em 2009.
Foi Jack Ma, o carismático fundador da Alibaba – e que estava acostumado a comemorar o Dia do Solteiro no período em que era estudante –, que teve a ideia de trazer a data para o comércio. A iniciativa pegou e passou a ser adotada por inúmeras empresas chinesas, embora a Alibaba continue sendo o principal motor do evento.
No Brasil, a Alibaba também é a maior responsável pela divulgação da data. A principal representante no país do Dia do Solteiro é a AliExpress, empresa do grupo e que atua no mercado brasileiro há 9 anos. Outras companhias, porém, também aproveitaram a data, como a americana Tiendamia e a chinesa Usegiraffe. Todos os negócios foram fechados por meio da plataforma de pagamentos Ebanx, fintech ligada ao grupo Alibaba.
Empresas com forte atuação no mercado brasileiro, como a Americanas.com, também decidiram investir na data. Ontem, a empresa anunciou a diminuição de preços de uma série de produtos e entregas grátis para diversas regiões do Brasil.
Se o Dia do Solteiro ainda deve demorar para pegar no Brasil, a Black Friday já está consolidada. Tanto é que as empresas apostam alto nos negócios gerados pela data. Na edição 2019, o Magazine Luiza fará o maior investimento de sua história em uma única campanha de marketing.
Na quinta-feira anterior ao evento, a rede vai colocar no ar um show ao vivo no canal Multishow, da TV paga. Ele será apresentado pelo global Luciano Huck e terá a participação de cantores, humoristas e influenciadores digitais. Nas suas duas horas de duração, serão apresentadas ofertas pontuais. Além disso, competições e brincadeiras entre os artistas presentes darão descontos em produtos do Magazine.
O curioso é que o Magazine Luiza diz ter se inspirado no Dia do Solteiro chinês para promover o show (na China, o Alibaba organiza grandes festas para comemorar a data). O Magazine tem planos ambiciosos para a Black Friday. A ideia é oferecer descontos de até 80% em um milhão de produtos.