Alvo de críticas quase diárias do governador Romeu Zema (Novo), a Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig) registrou prejuízo líquido de R$ 281 milhões no terceiro trimestre, mas no acumulado do ano soma um lucro de R$ 2,6 bilhões.
Em coletiva para analisar o balanço da companhia entre julho e setembro os diretores admitiram as limitações financeiras da companhia para investir em infraestrutura. No entanto, ressaltaram que gastos com melhorias nas instalações para atender os clientes (residências e empresas) estão sendo retomados e podem acelerar com o reaquecimento econômico no estado.
Nessa segunda-feira, o governador Romeu Zema voltou a lamentar em entrevistas e nas suas redes sociais a baixa capacidade de investimentos da Cemig. Segundo ele, a Cemig representa um entrave para o desenvolvimento econômico do estado, uma vez que precisa investir cerca de R$ 21 bilhões para atender às demandas da indústria mineira e da população.
“O Estado não tem esse recurso. A única saída é privatizar, ou ela vai continuar sendo uma empresa que não atende os cidadãos”, postou Zema em suas redes sociais. Na semana passada, o governador gravou um vídeo ao lado do presidente da Cemig, Cledorvino Belini, para falar que a empresa representa um obstáculo ao não atender empreendimentos do estado e citou exemplos de apagões que prejudicaram a indústria mineira.
Ao comentar as declarações de Zema, o diretor Financeiro em exercício e diretor de Participações da Cemig, Daniel Faria Costa, avaliou que a falta de investimentos da companhia nos últimos anos gerou uma defasagem significativa no estado. Ele explicou que a atual gestão trabalha para retomar os investimentos que ficaram paralisados ao longo dos últimos anos, mas que as demandas não podem ser todas atendidas em curto prazo.
“O que o governador tem feito, de maneira correta, é externar aquilo que muitas empresas e muitos clientes tem manifestado sobre problemas de infraestrutura com investimentos que não foram feitos no passado. Estamos trabalhando para recuperar o tempo perdido. Esses investimentos que estamos fazendo hoje vai produzir frutos ao longo do tempo, por isso ainda não chegamos ao nível que os clientes e as empresas estão esperando. Mas não vamos ser um entrave à medida que esses investimentos forem realizados”, avaliou Daniel Faria.
Perguntado sobre a opinião do governador, de que apenas a privatização da Cemig poderá resolver o problema de distribuição energética em Minas Gerais, o diretor da Cemig afirmou que a decisão sobre vender a empresa não é tratada pelos diretores, mas explicou que o montante citado por Zema, de R$ 21 bilhões, não trata apenas dos investimentos em infraestrutura, mas em outras despesas da companhia.
“A privatização é um assunto de competência do acionista controlador, o governador. Esta gestão está focada em dar maior eficiência à Cemig e maior capacidade de investimento em sua rede para fornecer o melhor serviço. O valor (citado por Zema) não trata só de obras em infraestrutura, mas traz valores destinados a melhorias tecnológicas da companhia e a renovação de concessões que estão por vencer até 2025”, disse Daniel Faria.
Ainda segundo o diretor financeiro, a privatização poderia aumentar os investimentos caso o novo dono tivesse disponibilidade financeira, mas as melhorias levariam tempo para sair do papel. “Depende muito de quem estaria no comando da companhia e quais recursos esse dono tem. Hoje trabalhamos com as disponibilidades. Se vier um investidor privado com bastante apetite e disponibilidade financeira certamente ele pode acelerar a injeção de recursos. Mas isso não muda os prazos necessários para colher os frutos de todo esse investimento”, explicou.
Lucro no ano
O resultado abaixo do esperado pelos diretores da Cemig no terceiro trimestre de 2019 se deu por causa de uma provisão de R$1,18 bilhão feita após a empresa perder ação na segunda instância em agosto relativa ao pagamento de contribuições previdenciárias sobre o pagamento de participação nos lucros entre 1999 e 2016.
O contingenciamento foi feito após decisão desfavorável do Tribunal Regional Federal da 1ª Região, que considerou que a Cemig não definiu claramente as regras para a distribuição dos valores, em processo movido pela Receita Federal. A estatal mineira vai recorrer da decisão.
“Tivemos uma situação específica, que não é recorrente, da provisão para contribuição previdenciária de anos passados. De maneira proativa a empresa fez um provisionamento que impactou o resultado neste trimestre. Mas o resultado do ano continua robusto”, analisou Daniel Faria.
Entre janeiro e setembro, a Cemig registrou um lucro acumulado de R$ 2,6 bilhões, o que representa um aumento de 276% em relação ao mesmo período do ano passado. A dívida líquida – R$ 13,6 bilhões – teve pouca alteração, com queda de 0,57% em relação a setembro de 2018.
Desconsiderando a derrota judicial que não era esperada pela diretoria da empresa, o lucro líquido da Cemig no terceiro trimestre foi de R$ 356 milhões. No balanço dos meses de julho, agosto e setembro, os diretores apontaram como destaque positivo o ganho resultante da alienação do controle da Light. Em julho, a Cemig reduziu sua participação na Light de 50% para 22,6%, após oferta pública de ações. O ganho de capital líquido de tributos decorrente dessa operação foi de mais de R$ 70 milhões.