Mais de mil pequenos e médios produtores de cafés considerados de qualidade sustentável receberão premiação de US$ 10 milhões na safra 2019 concedida pela Nespresso, marca de café em cápsulas e de máquinas e acessórios da multinacional suíça Nestlé. Os prêmios sofrerão apenas a variação cambial, indexada no momento de venda do produto. Os nomes dos produtores e as regras de distribuição da quantia entre eles ainda não foram divulgados. Dez desses produtores serão homenageados amanhã durante a Semana Internacional do Café (SIC), um dos maiores eventos do setor, que começa hoje no centro de convenções Expominas, em Belo Horizonte.
Os cafeicultores homenageados, e que integram o Programa Nespresso AAA de Qualidade Sustentável, participarão de uma mesa-redonda que discutirá a sustentabilidade no campo. Segundo a Associação Brasileira da Indústria do Café (Abic), o Brasil é o maior exportador e o segundo maior consumidor de café no mundo, respondendo por um terço da produção mundial. De acordo com a Associação Brasileira de Cafés Especiais (BSCA), Minas Gerais é o maior estado produtor do grão e concentra cerca de 50% da produção nacional. A colheita anual no estado é de 25 milhões de sacas de 400 municípios em quatro regiões produtoras.
Para o gerente global de Café Verde e Sustentabilidade da Nespresso, Paulo Barone, o reconhecimento aos produtores que investem de forma sustentável é necessário para a perenidade das lavouras de café. “O que nossos produtores conseguem atuando de maneira sustentável é mais eficiência e maior produtividade”, afirma. “Queremos valorizar as conquistas desses cafeicultores que amam a profissão, são apaixonados por café e trabalham diariamente para colher os grãos mais maduros, grandes e perfeitos, em harmonia com a natureza, protegendo as fontes de água e os animais da região”, diz.
Segundo a assessoria da Nespresso, esse tipo de premiação já havia sido feito antes, mas o valor não havia sido divulgado. O Progama Nespresso AAA de Qualidade Sustentável foi criado em 2003 em parceria com a ONG Rainforest Alliance e implementado no Brasil pela ONG Imaflora. No país, 1.200 propriedades são cadastradas. A marca de cafés participa do programa desde o início, estabelecendo parcerias com os produtores e oferecendo assessoria técnica e incentivos financeiros.
Todo o café brasileiro comprado pela Nespresso tem origem no programa. Os donos das lavouras são avaliados pela preservação da fauna e da flora nas propriedades, além das condições de trabalho. Na avaliação do vice-presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais (Faemg), Breno Mesquita, esse tipo de prêmio significa o reconhecimento de um trabalho bem-feito do produtor de café.
“É coroar um trabalho que não é fácil para o produtor que produz de sol a sol”, diz. Mesquita, que também é presidente da Comissão Nacional do Café da Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária do Brasil(CNA), afirma que a preocupação com a sustentabilidade é um diferencial para o produtor mineiro. “O Brasil é o único país que cumpre toda a legislação ambiental. Minas, como maior produtor se inclui nesse quadro”, diz.
Valor agregado Mesquita destaca que a SIC contará com outros prêmios relevantes, como o Coffe of the Year, que premia o melhor café do ano. Além disso, segundo o vice-presidente da Faemg, o evento fez um acordo com a marca Três Corações, que vai comprar e comercializar os cafés premiados nas rodadas de degustação. De acordo com Mesquita, o setor de cafés especiais será um dos destaques do evento. “Há alguns anos era um nicho. Hoje é uma tendência muito forte”, relata. Na avaliação do dirigente, investir nas linhas especiais é uma alternativa para o produtor, que passar a comercializar o produto com maior valor agregado.
A Semana Internacional do Café será realizada de hoje a sexta-feira no Expominas, de 11h às 20h. O evento ocorre desde 2013 em Belo Horizonte, com foco no desenvolvimento do setor e na divulgação dos produtos nacionais para compradores estrangeiros e brasileiros. Em 2018, o evento atraiu 20 mil pessoas nos três dias da feira e reuniu 160 expositores, com representantes de 78 países. No total, os negócios fechados no evento representaram R$ 42 milhões.
Para um dos realizadores do evento, Caio Alonso Fonte, a feira é uma oportunidade de conexões para o setor. “Um momento para enxergarmos desafios e nos prepararmos para o futuro: é onde o produtor, o empresário, o fornecedor vão ter respostas para os seus anseios, enxergar por quais trilhas o mercado vai seguir, propor novas ideias e reflexões”, afirma.
* Estagiário sob supervisão da subeditora Marta Vieira