Levantamento realizado pela B3, a Bolsa de Valores de São Paulo, mostra que já são 342.896 mulheres investindo em papéis e acompanhando o sobe e desce dos índices. Esse número é aproximadamente 22 vezes maior do que em 2002, quando apenas 15.030 mulheres operavam. Até outubro, as investidoras compunham 22,69% de todos os CPFs cadastrados na bolsa, a maioria delas entre 26 e 35 anos.
Só no Distrito Federal, em torno de 14 mil mulheres investem economias e rendimentos, que, ao todo, somam por volta de R$ 950 milhões aplicados. Uma dessas é Caroline Daher: era advogada quando foi incentivada pelo marido a aprender mais sobre day trade, modalidade de negociação cujo objetivo é a obtenção de lucro com a oscilação de preço, ao longo do dia, dos ativos financeiros.
“A relação com o dinheiro nos foi ensinada logo no início da vida. Sempre fazia tarefas domésticas em troca de estrelinhas coladas num painel, que no fim do mês viravam dinheiro”, relembra Caroline. Na época da faculdade, já fazia investimentos em renda fixa, porém, não tinha coragem de partir para a renda variável. “Tinha preconceito, achando que aquele mundo era masculino. Depois, comecei a estudar e me aprofundar. Fiz uma transição de carreira: me tornei investidora e day trader”.
Atualmente, ela trabalha em casa, de olhos grudados no notebook. Caroline, aliás, não quis guardar para si esse mundo que havia descoberto: criou, no ano passado, o projeto Mulher na bolsa, que incentiva mulheres a estudar para investir e operar na bolsa. A advogada Desyree Fernandes é uma “discípula” de Caroline. “Quis aprender a investir por mim mesma. Com muito estudo e pesquisa me deparei com o day trading.”
Para Elaine Fantini, que trabalha com marketing digital, “não existe empoderamento com dependência financeira.” Ao perceber que não havia mulheres com quem conversar sobre investimentos, criou o grupo Sovinas – Mulheres que Investem, no Facebook, que hoje já conta com mais de 3.500 operadoras. “Tive essa ideia com uma amiga. Queríamos criar um espaço em que elas pudessem se sentir confortáveis em perguntar qualquer coisa sobre investimentos.”
Ela acha o mercado de ações excessivamente masculino. “Muitas não se sentem à vontade de conversar com os assessores, pois falam de uma forma que elas não conseguem entender.” Segundo Elaine, os motivos que levaram as mulheres a ter baixa participação no mercado de ações tem a ver com os maridos, em pleno século 21, terem que “dar” autorização para elas trabalharem e também menores salários e pouco acesso ao estudo de temas econômicos. Para Eliane, tais fatores tornam as bolsas um ambiente “construído por homens, para homens”. “Se você não tem o controle do dinheiro, você fica presa a diversas situações que podem ser prejudiciais, como relacionamentos abusivos ou fracassados, em que a mulher fica dependente do marido financeiramente.”
Aireslene Rocha Santos foi a primeira analista de mercado no Rio de Janeiro. Entrou no circuito em 1976 e, hoje, é gestora de um clube de ações. “Fiz economia na faculdade e fui trabalhar em uma companhia de seguros, onde aprendi tudo”, recorda. Ela aconselha que as mulheres que queiram entrar no mundo da bolsa devem tomar iniciativa. “As portas estão sempre abertas para elas. É muito bonito, atraente. Temos que ter mulheres em bancos, corretoras de investimentos. É gratificante”.
* Estagiário sob supervisão de Fabio Grecchi