O pagamento da segunda parcela do 13º salário aos trabalhadores que se enquadram no regime da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), realizado na sexta-feira pelos empregadores, acelerou as vendas do fim de ano. Em diferentes pontos de Belo Horizonte, ontem, o movimento no comércio foi mais intenso às vésperas do Natal e do réveillon. Na Região Central da capital de Minas Gerais, várias lojas ficaram cheias e tiveram muito movimento. As compras variavam entre presentes de Natal e alimentos para as ceias. Nas lojas, pôde-se notar também a venda de roupas para a virada do ano.
A estimativa da Federação do Comércio de Minas Gerais (Fecomércio) é de que o pagamento da segunda parcela tenha injetado R$ 17,89 bilhões na economia mineira com o pagamento integral do benefício. O valor corresponde a 2,99% do Produto Interno Bruto (PIB) mineiro. Além disso, o montante previsto é 1,67% superior à estimativa de 2018, quando o esperado para o 13º era de R$ 17,6 bilhões. Com dinheiro no bolso, o belo-horizontino foi às compras.
No Shopping Del Rey, na Região Noroeste de BH, o movimento também foi maior ontem, seguindo a linha observada no Centro. Alguns clientes optaram até por antecipar as compras de material escolar. Cléia Adriana, agente de saúde, de 51 anos, detalhou o quanto impactou o 13º nas compras de fim de ano. “Ajudou muito. Peguei uma parte para ajudar o filho desempregado, e o restante foi para a compra do Papai Noel. E, olha, não sobrou nada. Melhora uns 50%, sem ele ficaria bem difícil”, disse, ao Estado de Minas. A agente de saúde comprou brinquedos com o benefício natalino.
Já o professor Luiz Henrique, de 33, explicou que a quantia deu segurança para as compras de fim de ano. “Neste ano, a destinação principal do 13º foi a quitação das dívidas, e isso dá segurança para essa época do ano. 90% foram mais para isso, mas entra também na conta a compra de ceia, itens para esse fim”, afirmou. O benefício do 13º salário foi criado há quase 60 anos, durante mandato do então presidente Jânio Quadros. O atual governo espera que somente o pagamento do vencimento natalino movimente mais de R$ 214 bilhões na economia do país em 2019.
Pesquisas
Pesquisa realizada no início deste mês pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC) e pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) em todo o país estima que 11,5 milhões de pessoas vão comprar os presentes apenas uma semana antes do Natal. O número corresponde a 9% de consumidores que têm a intenção de presentear alguém neste fim de ano.
Outro fator que tradicionalmente ajuda nas compras de fim de ano é a liberação de saques do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS). De acordo com levantamento da Fundação Getúlio Vargas (FGV), o ímpeto de compra para o Natal avançou para 65,5 pontos este ano sob o impulso da liberação de saques, maior patamar desde 2014, quando começou a recessão econômica. No Natal de 2018, o ímpeto de compra foi de 61,1 pontos.
A pesquisa mostra também que 18,2% dos entrevistados anteciparam as compras natalinas nas promoções da Black Friday, no fim de novembro deste ano. Há dois anos, esse percentual alcançava 33% dos ouvidos. “O resultado mostra que há uma melhora, mas ainda estamos abaixo da média. É um bom prognóstico que foi motivado pela liberação do FGTS, cujo efeito tende a ser passageiro. Os consumidores, principalmente de menor renda, ainda estão com nível de endividamento mais alto e cautelosos com relação aos próximos meses. Ainda é cedo para falar em melhora financeira para os consumidores em geral, mas há sinais positivos”, afirmou Viviane Seda, coordenadora da Sondagem do Consumidor no Instituto Brasileiro de Economia da FGV em nota.
''(O 13º salário) Ajudou muito. Peguei uma parte para ajudar o filho desempregado, e o restante foi para a compra do Papai Noel. E, olha, não sobrou nada. Melhora uns 50%, sem ele ficaria bem difícil''
Cléia Adriana, agente de saúde
Supermercados empatados com 2018
Neste fim de ano, quase metade (47%) dos empresários do ramo de supermercados estimam que o volume de vendas ficará no mesmo nível de 2018. Segundo sondagem divulgada sexta-feira pela Associação Brasileira de Supermercados (Abras), 37% dos gestores acreditam que as comemorações natalinas e de réveillon vão impulsionar o consumo. Para obter as respostas, a entidade aplicou um questionário online, que encaminhou a 92 redes supermercadistas de todas as regiões do Brasil. A Abras estima que, no período, as vendas aumentem 7,85%. Além dos empresários que acreditam em uma variação positiva do índice ou em um quadro de estagnação, há uma terceira parcela com menos otimismo. Ao todo, 16% acreditam que o desempenho será pior do que o do ano passado.
Entre os empresários que expressam confiança, a projeção de crescimento é de 12,3%, superando o resultado esperado pela Abras. A expectativa é que as vendas do item mais tradicional nas festas natalinas, o peru, apresentem aumento de 14%, o que representa mais 6,9 pontos percentuais em relação a 2018. Em nota, a associação complementa as informações do panorama de fechamento do ano para o setor.
“Dos supermercadistas entrevistados, 45% vão contratar mão de obra temporária, ante 33% em 2018, crescimento de 12 pontos percentuais, principalmente impulsionados pelo aumento no movimento nas lojas durante o final do ano e devido ao melhor desempenho do varejo em 2019”, diz a Abras.
As informações são da Agência Brasil. A perspectiva do setor é de que sejam geradas 30 mil vagas de emprego temporário nesse período de festas. A maioria das funções é de âmbito operacional, como de empacotador (43,5%), operador de caixa (37%) e repositor (35,9%).
Carne cara
Quanto ao mercado de carne bovina, o presidente da Abras, João Sanzovo Neto, afirma que o consumidor deve continuar pagando mais pelo produto.
“O próprio governo já se pronunciou dizendo que o preço estava defasado e, mesmo com uma eventual queda nas exportações à China, o preço da carne não deverá baixar”, destacou Sanzovo.
Ele recomenda que os clientes economizem nas festas de fim de ano adotando um cardápio com outros tipos de proteína, “como os suínos, as aves e peixes”.
Ainda segundo a pesquisa, espera-se que todos os produtos de proteína tenham incremento nas vendas. Encabeçam a lista peixes frescos (15%), bacalhau (14,2%) pernil (13,7%), frango (13,4%), carne bovina (12,9%), chester (12,8%), lombo (11,9%) e tender (11,3%).
Também com possível expansão no volume de vendas, o empresariado destaca panetone (13,9%), frutas nacionais da época (12,7%), frutas especiais importadas (11,8%), e frutas secas (11,7%).
No corredor das bebidas, os itens que devem ser mais procurados este ano do que em 2018 são cervejas (13,4%) e sucos (12,4%). Os vinhos nacionais aparecem em terceiro lugar (12,2%), ultrapassando os espumantes e frisantes (11,1%), os refrigerantes (11%) e os vinhos importados (10,1%).
De acordo com a Abras, a tendência é que todos os produtos fiquem 7,1% mais caros, na comparação com 2018.
Os itens que pesaram mais no carrinho foram: pernil (alta de 15,0%), lombo (13,9%), frango (10,8%), tender (9,1%), vinhos importados (9,1%), peru (9%), chester (8,8%), frutas especiais/importadas (8,6%), carne bovina (8,2%) e frutas secas (7,4%).